Casual

A empresária que transformou a centenária Lupo em um império

Além das meias e das máscaras desenvolvidas na pandemia, a Lupo se voltou no ano passado para a moda casual e a esportiva, que adaptou-se bem à tendência de home office

Liliana Aufiero, presidente da Lupo (Leandro Fonseca/Exame)

Liliana Aufiero, presidente da Lupo (Leandro Fonseca/Exame)

JS

Julia Storch

Publicado em 20 de setembro de 2022 às 13h47.

Última atualização em 21 de setembro de 2022 às 11h49.

"Uma jovem de 101 anos", é como Liliana Aufiero, presidente da Lupo, define a empresa criada por seu avô, Henrique Lupo, em 1921. Há 36 anos na companhia, Aufiero foi responsável por alavancar a empresa e modernizar categorias de vestuário.

Formada em engenharia civil, Aufiero ingressou como CEO da empresa para alavancar os negócios da família. Seu currículo possui pioneirismos, ao estar entre as primeiras mulheres a se formarem no curso de engenharia na Universidade de São Paulo, no campus de São Carlos e ser a primeira mulher a assumir o cargo de presidência da empresa, em 1993.

"Fui convidada para trabalhar na Lupo como diretora comercial em 1986. Até então, na época eu estava morando em São Paulo, trabalhando como engenheira civil, que é minha área de formação. Quando aceitei o convite, mudei-me para Araraquara e passei por uma mudança desafiadora de carreira, com dificuldades amenizadas por ter sido muito bem acolhida por toda a equipe e tive muito apoio do meu tio, que na época era o presidente da Lupo", conta.

Em 1994, um ano após assumir o cargo de CEO, a empresária iniciou mudanças na marca ao inaugurar a primeira loja em um shopping center, ou "templo do consumo", como define o centro de vendas. Antes, a empresa vendia apenas para lojistas.

"Uma de nossas estratégias são as vendas para multimarcas, mais de 50% do nosso faturamento acontece através deste modelo. Dentro dos shoppings não era possível colocar nosso produto, pois não existiam multimarcas nos shoppings. Mas, [através destas lojas] colocamos o nome Lupo dentro dos shoppings, que são os templos do consumo", comenta sobre o ponto de venda inaugurado em 1994 no Shopping D, na zona norte de São Paulo.

A loja, que continua em funcionamento no local, é um dos marcos da Lupo, que hoje conta com 818 pontos de venda, incluindo as marcas proprietárias Scala e Trifil.

Os 29 anos à frente da empresa também foram marcados por lançamentos de outras marcas, como Lupo Sport.

Além das meias e das máscaras desenvolvidas na pandemia, a Lupo se voltou no ano passado para a moda casual e a esportiva, que adaptou-se bem à tendência de home office. "Nós deixamos de chamar a Lupo Sport de um item. Agora é uma marca. As nossas lojas Lupo Sport terão o logo alterado para ficar mais claro que é uma marca", diz a herdeira.

Para o crescimento da nova marca, a empresa inaugurou em abril uma fábrica no Ceará. "No ano passado, nós tomamos a decisão de ir para o Ceará. A realização é algo que depende de tanto documento, de tanta escritura, de tanta aprovação, que ela se consubstanciou só neste ano. A nossa ideia é crescer na unidade de corte e costura, que é uma unidade que depende de muita mão de obra e os incentivos fiscais de lá favorecem", explica.

Com a mudança, a unidade fabril de Araraquara será utilizada no crescimento da Lupo Sport. "A execução da meta está bem embasada, me deixou muito feliz".

Já para os demais itens e marcas, o crescimento é orgânico. "Então temos de abastecer a fábrica das máquinas que produzem esses tipos de produtos. Todos eles estão crescendo e a grande satisfação é que nós nascemos fabricando meias, e as meias continuam crescendo todos os meses. Então isso é uma grande satisfação também".

Para além das peças, outro dado da Lupo é relevante: o quadro de funcionários é composto de 82% de mulheres. No início, há 101 anos, as meias, elas eram bordadas a mão. "As meias masculinas, chamadas de baguete, tinham na lateral bordados feitos a mão. Na época, a Lupo procurava mulheres para bordar, pois era um trabalho mais adaptado às mulheres. E foi uma revolução econômica naturalmente. Não tinha uma bandeira para isso, mas as mulheres se sentiram mais poderosas. Elas tinham salários, podiam competir com o marido, podiam tocar a casa sozinhas. Eu acho que [a Lupo] colaborou muito a evolução da mulher no trabalho", comenta.

"Acredito que o segredo para conduzir a empresa, e que está no DNA da Lupo desde o início das atividades, é o cuidado com as pessoas, dar o nosso melhor a cada dia. Foi sempre com isso em mente que nós fomos superando cada momento desafiador, e com essa missão nós sempre conseguimos superar quaisquer obstáculos", finaliza a herdeira.

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