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Animação "O Touro Ferdinando" dá lição de tolerância

Dirigida por brasileiro, animação esteve entre os finalistas do Globo de Ouro de animação e deve ir para o Oscar

O Touro Ferdinando estreia nesta quinta-feira, 11, nos cinemas (20th Century Fox/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de janeiro de 2018 às 12h09.

Foi logo depois de Rio, de 2011. Em conversa com a cúpula da Fox, que lhe propunha novas parcerias com sua produtora Blue Sky, Carlos Saldanha falou do seu desejo de fazer um filme sobre um touro "diferente". Não pensava especificamente no personagem do livro cultuado de Munro Leaf, mas, quando viu, a Fox estava conversando com os familiares do escritor, que o autorizaram a fazer as mudanças necessárias. "Pois esse era o problema que eu via. O livro é fininho, em preto e branco, não me permitiria fazer um longa. Daria, no máximo, outro curta como o da Disney, nos anos 1930. Com a família e o estúdio me dando corda para criar, seria louco se não me lançasse nessa aventura", conta.

No intervalo, Saldanha fez Rio 2, o episódio 'live' de Rio, Eu Te Amo. Mas estava escrito que ele concluiria O Touro Ferdinando, como seu filme se chama no Brasil. Ferdinando esteve entre os finalistas do Globo de Ouro de animação. Perdeu para Viva - A Vida É Uma Festa, da Pixar, que estreou na semana passada. Com certeza, deve ir para o Oscar. O Touro Ferdinando estreia nesta quinta-feira, 11. Um touro gentil, mas que, de repente, é confundido com uma besta-fera e enviado para uma fazenda de treinamento de touros de briga. Contra a sua natureza, Ferdinando é preparado para participar de touradas. E tudo o que ele quer é voltar para casa, para sua dona.

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No ano passado - parece que foi há muito tempo -, Saldanha veio ao Brasil mostrar cenas da animação que ainda não concluíra. Deu algumas entrevistas. À reportagem, confessou que estava muito feliz. "Para mim, era natural fazer um filme como Rio, contando a história de Blu. Sou brasileiro, estava falando da minha cultura. Aqui, precisava me apropriar de outras culturas, e foi o que fiz. O livro de Munro Leaf, ao contrário do curta da Disney - disponível no YouTube -, é praticamente desconhecido no Brasil, o que me deu toda liberdade para criar."

Coincidência, ou não, Viva, que venceu o Globo de Ouro, tem raízes no culto dos mortos da cultura mexicana. Ferdinando é enraizado na cultura espanhola. Touradas, olé! "E eu quis fazer o filme bem hispânico. Viajei ao país, fiz pesquisas. A paleta (de cores) de Rio era natural para mim, mas eu tive de estabelecer o que seria a (paleta) de Ferdinando. Muito ocre, vermelho. Cores terrosas. E a história progride. Começa no campo, bucólica, com a relação de Ferdinando com a menina, sua dona. Aí ele vai para a cidade, e a feira é muito colorida. À medida que a trama progride, a multidão aumenta. Na cidade, na arena de touros. No Rio, a cidade já era personagem, com o Blu. Aqui, é essa multidão. Isso exige planejamento, muito trabalho. Não é coisa que se faça sozinho. Posso estabelecer conceitos, parâmetros, mas é um monte de gente trabalhando. E os personagens..."

Saldanha explica. "Você viu meu episódio para Rio, Eu Te Amo. Adorei fazer. Trabalhar com atores, live action. Quero até ampliar essa experiência, e acho que vai ser muito boa. Mas eu gosto de trabalhar com animais, contar histórias de bichos. Porque dá para exagerar em tudo. Nas cores, nas emoções. Foi o que fiz no Ferdinando."

O repórter não se furta a observar - o Ferdinando da Disney é muito gay. E o seu, Saldanha? "Acho que se pode fazer essa leitura, mas não era minha intenção, minha prioridade. Para mim, a história do Ferdinando remete a uma questão visceral - você tem de ser honesto com o que você é. Ferdinando é desse jeito, gentil, e vai mudar a vida de todo mundo ao redor dele. Acho que é uma verdade básica. Cada um de nós pode fazer a diferença, mas sendo fiel a si mesmo, à sua verdade."

Para dublar o personagem no original, Saldanha contou com a colaboração de John Cena. "Olhei para aquele cara e pensei comigo - ele tem força para me arrebentar. Mas o John me disse que era o Ferdinando e ia fazê-lo com todo carinho. Trabalhei também com o Peyton Manning, que faz El Guapo."

"Peyton não é muito conhecido aqui, no Brasil, mas é uma lenda nos Estados Unidos, um grande jogador de futebol americano que atuava como quarterback. O Peyton sempre teve tudo - boa-pinta, seguro de si, um líder no campo. E aí eu cheguei para ele e perguntei se nunca teve dúvida. Se nunca teve um momento de insegurança. Pois era isso que eu queria. Ele adorou fazer, se entregou, como o Johnny (Cena). E eu acho que o Ferdinando é isso. Nós somos o que somos, e o mundo será muito melhor se nos aceitarmos assim, com nossas diferenças." Foi exatamente o que disse Nick Jonas quando esteve na Comic Con para promover Jumanji. O ex-Jonas Brothers é o artista da canção Home, tema de O Touro Ferdinando.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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