Quando usar onde ou aonde? Professor de português explica
Dando continuidade às crônicas metalinguísticas, o professor Diogo Arrais mostra a forma correta de usar os pronomes onde aonde
Redação Exame
Publicado em 29 de março de 2023 às 19h07.
Fazer referência apenas a lugar: uma orientação que vem há tempos. Vem há tempos, com a pretérita referência do haver, descolada da má companhia do “atrás”.
Cuidadosos jamais deixariam amigo “onde” distante da ideia de lugar. O problema, apesar disso, está em incomodar-se com as incorreções. E foi assim na vida de João, infelizmente.
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Onde ou aonde: entenda os usos com esta crônica
A melancolia iniciou-se quando ele, João, entrou em um táxi:
- Esta é uma situação aonde fico chateado. O senhor se atrasou demais! – vociferou o motorista.
João notara, de imediato, o pronome maldito, incorreto aos moldes do padrão. Pediu a palavra, mas o motorista foi rápido:
– Endereço? Rua do Cais?
– Do Cais e do caos. – afirmou João.
– Sim, seu João. Esta cidade é caótica, mas o senhor não disse a profissão onde o senhor gosta.
A paciência foi ao fim. João balançou os braços:
– Sou bancário e bibliófilo. Amante dos pronomes.
O motorista diz, sorrindo:
– Amante de quê?
João insiste:
– Dos pronomes, ué!
O taxista, demonstrando interesse, complementa:
– Ah, sim! Eu, tu, ele, vós...
Bastou aquela pitada gramatical, para João emocionar-se:
– Quer dizer, então, que o senhor admira os pronominais?
O diálogo escorre firme, enquanto o calor fluminense dá o tom ao papo:
– Sou fã deles. Lembro até aquele poema de Andrade sobre o “me dá um cigarro...”
– Que maravilha! O modernismo é algo fantástico! Admiro aqueles que se esbaldam na literatura. – quase assim versifica o passageiro bibliófilo.
– Estudei muito a nossa Língua, seu João. Estudei no Dom Pedro II. Recordo cada regra ali aplicada.
– Muito bem! Permite-me uma pergunta?
– Claro, seu João!
– Por que, diante de um saber tão apurado, o amigo usou, de forma tão deselegante, o pronome relativo nas duas sentenças iniciais deste educativo papo?
– De propósito, meu caro! Assim que verbalizei as sentenças, reconheci as afinidades e pude reconhecer que o senhor sofre do mesmo mal.
– Que mal?
– O vício gramatical.
Bem perto do endereço, aquelas almas abraçam-se. O motorista nega-se a cobrar e corrige-se, para a surpresa naquele dia tórrido:
– Este é o carro em que reconheço amigos de livros e de almas.
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DIOGO ARRAIS
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Professor de Língua Portuguesa