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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.
Uma das características marcantes de nossa época é a compressão do tempo. O celular e a internet, entre outras tecnologias que possibilitam comunicação instantânea, exercem um tremendo impacto sobre a gestão das empresas. Menos conhecidas são as conseqüências que acarretam para os profissionais. É o que a socióloga e psicóloga francesa Nicole Aubert investiga em Le Culte de L'Urgence ("O culto da urgência", Ed. Champs Flammarion, sem versão em português). Nicole aponta a alteração profunda da relação com o tempo -- induzida pela globalização e pelo funcionamento da economia em tempo real -- como um dos principais problemas da gestão em nossa época.
A mudança radical da cultura temporal instaurou o reino da urgência e do imediatismo. A nova relação com o tempo passou a ser alicerçada na aliança da lógica do retorno financeiro imediato com a instantaneidade dos novos meios de comunicação. Numa economia que funciona just in time, o executivo corre o risco de se tornar um indivíduo "em tempo real" do qual a empresa se esforça para comprimir cada vez mais o prazo de validade. Esse fenômeno comporta também uma dimensão interior. Pressionadas pela urgência, algumas pessoas tendem a fazer disso um estilo de vida ou uma espécie de droga para ter a impressão de existir intensamente. Segundo Nicole, profissionais permanentemente com pressa e focados no imediatismo têm uma identidade incerta e frágil. Em outros casos, o clima de pressão e urgência acaba levando à histeria, que corrói os relacionamentos. Tudo isso contribui para desenhar uma sociedade imediatista. Em tal cenário, a utopia do progresso é substituída pela mera consciência de medos e riscos compartilhados.
Com seu livro, Nicole pretende aplicar um choque de reflexão sobre a "violência do tempo" que subverte qualquer ritmo humano de reflexão e de tomada madura de decisões. Não oferece conselhos fáceis nem sataniza a questão. O livro aponta a impossibilidade de voltar atrás para corrigir erros como um dos males do fenômeno da compressão do tempo. Mas também acena com a possibilidade de efeitos positivos da urgência sobre a criatividade, a imaginação e a improvisação. O que falta na obra, porém, é uma indagação mais concreta sobre a responsabilidade conjunta dos executivos e das empresas sobre a espiral que acaba destruindo a própria noção de urgência. Afinal, quando tudo se torna urgente, nada mais é urgente. Sem essa observação, fica difícil iniciar um diagnóstico para o estabelecimento de limites que permitiriam a construção de um ambiente mais sadio para todos.