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7 álbuns para conhecer Bob Dylan

Os discos que criaram as bases para a lenda e os que deram sustentação à mítica carreira do compositor norte-americano

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2012 às 10h27.

São Paulo - “Sou um cara que canta e dança”. Define um Bob Dylan irônico frente um bando de apetitosos jornalistas. Cigarro aceso entre os dedos e rosto que entregava o sono em atraso e o grande impulso por anfetaminas e maconha. Era 1965, auge de sua egotrip psicodélica e dos conflitos com os puristas do folk que blasfemavam contra sua guitarra plugada. Essa, aliás, era questão de honra e ele não abriria mão.

Fenômeno cultural ainda maior que suas quase 500 composições, Dylan segue na estrada. “Never Ending Tour” é o nome popular dado ao interminável agendamento de apresentações iniciado em 1988. Só não se sabe ao certo qual Dylan desembarcou por aqui. E mesmo a persona encontrada vestida em gorro, jaqueta e bota de cowboy caminhando pelas ruas de Copacabana sob um calor indecente pode ser o que bem entender em um só dia.

Pai de família, pregador católico, judeu renascido, guardião da música folk, defensor dos direitos civis ou roqueiro junkie. É como se de um momento para outro incorporasse a amada que tem tudo e não olha para trás, personagem que ganhou vida no álbum Bringing It All Back Home.

A pedra, como vaticinou décadas atrás, continua rolando. São quatro discos de inéditas lançados nos anos 2000 e a publicação da primeira parte de suas Crônicas, peça autobiográfica que não se sabe se um dia terá realmente sequência. Sem megaproduções, sem turnê de despedida, mas com o nome intacto, apesar dos deslizes na extensa discografia. Os pontos mais altos você confere nas próximas linhas.

The Freewheelin’ Bob Dylan (1963) - Um fã do movimento beat, de Hank Williams, Little Richard e do rock and roll dos anos 50 leva a bela namorada Suze Rotolo para um passeio no gelado Village, em Nova York. Apesar de a capa sugerir tratados sobre amenidades diárias, foi o lado politizado do jovem músico que sobressaiu.


Contornos apocalípticos e inspiração de sobra em Woody Guthrie, herói cultuado por Dylan, são usados para ilustrar Guerra Fria e a luta pelos direitos civis. Surgem os hinos Blowin’ in the Wind, Masters of War e A Hard Rain’s A-Gonna Fall. E ainda sobra espaço para a balada Girl From The North Country. Inesquecível.

Bringing It All Back Home (1965) - Sabe-se lá qual foi o peso da invasão britânica no mercado fonográfico norte-americano para que Dylan decidisse por eletrificar seu som. Mas que ele trouxe o rock de volta para onde nasceu, não resta dúvidas. O pé na porta está no Lado A, dono de uma das mais competentes trincas da história (Subterranean Homesick Blues, She Belongs to Me e Maggie’s Farm) que chocou quem esperava mais do mesmo de um jovem com a cabeça em ebulição.

A verve folk-puro-sangue sobra para a segunda metade disco: Mr. Tambourine Man, Gates of Eden, It’s All Right Ma (I’m Only Bleeding) e It’s All Over Now, Baby Blue. São os últimos respiros do personagem solitário empunhando seu violão com a gaita apoiada no pescoço.

Highway 61 Revisited (1965) – O instante em que o baterista Bobby Gregg toca a baqueta contra a pele da caixa pode ser considerado o Big Bang para as bases do rock moderno. É também o sinal definitivo que aquele caipira desajeitado de Minnesota não existe mais. Like a Rolling Stone, desabafo inspirado de Dylan, nasceu de um conto trabalhado em forma de canção. O peso é tamanho na música pop que o crítico Greil Marcus decidiu tentar decifrar seus enigmas em um extenso livro.

O surrealismo que ganharia as páginas de Tarantula, romance publicado pelo cantor pouco depois, já estava muito bem delineado em Ballad of a Thin Man. Sobram ironias na faixa-título (onde nem a Bíblia escapa) e em Queen Jane Approximately. Os 11 minutos de Desolation Row passeiam por cenários pantanosos, pelo sarcasmo e sugerem os mais distintos personagens. Nem Robin Hood, Cinderela ou o Corcunda de Notre Dame escapam da metralhadora do músico que não sabia mais a direção de casa.

Blonde on Blonde (1966) – Dylan queria todo mundo chapado. Talvez para não se sentir sozinho. Era período de ingestão de doses desregradas de anfetaminas para aguentar o tranco da vida de rockstar. O inspiradíssimo álbum duplo fecha, mesmo que não intencionalmente, uma trilogia iniciada com Bringing It All Back Home, no ano anterior.


Gravado com os Hawks (que mudariam o nome para The Band), em Nashville, Blonde On Blonde traz uma sucessão de canções obrigatórias para entender melhor o mito. Os mais fanáticos veem em Visions of Johanna qualidades suficientes para que o compositor recebesse um Nobel de Literatura. E quem defende Chico Buarque como legítimo tradutor do universo feminino deve repensar ao ouvir Just Like A Woman.

Blood On The Tracks (1975) – “Every thing about you is bringing me misery”. Para muitos, o verso de Buckets Of Rain simplifica a tormenta vivida pelo compositor após o rompimento com a ex-mulher Sara. Como quase tudo o que envolve o universo de Dylan, ao menos duas versões são apresentadas. A do autor é menos direta: as letras surgiriam como reflexo da leitura de contos de Tchekhov.

Os motivos que o levaram a escrever esse punhado de pérolas são infinitamente menores que o resultado. A audição do disco dá a ideia de que um anzol rasgou de um lado a outro o coração do cantor. Tangled Up In Blue, Simple Twist Of Fate, Idiot Wind e If You See Her, Say Hello são bons exemplos da ausência total de limites para o fundo do poço. Tido por muitos como a obra-prima suprema.

Time Out Of Mind (1997) – Após atravessar uma década inteira perdido entre a pregação religiosa pouco efetiva embalada em sonoridades dispensáveis, os sopros de boas novas vieram com álbum World Gone Wrong, em 1993. Mas é em Time Out Of Mind que a boa forma volta definitivamente.

Sabedor dos novos limites de surrada voz, Dylan vai fundo no blues e no country. Standing In The Doorway e Tryin’To Get To Heaven pavimentam o caminho para Cold Irons Bound, que lhe daria o surpreendente Grammy por Melhor Interpretação Masculina. Os tempos estavam realmente mudando.

Modern Times (2006) – A fusão de blues e rockabilly com as raízes clássicas da canção norte-americana continuam. O belo arranjo de guitarra em Spirit On The Water e a leveza de Beyond The Horizon as colocam entre as pérolas do cancioneiro romântico do (velho) poeta. Workingman’s Blues #2 surge para dar vida ao meio-campo do disco, enquanto ninguém menos que a atriz Scarlet Johanson empresta sua incofundível beleza ao clipe de When The Deal Goes Down.

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