Vinhos: confira as tendências que devem dominar o mercado esse ano. (Ben Hasty/Getty Images)
Daniel Salles
Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 11h54.
As medidas de isolamento social fizeram com que os brasileiros bebessem mais vinhos. Mais do que isso: somente entre 2019 e 2020, o mercado ganhou 3 milhões de novos consumidores regulares – aqueles que declaram consumir vinho ao menos uma vez por mês.
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O crescimento dos novos adeptos ao vinho no Brasil tem sido exponencial. Em 2010, os consumidores regulares somavam 22,4 milhões de pessoas. Uma década depois, esse universo quase dobrou, totalizando 39 milhões de consumidores de acordo com a última pesquisa Vinitrac de outubro deste ano.
Cabe ressaltar que são os consumidores acima dos 35 anos que vem puxando este crescimento – em 2017 representavam 53% dos bebedores regulares de vinho e em 2020 já somam 59%. Se por um lado existe a vantagem de trabalhar um público que tem mais renda, por outro há o desafio de atrair jovens consumidores para o mundo do vinho.
Ao analisar o volume, somente entre janeiro e setembro de 2020, foram comercializados mais de 200 milhões de litros – um recorde para o período, com o aumento de 28% em relação ao ano anterior. Apesar do crescimento, o consumo per capita no Brasil segue baixo, ocupando a 74ª posição no ranking mundial.
Há ainda muito terreno para crescer. Além dos 39 milhões de consumidores regulares, existem outros 44 milhões de brasileiros que bebem vinho mas sem a desejada frequência mensal. Estes dois grupos combinados compõem apenas 40% da população brasileira.
Vinho como companhia
Trancafiados em casa, sem poder gastar em viagens, lazer, bares e restaurantes, os brasileiros passaram gastar mais com os vinhos. Acostumados a beber em encontros sociais ou durante jantares especiais, os consumidores descobriram que uma taça de vinho pode ser uma ótima companhia numa tarde em casa, num almoço convencional ou até mesmo lendo um bom livro.
Curiosos, os brasileiros se dizem abertos a experimentar novas uvas, países e produtores: para ser mais preciso, 70% deles. Entre os americanos, chineses e ingleses, por exemplo, essa disposição cai para 51%, 47% e 43%, respectivamente. O brasileiro segue em modo de descoberta.
Os níveis de envolvimento com o vinho, principalmente entre a população de maior renda e com idade superior a 35 anos, também vêm aumentado significativamente nos últimos anos. Entre aqueles que já consumiam vinhos finos, percebe-se aumento no ticket médio por garrafa. “O consumidor está bebendo mais e melhor”, afirma um produtor nacional. Isso foi captado, principalmente, nos supermercados – canal beneficiado para compra dos brasileiros especialmente durante a pandemia.
Internet
Apesar do confinamento, os canais digitais seguiram estáveis, sendo utilizados por 30% dos consumidores regulares. Uma das possíveis explicações para essa estabilidade (e não aumento, como imaginado) é sobre o perfil dos 3 milhões de novos consumidores. Como novos entrantes, ainda não se sentem maduros para explorar a compra online.
O fato é que a maturidade e a penetração do e-commerce de vinhos no país é fenomenal. O Brasil já é o terceiro maior mercado do mundo, em número absoluto, de consumidores de vinhos online. São mais de 10,6 milhões, atrás apenas dos EUA (19,3 milhões) e da China (27,3 milhões).
Destaques
O destaque positivo de 2020 fica para os produtores nacionais. A alta do dólar (cerca de 40% em 2020), a maior proximidade dos pontos de venda e um consumidor aparentemente menos avesso ao produto nacional, contribuíram para o bom desempenho do setor.
Entre os importados, as atenções ficaram focadas nos portugueses. Investimentos setoriais se provaram eficientes. Com um ritmo médio de crescimento de 17% no primeiro semestre de 2020, espera-se que Portugal ultrapasse 2 milhões de caixas importadas ao Brasil no final do ano. O nível de conhecimento dos produtos lusitanos só perde para os brasileiros, líder de mercado com 73% do market share, em volume.
Desafios
Apesar de grandes avanços do mercado, os desafios não são menores.
Como migrar os consumidores de vinhos de mesa (produzidos em grande escala, a preços baixos), para os vinhos finos (considerados caros e sofisticados pelo público em geral)? Como fazer com que os novos entrantes consumam com mais frequência? O que desejam os novos bebedores regulares de vinhos e como podemos atrair os mais jovens? Até quando enfrentaremos a pandemia e como isso afetará os hábitos de consumo?
Com a chegada de 2021, celebra-se acima de tudo o início da vacinação contra a Covid-19. Será um ano de incertezas e muita prudência.
Rodrigo Lanari é fundador da Winext, empresa que assessora empresas do mercado de vinhos em projetos de comunicação e marketing