The Town: O que o festival ensina sobre cultura organizacional?
Após um dia imersa nos bastidores do The Town, Heloisa Jardim, expert em liderança, cultura e bem-estar, traz uma reflexão sobre como o sucesso da Rock World pode chegar ao mundo corporativo
Diretora da Faculdade Exame
Publicado em 11 de setembro de 2023 às 15h14.
Após 5 dias de The Town, com muita música e cultura, os números são muitos: mais de meio milhão de pessoas passaram por lá, curtiram 230 horas de músicas em 6 palcos, com um impacto de cerca de R$1,7 bilhões na economia de São Paulo.
Mas o que faz um festival dessa magnitude ser tão bem-sucedido? Claro que não podemos esquecer o sucesso de seu irmão mais velho, o Rock in Rio, que já tem uma longa trajetória.
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No entanto, depois de um dia imersa nos bastidores disso tudo, pude ver de perto o que venho constatando há mais de 10 anos como pesquisadora por Harvard em Liderança, Cultura Organizacional e Bem-estar. Essa magnitude começa de dentro, com a cultura que é nutrida para criar um ambiente de bem-estar para as pessoas que fazem parte daquela organização.
Por onde tudo começa
Você já tem spoilers de que essa é uma cultura que gera bem-estar. A imersão iniciou com o CEO da empresa que faz o festival acontecer (a Rock World) apresentando não números e conquistas, como é bastante comum , mas sim pelo por quê da existência daquela organziação. Antes de pensar em planejamento, execução, atividades, papéis e responsabilidades, a Rock World cuidadosamente pensou sobre o seu porquê, usando a metologia do Golden Circle. Parece algo trivial, algo fácil de fazer, que se faz em uma reunião da alta liderança. Mas não é.
Quando a definição do propósito de uma organização é cuidadosamente desenvolvida, isso impacta diretamente o bem-estar daqueles que fazem parte do ecossistema da organização. Isso ocorre porque o Flourishing Index, uma medida de bem-estar desenvolvida pelo Harvard Flourishing Program , inclui significado e propósito como uma das necessidades universais das pessoas para se sentirem bem. Como seres humanos, precisamos sentir que o que estamos fazendo (como trabalho) tem um significado. Consequentemente, quando a empresa mede sua cultura com a pesquisa de clima, será possível ver uma relação direta com seus níveis de engajamento.
Ou seja, o que a Rock World demonstra é que aumentar o engajamento das pessoas começa por uma definição cuidadosa do porquê que a organização existe. Isso naturalmente irá atrair pessoas que se engajam naquele mesmo propósito.
Propósito não é só uma frase inspiradora na parede
Continuando nesta imersão de aprendizados com a Rock World, chegou a hora de um painel sobre construção de parcerias. Eu imaginava que seria uma daquelas conversas mais comerciais, com o time explicando sobre as diversas marcas presentes. Mas, mais uma vez, a Rock World se mostrou uma organização que atua de forma mais humana em seus negócios, ao iniciarem o painel dizendo: nossas parcerias não são só fazer propaganda. Queremos entender como as pessoas interagem com cada marca. Qual é a mensagem que a marca quer que o público sinta. É muito mais do que um logo estampado nas estruturas do festival.
Com dois parceiros presentes no painel (Heineken e Gerdau), ficou muito claro que essa forma de fazer parceria era real e genuína e que o resultado foram experiências marcantes para o público e as marcas.
O que o marketing do The Town ensina sobre liderança
Por último, a diretora de marketing contou como criaram uma marca do zero. Mais uma vez, foi possível observar como a Rock World pensa primeiro nas pessoas. Eles não veem os clientes como compradores, usuários ou até mesmo clientes. Eles são fãs. Ao olhar para os clientes como fãs, querem criar uma relação genuína e não apenas uma transação de venda de ingressos. Como fazem isso? A forma como se comunicam com esses fãs é, adivinhem, mais humana. A comunicação é pensada para gerar emoção, permitir a escuta (real) e criar oportunidades para os fãs falarem.
Através do seu marketing, fica muito claro uma das maiores lições que a Rock World nos traz: tudo começa pela escuta. O maior ativo que uma liderança pode desenvolver é a capacidade de escutar. Recentemente, a Deloitte divulgou uma pesquisa sobre bem-estar e ficou bastante claro o abismo entre líderes e equipes. Enquanto os líderes acreditam que o bem-estar das pessoas melhorou no último ano, as equipes têm uma percepção diferente bastante diferentes.
Após um dia de tantos aprendizados, a Rock World reforça na prática o que muitos estudos demonstram: cultivar uma cultura de bem-estar não é trade-off para performance. Cultura saudável favorece a performance e os resultados!