Carreira

Uma questão de ética

Trabalhar numa empresa do porte da Enron ou numa consultoria de renome como a Arthur Andersen era, até bem pouco tempo, o sonho dourado de muitos profissionais. Hoje, após o escândalo que envolve o nome dessas duas gigantes de origem americana, já tem gente com medo de ser discriminada na hora de buscar uma oportunidade […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h33.

Trabalhar numa empresa do porte da Enron ou numa consultoria de renome como a Arthur Andersen era, até bem pouco tempo, o sonho dourado de muitos profissionais. Hoje, após o escândalo que envolve o nome dessas duas gigantes de origem americana, já tem gente com medo de ser discriminada na hora de buscar uma oportunidade de trabalho. Afinal, o escândalo envolvendo a Enron e a Arthur Andersen tem como pano de fundo a destruição de documentos comprometedores, jogadas políticas, uma dívida de 13 bilhões de dólares surgida do dia para a noite e um comportamento nada ético de seus principais executivos. Como o mercado olharia para um profissional vindo de uma dessas empresas?

A resposta é: com atenção redobrada. "Para a empresa que está contratando alguém para fazer parte de seu time, o que importa é saber como o profissional lida com seus princípios e se eles são compatíveis com os dela", afirma Vicky Bloch, sócia-diretora da DBM, consultoria especializada em outplacement e aconselhamento profissional. Isso quer dizer que a pessoa em questão terá de explicar detalhadamente toda a situação, qual era o seu papel na organização e que envolvimento teve nessa história toda. No fundo, vão querer saber se o profissional pactuou ou não com procedimentos antiéticos. O receio é tanto que um jovem brasileiro que fez MBA nos Estados Unidos há dois anos (e por razões óbvias prefere não se identificar) tirou do currículo a informação de que havia feito seu summer job na Enron, em Houston.

Apesar de as empresas avaliarem com mais cautela candidatos vindos dessas organizações, é pouco provável que elas simplesmente os discriminem em seus processos de seleção. "Há momentos na carreira em que você não tem controle da situação", diz a headhunter Iêda Novais, da M&A Intersearch. "O fato de você ter trabalhado numa dessas empresas não significa necessariamente que foi complacente com o que ocorreu por lá."

Uma coisa é certa: seja qual for a situação, ex-profissionais da Enron e da Arthur Andersen devem, a partir de agora, estar sempre preparados para responder a perguntas sobre o último emprego. "Tem de ser um discurso curto, objetivo e verídico", diz Iêda. Nessas horas, mentir ou omitir algum tipo de informação é a pior saída, pois o entrevistador certamente perceberá que há algo errado no ar.

O segredo é encarar o desafio, como fez o brasileiro Drey K. Dias, ex-consultor da Arthur Andersen nos Estados Unidos. Dias foi demitido no começo do mês de abril juntamente com outros 7000 funcionários. Estava havia pouco menos de um ano na empresa. "Comecei trabalhando numa das melhores consultorias do mundo e, de repente, tudo desmoronou", afirma. Dias só percebeu que o problema era mais grave com o indiciamento da Arthur Andersen na Justiça americana e com o pedido de demissão do presidente. "Só aí nós começamos a temer o pior e a compreender o que estava realmente acontecendo".

No mesmo dia em que foi demitido, Dias começou a fazer contatos e a ligar para amigos que poderiam ajudá-lo numa recolocação. Soube de uma vaga na Bloomberg, tradicional agência americana de notícias, em Nova York. Enviou o currículo e, como não obteve retorno, telefonou para a empresa. "Conversei com a pessoa responsável e ela disse que o currículo não tinha chegado", conta. "Enviei-o novamente e, meia hora depois, ela me chamou para conversar." Dias não escapou da inevitável pergunta sobre a Arthur Andersen e sobre o que achava de tudo aquilo. Em vez de tentar fugir do assunto, encarou-o. A estratégia deu certo. Dias passou a tarde por lá, fez um tour completo pelo escritório e foi contratado. Ele será responsável pelo atendimento dos clientes nos mercados português e brasileiro.

O sucesso de Drey K. Dias na busca de um novo emprego é emblemático. O fato de ter trabalhado na Arthur Andersen chamou a atenção do entrevistador, que quis saber detalhes, mas não impediu sua contratação. Na verdade, foi um ponto a seu favor, uma vez que a consultoria sempre teve como uma de suas principais características a contratação de gente altamente qualificada. A verdade é que o mercado está agitado por causa da disponibilidade de bons consultores. Os escritórios de headhunting já começam a receber pedidos para a contratação desses profissionais. É o típico momento em que muita gente que esperava enfrentar sérias dificuldades para se recolocar acaba deparando com grandes oportunidades profissionais.

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