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Gisele Bündchen completa 40 anos: "Beleza tem a ver com energia"

Ex-modelo comemora seu aniversário plantando árvores na Amazônia. Em entrevista, ela fala sobre a pandemia e diz que a moda precisa ser mais sustentável

 (Nino Muñoz/Divulgação)

(Nino Muñoz/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 19 de julho de 2020 às 05h30.

Última atualização em 19 de julho de 2020 às 12h45.

Gisele Bündchen está conseguindo uma proeza: ela começa a ficar mais conhecida pela atual luta em favor do ambiente do que pelo brilho nos desfiles de moda do passado. Desde antes de se aposentar como modelo, cinco anos atrás, ela tem se dedicado com afinco a campanhas em favor da sustentabilidade. Talvez dentro de algum tempo ninguém se lembre mais da famosa quebrada de quadril nas passarelas, imitada pelas jovens modelos mundo afora.

A super-modelo e uber-ativista, atualmente embaixadora da boa vontade da ONU, completa 40 anos nesta segunda-feira, 20 de julho. Ela vai comemorar a data simbólica de um jeito bastante particular: viabilizando o plantio de 40 mil árvores na Amazônia Legal. Para isso, conta inclusive com a ajuda do marido, o astro da NFL Tom Brady, a quem pediu "algumas árvores" de presente de aniversário.

O Instituto Socioambiental (ISA) e a Rede de Sementes do Xingu (ARSX), parceiros de longa data de Bündchen, ajudarão na missão. Os plantios serão realizados em novembro de 2021 por técnicos do ISA e serão feitos com uma mistura de sementes nativas, chamada de “muvuca”. Trata-se de uma técnica de semeadura direta em um solo bem preparado, composta por sementes que variam de acordo com o bioma de cada região e utilizada há milênios pelos indígenas e comunidades tradicionais do Xingu.

As árvores serão plantadas em áreas na região das bacias do Rio Xingu e Araguaia, onde 22.500 nascentes e cerca de 150 mil hectares de matas de beira de rio estão degradados. A ocasião também marca o lançamento da plataforma para doação “Viva Vida”, que convida as pessoas a plantar um futuro melhor.

Na semana passada, Bündchen falou à CASUAL.

O quanto o plantio dessas 40 mil árvores vai impactar o ambiente da região? Já tive algumas experiências com projetos de plantio de árvores, inclusive uma iniciativa própria chamada Projeto Água Limpa, que realizei com minha família na região onde nasci. Após um esforço gigantesco para fazer o projeto acontecer e ter encarando todos os percalços do caminho, conseguimos garantir o plantio de mais de 40 mil mudas que formaram um corredor ecológico de matas ciliares preservadas, permitindo que a natureza se regenerasse, animais voltassem a região e, o principal, melhorou a qualidade da água da cidade. Já este novo plantio de árvores em comemoração ao meu aniversário de 40 anos, será na região do Xingu, que sofreu muito ao longo dos anos com o desmatamento. A ideia utilizada pelo ISA para o plantio é através da semeadura direta no solo com uma diversidade de sementes nativas, técnica chamada de Muvuca e que pretende facilitar os processos de reflorestamentos. Além da restauração ambiental o plantio também gera renda para povos e comunidades tradicionais. Mas acima de tudo, o que eu desejo com esta ação é plantar uma semente de consciência. A natureza leva décadas para regenerar aquilo que é destruído em dias. É muito mais custoso e demorado recuperar do que preservar. Por isso, precisamos cuidar do que temos.

Estamos passando por uma crise econômica grave devido à pandemia do coronavírus. A sustentabilidade pode nos ajudar a passar por essa crise? Acredito que situações como a que estamos passando são sim um reflexo do desequilíbrio na forma como vivemos e coexistimos com a natureza. Não só por degradar nosso meio ambiente, mas por usarmos os recursos naturais de forma inconsciente. Não podemos continuar jogando lixo, poluindo os rios, mares, o ar, e achar que não vamos sofrer as consequências disso. Somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo produzindo algum tipo de impacto, então precisamos encontrar soluções mais sustentáveis de viver. E isso é um processo que leva tempo, temos um longo caminho pela frente, mas temos que começar imediatamente.

Sua participação em ações a favor da sustentabilidade ajuda a causa. Por outro lado, não é ruim que uma questão tão urgente dependa da exposição de celebridades? É estranho que uma questão tão fundamental quanto a preservação da natureza não tenha mais atenção. Isso deveria ser algo ensinado nas escolas. A natureza nos provê tudo o que precisamos para sobreviver, então temos que cuidar bem dela. Simples assim. E acredito que as próximas gerações já tenham uma outra noção de preservação. Mas como isso ainda não é consenso, é bom que pessoas com mais visibilidade, grupos de empresários, sociedade em geral, se manifestem pela preservação do meio ambiente, pois as consequências da destruição, do desmatamento e falta de sinergia com a terra, impactam a todos nós.

Como está a imagem do Brasil em relação à sustentabilidade no exterior? Acho que não é novidade dizer que a imagem não está nada boa. Realmente espero que as pressões econômicas ajudem a abrir a cabeça dos nossos governantes, já que os apelos da sociedade não têm tido muito impacto.

Existe previsão para a exibição do documentário Kiss the Ground, sobre a ameaça de desertificação do solo de regiões produtoras de alimentos, do qual você é produtora? Estou super animada com o lançamento do Kiss the Ground, pois ele é um documentário importante que traz informações preciosas para a sociedade. Ele estava previsto para ser lançado no festival de filmes de Tribeca, em abril, mas por conta da covid-19 o evento foi cancelado. Acredito que deva estar disponível em setembro ou outubro.

Durante muitos anos você trabalhou para marcas de moda, uma indústria considerada danosa ao meio ambiente. Se arrepende de algo? Faria diferente? A vida é um processo constante de aprendizado e acredito que não devemos julgar, mas sim aprender no caminho. Comecei a trabalhar aos 14 anos e não tinha como ter a consciência que tenho hoje. O fato de eu ter trabalhado nesta indústria me ensinou muito. E hoje, posso de alguma forma colaborar para trazer mais consciência para o segmento. No passado as coisas eram feitas de uma forma, mas agora são necessárias mudanças e a indústria da moda terá que se readaptar ao novo cenário e buscar alternativas mais sustentáveis.

40 anos é uma idade simbólica para as mulheres, devido à ditadura da beleza que ainda existe. Como está sendo para você esse aniversário? O tempo passa para todos. Não adianta, não temos como voltar atrás e sermos jovens novamente, mas podemos sim manter um espírito jovem. Sempre achei que a beleza tem muito a ver com sua energia, seu estado interior, e isso permanece mesmo com a idade. Para mim o mais importante é envelhecer com saúde para ter mais vitalidade e disposição para viver bem os próximos anos que virão. A chegada dos 40 me fez refletir sobre vários aspectos da minha vida e, principalmente, como quero viver meus próximos 40 anos. Hoje tenho a oportunidade de trabalhar nas coisas que acredito e me trazem alegria. O importante pra mim é deixar o mundo um lugar melhor.

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