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A vida como ela é: as influenciadoras agora mostram celulite nos posts

A jornalista Mônica Salgado teve recorde de engajamento com fotos com "cicatrizes, marcas, gordura localizada". Ela conta seu processo de autoaceitação

A jornalista e influenciadora Mônica Salgado: quase 20 mil curtidas nos posts de biquini (Instagram/Reprodução)

A jornalista e influenciadora Mônica Salgado: quase 20 mil curtidas nos posts de biquini (Instagram/Reprodução)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 26 de agosto de 2020 às 07h00.

Última atualização em 26 de agosto de 2020 às 08h35.

Pronto. Postei. Agora já era. Não vou des-postar. Minha mãe deve reclamar em 3, 2, 1 ("precisava posar de biquíni minúsculo?"). Meu marido provavelmente vai perguntar se, de novo, eu não estaria me expondo demais nas redes sociais. Alguém vai vir causar alegando que eu sou privilegiada e já fiz plástica (o correto seria acrescentar um "s", de plásticaS - que fiz e nunca escondi), portanto minha insegurança não é legítima. Mas... pera. Trezentos comentários em minutos? Quinhentos, mil, perto de dois mil comentários - 99,99% positivos e encorajadores -, milhares de compartilhamentos e quase 20 mil curtidas?

Levando-se em conta os meus 390.000 seguidores, é algo expressivo. Sobretudo porque não sou eu pleníssima diante do Ritz de Paris, nem com as águas cristalinas das Maldivas de cenário, muito menos usando os últimos lançamentos da cruise da Dior. Sou eu na sala de casa, sem filtro, nem luz adequada, celular no timer, numa pose que não me beneficia e usando um biquíni que é claramente insuficiente pra cobrir as curvas extras que a quarentena trouxe. Mais: uma foto com legendas destacando cicatrizes, marcas, celulites, gordura localizada e até tatuagem infeliz (feliz?) feita na mão (sério, Mônica? Na mão?) aos 18 anos.

A influenciadora e jornalista Mônica Salgado

Close: Salgado apontou o que seriam as imperfeições do rosto (Instagram)

Ainda assim... meu recorde de engajamento. Quanta coisa valiosa dá pra tirar desse episódio! Primeiro: as pessoas estão exaustas de se sentirem rebaixadas/inferiores/não suficientemente boas nas redes sociais. Segundo: ninguém aguenta mais clichês de perfeição - nem no Insta, nem na vida -, feeds organizados (sendo que o dia-a-dia está um caos) e corpos sarados que você só não tem porque não tem força de vontade nem disciplina (bocejos). Terceiro: o mundo clama por conteúdos mais possíveis, vida real, atingíveis. Quarto: estamos todos querendo cancelar a positividade tóxica!

Pois bem, positividade tóxica, essa vilã. A que prega a obrigatoriedade de sermos (e mostrar que somos) felizes e perfeitos e referências na nossa área o tempo todo. E se não formos... ah, não tentamos o suficiente! Segundo reza a cartilha do capitalismo e de quase todas as coisas, se a gente se esforçou, a gente merece e a gente consegue. E páh! Todo o sucesso e todo o fracasso (inclusive o estético) ficam nas nossas costas, sob nossa responsabilidade. Fardo pesado. É de pirar qualquer um.

Outro dia li um estudo do birô de tendências WGSN que apontava a Aceitação Pessoal Radical como uma das tendências para 2022. Trata-se de uma libertadora aceitação emocional, uma resposta à busca incessante de autoaperfeiçoamento. É um desejo de deixar fluir emoções, percepções e sentimentos mais autênticos sobre nós mesmos. Não é sobre pessimismo ou resignação. Significa focar nosso tempo e energia (escassos, limitados) naquilo que realmente, naquele momento, vale a pena melhorarmos. A saúde? A performance profissional? A qualidade dos relacionamentos? Tudo ao mesmo tempo agora é desumano!

A influenciadroa e jornalista Mônica Salgado

Salgado: recorde de engajamento entre seus 390.000 seguidores (Instagram/Reprodução)

Sim, é um paradoxo: buscar se aperfeiçoar ou se aceitar em paz? Por favor! Sem essa de uma coisa OU outra. Estamos na era da coexistência, da horizontalidade, de nos desorganizar para reorganizar. Estamos, em outras palavras, na era do uma coisa E outra. Tão bem-dosadas quanto possível.

Quando assumimos a coragem de ser quem a gente é, e não o que a gente acredita que deveria ser, faz-se a luz. A coragem vem - coragem de ser, de postar, de inspirar outros, de transbordar juntos sem medo de o post flopar, a mãe ralhar, o marido julgar. Num tempo em que câmera de celular em seflie (com muito filtro) virou espelho, o perigo é a gente se acostumar com uma visão irreal e idealizada de nós mesmos. O perigo é que os filtros externos reverberem nos internos. É por isso que é bom fazer e refazer a pergunta: quem somos nós sem filtros - ainda que com as obrigatórias máscaras?

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