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Por que contratar profissionais da terceira idade pode ser um bom negócio?

Companhias oferecem desde cursos a oportunidades de vagas voltadas para profissionais 50+

Jefferson Mariano, do IBGE: Com a população envelhecendo, as empresas e organizações deverão estimular condições de permanência de profissionais mais experientes no mercado (Getty Images/Divulgação)

Publicado em 15 de julho de 2023 às 08h00.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 10h25.

A população brasileira envelheceu e com isso novos impactos serão sentidos no mercado de trabalho. Desde abril de 2021, o número de trabalhadores com 70 anos ou mais cresceu mais de 20% no Brasil. Neste cenário, um novo desafio surge no mercado de trabalho brasileiro: empresas tendem a criar mais oportunidades para profissionais da terceira idade.

“A participação da população idosa no total da população brasileira era de 11,3% em 2012 e chegou em 2022 a 15,1%, segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua)”, afirma Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.

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Não seria um problema ter profissionais mais velhos no mercado, se a população idosa permanecesse na força de trabalho, afirma o analista. Porém, dados do IBGE mostram que 38% do total de pessoas fora da força de trabalho (pessoas que não trabalham e não procuram emprego) era composta por pessoas idosas - por outro lado, pessoas entre 18 e 24 anos representavam 10,6%.

“Com a população envelhecendo, as empresas e organizações deverão estimular condições de permanência de profissionais mais experientes no mercado.”

Quais setores mais demandam profissionais com mais experiência?

Entre as áreas que mais mantém profissionais acima de 60 anos, Mariano afirma que estão os setores que ainda necessitam de profissionais com mais experiência:

“Selecionando no cadastro geral de empregados e desempregados, apenas trabalhadores com mais de 60 anos, é possível observar uma grande presença de profissionais ligados ao segmento deconstrução civil, agropecuária, medicina e serviços.”

A administração pública, especialmente em razão do ingresso ocorrer por meio de concurso público, também apresenta grande relevância no processo de contratação de pessoas com mais de 60 anos, diz Mariano.

Quais ações já existem no mercado de trabalho para profissionais da terceira idade?

Profissionais mais velhos agora tendem a prolongar a vida profissional, mas precisam se atualizar com as dinâmicas cada vez mais tecnológicas desta nova geração.

Além da tecnologia, esses profissionais ainda enfrentam o etarismo em muitas companhias. Uma pesquisa da empresa Ernst & Young e da agência Maturi, realizada com 200 empresas brasileiras, revelou que 78% das corporações consideram-se etaristas e ainda têm barreiras na hora de contratar trabalhadores com mais de 50 anos.

Mas algumas empresas já estão olhando os profissionais com outros olhos, valorizando a experiência que essas pessoas conquistaram com o tempo para trazer novas ideias para os seus negócios.

Maria José Alves, de 73 anos, participando da campanha “Nestlé Faz Bem Estar Junto” (Nestlé/Divulgação)

Em 2021, a Nestlé lançou a promoção corporativa “Nestlé Faz Bem Estar Junto” que ofereceu 600 vagas de emprego para profissionais acima de 60 anos. Os contratados tinham um contrato de trabalho por um mês, com salário compatível com o mercado, vale refeição, vale transporte e registro na carteira. Esses profissionais atuaram em diferentes pontos de vendas da Nestlé, como supermercados e lojas, espalhados em vários estados.

“Queremos cada vez mais ser uma companhia plural e incluir gerações é um ponto muito importante para a diversidade na companhia”, afirma Bia Reginato, diretora de RH de vendas da Nestlé Brasil.

A campanha teve tanto sucesso em 2022 que a empresa decidiu repetir neste ano. A partir do dia 18 de julho, a Nestlé iniciará a segunda edição com 500 funcionários acima de 60 anos atuando em diferentes pontos de vendas no Brasil.

“As pessoas performaram muito bem no ano passado, com um engajamento acima da média. E um ponto chave foi a conexão desses profissionais com o consumidor”, diz a diretora.

Como meta de diversidade, a empresa pretende admitir os profissionais que tiverem os melhores desempenhos na campanha em futuras oportunidades.

“Alguns profissionais 60+ preferem o emprego temporário, porque priorizam compromissos pessoais e família, mas para os que desejam continuar no mercado, estamos avaliando já no processo de seleção se eles querem ficar no nosso banco de talentos para concorrer a uma vaga efetiva”, afirma a diretora.

E há algo em comum nos profissionais da terceira idade que a empresa valoriza muito: a gratidão.

“É incrível como eles são gratos pelas oportunidades de emprego após 60 anos. Se sentem muito valorizados por poderem fazer a diferença. Valorizamos esse sentimento, que não apenas contagia, mas que certamente pode contribuir muito para o crescimento de qualquer companhia,” diz a diretora.

Ollivia Maria Gonçalves, 56 anos, coordenadora de marketing e comunicação da Môre (Môre Talents for Tech/Divulgação)

Trabalhos que envolvem tecnologia podem ser um dos maiores desafios para profissionais da terceira idade, afinal, são pessoas que não tiveram tanto contato com serviços e produtos digitais no início da carreira.

