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Você conhece a tendência Quiet Thriving? Movimento mostra como ter sucesso de uma forma reservada

Esta tendência de “prosperar silenciosamente” ganhou força após a pandemia por estar atrelada ao propósito de vida, segundo especialista. Veja os riscos e benefícios da estratégia de muitos profissionais bem-sucedidos

Andrea Deis, especialista em neurociência: No Quiet Thriving os profissionais buscam por um trabalho mais significativo, mas de forma discreta e estratégica  (IndypendenZ/Thinkstock)

Andrea Deis, especialista em neurociência: No Quiet Thriving os profissionais buscam por um trabalho mais significativo, mas de forma discreta e estratégica (IndypendenZ/Thinkstock)

Publicado em 29 de outubro de 2023 às 11h29.

Última atualização em 29 de outubro de 2023 às 17h09.

Uma nova tendência de mercado está chegando, mas de uma forma mais discreta, dando jus ao nome que tem: Quiet Thriving.

O termo que pode ser traduzido como "prosperar silenciosamente" ou "crescer em silêncio", ganhou força após a pandemia, segundo Andrea Deis, especialista em carreira e neurociência há mais de 20 anos e professora autônoma da FGV, Mackenzie, FIA e Dom Cabral na área de gestão de pessoas, administração e negócios.

“O Quiet Thriving surgiu antes da pandemia devido a uma outra tendência, mas foi em 2022 que essa tendência se intensificou, porque resgatamos o significado e o valor da vida e do trabalho.”

A origem do Quiet Thriving

Os nossos comportamentos são frutos de uma sociedade constituída, mas antes ele vem de uma origem sócio-histórica por vários vieses que acontecem, afirma a especialista em neurociência e carreira, que traz como exemplo o viés da indústria.

“Passamos pela Indústria 1.0, que é da caça, a 2.0 com o impulsionamento da agricultura, a 3.0 com o avanço da indústria, a 4.0 com a informática e big data, a 5.0 com os serviços inteligentes e a inteligência artificial, e agora chegamos na 6.0 marcada por uma sociedade mais ética, inclusiva e sustentável por meio da inovação — toda essa discussão sobre essa tendência vem dessa nova sociedade,” afirma Deis.

Uma pesquisa do Instituto Gallup de 2019, feita com 27 milhões de funcionários nos últimos 10 anos, mostrou que de 1 a cada 5 funcionários nos Estados Unidos, devido à cultura corporativa, entrou num processo do que eles chamaram de "Quiet Quitting", por conta de uma liderança ruim. Em 2022, o The Wall Street Journal citou essa pesquisa com esse número de pessoas que entraram em um processo de “demissão silenciosa”.

“Nesse movimento a pessoa não necessariamente pedia demissão, ela simplesmente fazia o básico, porque estava desmotivada com a cultura, mas o talento estava ali, dentro dela,” afirma Deis.

Em resposta a esta demissão silenciosa, esse grupo, constituído principalmente por pessoas das gerações Millennial e Z, aposta de uma maneira reservada na própria carreira mesmo descontente com a cultura da empresa ou do gestor. Foi assim que surgiu o termo Quiet Thriving, citado pelo jornal The Washington Post em janeiro de 2023.

“A pessoa que está dentro do movimento Quiet Thriving não está desmotivada, ela só está desacreditada das formas como os processos acontecem, ela está descontente com a cultura e com a liderança. Esse ambiente não a impede de querer sucesso, mas a estimula a buscá-lo de uma forma mais discreta,” afirma a especialista em carreira.

O Quiet Thriving foi evidenciado a partir de 2019, mas se intensifica após a pandemia, segundo a especialista em neurociência.

“Tivemos uma grande ressignificação de valores individuais após a pandemia e teve esse reposicionamento do que realmente é importante ou não, tanto que ele surge fortemente depois de 2019 e se intensifica em 2022. É um olhar que não importar mais mostrar para o outro, é preciso estar bem consigo mesmo,” diz Deis.

O que buscam esses profissionais?

Uma outra pesquisa mundial, também feita pelo Instituto Gallup, mostrou quais eram as necessidades da geração X e Y. Entre os principais fatores, estavam:

  • Um emprego fixo com uma renda razoável
  • Oportunidade para aprender
  • Respeitar todos os funcionários

Entre os fatores, um novo requisito chamou a atenção e marca essa nova sociedade, e consequentemente o movimento de Quiet Thriving: eles querem um trabalho mais significativo. “O marco desta geração é ter um propósito, não é ter prestígio por vaidade, é ter uma causa,” afirma Deis.

O Quiet Thriving não quer brigar para ter o seu papel, ele trabalha na busca de um sucesso silencioso.

“Esse profissional buscar ter uma qualidade de vida organizacional independente da cultura que está impregnada no seu trabalho. Por não se sentir aceito, ele vai fazer de forma silenciosa. O processo é simples, a gente pensa, sente e faz, e sobre esse mundo que tenta nos sufocar, a gente tenta se silenciar — é uma tendência do próprio ser humano,” diz a neurocientista.

 Como alcançar o sucesso sem aparecer?

Hoje, principalmente com as redes sociais, a necessidade de aparecer ficou maior, mas para quem adota o Quiet Thriving o aparecer tem que ser de forma estratégica, afirma Deis.

“Ele vai fazer relacionamentos, vai procurar por pessoas que ele quer se relacionar, ele vai evidenciar os seus resultados via e-mail ou vai fazer associações mais políticas e estratégicas.”

As pessoas mais tímidas e introvertidas costumam se identificar com essa nova tendência, afinal acabam tendo mais dificuldades para se relacionar.

“A pessoa que segue o Quiet Thriving não é uma pessoa que necessita de holofotes, ele vive por uma causa, ela só quer ser lembrada pelo que ela faz. Tenho um cliente que é uma pessoa muito discreta, que cresceu na carreira e hoje é presidente de um grupo. Ele usou um processo inteligentíssimo e super estratégico,” diz Deis.

Ser uma pessoa pública não necessariamente você precisa de palanque, segundo a especialista, que afirma que é possível falar sobre as suas causas por meio dos exemplos, do que você é capaz de fazer. “Ele vai se tornar uma pessoa pública pela sua causa e resultados e não por vaidade, são caminhos diferentes.”

Quais são os riscos e benefícios dessa tendência?

O principal risco, segundo Deis, é como a escolha moral desse profissional mais discreto será percebida pelos colegas. Como as ações do profissional não serão evidenciadas de maneira tão evidente para os demais, o sucesso profissional do 'reservado' pode gerar um descontentamento ao redor.

“Uma coisa é que você não quer fazer mal a ninguém, mas você quer agir no silencioso, mas como o seu colega de trabalho vai perceber isso? Como você chegou até ali? Como isso não ficará evidenciado, pode ser que as pessoas te julguem como o amigo do chefe ou por ser conhecido por receber certos privilégios, porque as pessoas não vão ver tudo que você fez, mas vão ver o status em que você chegou”, diz Deis.

Sobre o principal benefício, a especialista em neurociência diz que o profissional tende a ser mais estratégico. “Você acaba tendo uma qualidade de observação e uma neutralidade maior para você conseguir chegar aonde quer, além disso você tem um estresse menor, porque o importante não é se evidenciar, é atingir o objetivo, logo o conflito não será com o outro, mas com você”, diz.

Essa tendência pode impactar no feedback?

O feedback pode ser considerado como um dos momentos mais esperados para quem segue a tendência do Quiet Thriving.

“É de frente com o líder ou chefe que esse funcionário deve mostrar todos os resultados. Esse é um dos momentos estratégicos que esse tipo de profissional espera, por ser uma conversa individual, direta com quem pode ajudar no crescimento da sua carreira”, diz Deis.

Para se sair bem nesta fase de avaliação, uma das sugestões da especialista, não apenas para os profissionais discretos, mas para todos, é apresentar um auto feedback para o gestor.

“É muito importante neste momento de retorno e avaliação apresentar um auto feedback, por exemplo, apresentando atividades em que você pode melhorar se tiver determinados suportes da empresa ou líder. O gestor certamente entenderá que você está em uma posição também estratégica e não só operacional. Isso é muito comum para os profissionais envolvidos com o Quiet Thriving, porque ele não quer mostrar para todos, ele mostra na hora certa, para as pessoas certas”, diz a especialista em carreira e neurociência.

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