Mas a falta de mão de obra para o setor tecnológico mostra que conhecimento nesta área atinge os mais jovens também. Com esse cenário, a Môre Talents for Tech, empresa com foco em produtos e serviços digitais, vai realizar um curso gratuito em setembro sobre Product e UX Design para pessoas acima de 40 anos, com foco em transição de carreira.

“Podem parecer jovens, mas são profissionais que, a partir dos 40, como temos notado aqui na Môre, estão na fase final de ciclo de carreira clássica e buscando efetivamente uma transição de carreira e a migração para o mercado de produtos digitais. Quanto antes esta transição ocorrer, melhor. Mas é importante destacar que nós consideramos 40+, ou seja, 45, 50, 55, 60...”, afirma Leo Xavier, sócio-fundador da Môre.

Essa transição de carreira, pode ser encarado para muitos como uma atualização profissional para atender o mercado digital. Xavier afirma que há jornalistas, por exemplo, que podem se tornar “ux writers” muito bem-sucedidos. Assim como pesquisadores, cientistas sociais e antropólogos podem se tornar um “ux researchers”, e designers gráficos em designers digitais.

“Estes profissionais têm conhecimento, mas podem estar atuando em mercados em declínio ou com uma remuneração não tão robusta. Eles podem migrar para a área de produtos digitais e rapidamente ter uma aceleração de carreira e uma remuneração mais condizente com sua especialidade.”

Entre as metas de diversidade, a Môre faz um censo interno semestral para acompanhar esta evolução e dá bônus para quem indica: “Se a pessoa for contratada pela Môre Talents for Tech, quem a indicou recebe uma remuneração.”

Atualmente, 19% da equipe da Môre é formada por pessoas 40+ e a expectativa é de chegar a 21% ainda em 2023.

Gerson Luis Trindade Rigo, de 61 anos, operador de caixa do Fort Atacadista, em Chapecó, SC (Grupo Pereira/Divulgação)

Uma pesquisa da empresa Ernst & Young e da agência Maturi, realizada com 200 empresas brasileiras, revelou que 78% das corporações se consideram etaristas e ainda têm barreiras na hora de contratar trabalhadores com mais de 50 anos.

Para reforçar o combate ao etarismo, o Grupo Pereira, tem oferecido oportunidades para profissionais 50+ em suas mais de 100 lojas espalhadas em 7 estados. A campanha de recrutamento começou em maio deste ano e já conta com mais de 500 colaboradores acima de 50 anos.

Essa é uma das ações que reconheceu o Grupo com o selo internacional Certified Age Friendly Employer, do norte-americano Age Friendly Institute, que atesta boas práticas contra o etarismo.

“Empregar pessoas 50+ é uma oportunidade estratégica. Esse processo de inclusão torna a empresa mais diversa e consciente de seu papel por espelhar melhor nossa sociedade, que vem, ao mesmo tempo, tendo uma inversão na pirâmide etária devido, entre outros fatores, ao aumento da longevidade”, afirma Paulo Silva, diretor de Gente & Gestão do Grupo Pereira.

O diretor afirma que a primeira rodada de contratação voltada para os 50+ foi realizada neste ano e surpreendeu positivamente a empresa, e agora fará parte do calendário de ações: “Já estamos planejando as próximas iniciativas para esse público no próximo semestre. Com certeza, o número de profissionais 50+ no Grupo Pereira ainda vai crescer muito.”

A companhia conta hoje com mais de 17 mil colaboradores. Desses, mais de 12% estão acima dos 50 anos, ou seja, mais de 2.000 pessoas. “Todas as vagas disponíveis para trabalhar no Grupo Pereira também são voltadas para o público 50+. Desde o piso das lojas até os corredores administrativos e cargos gerenciais.”

O varejo é porta de entrada para milhares de pessoas no mercado de trabalho, seja como primeiro emprego ou para recolocação profissional. Diante dessa realidade de mercado, Silva reforça a importância dos trabalhadores mais experientes no setor.

“A parcela da população acima dos 50 anos tem se tornado cada vez maior, e muitos são os provedores de suas famílias, o que exige que eles continuem ativos no mercado de trabalho por mais tempo.”

“Para nós, profissionais da terceira idade é uma mão de obra que entrega, é produtiva e engajada, capaz de contribuir para a inovação nos negócios”, diz Silva.

Como combater o etarismo no mercado de trabalho?

A tecnologia chegou para todos, inclusive no ambiente de trabalho. A pesquisa “Design de futuros: internet na terceira idade” realizada pela consultoria Tuia, revelou que 60% dos entrevistados entre 60 e 92 anos foram introduzidos à internet através do seu trabalho, evoluindo no uso de aplicativos e dispositivos. O levantamento ouviu mais de 200 profissionais da terceira idade, de diversos perfis e regiões do Brasil.

“Se as empresas não dão oportunidades para os mais velhos continuarem no mercado, como eles irão se adaptar à novas tecnologias e softwares que são desenvolvidos diariamente?, diz Gilmar Gumier, fundador da Tuia.

Para combater o etarismo no mercado, o CEO da Tuia destaca algumas ações:

"Esses profissionais têm muito a agregar no mundo corporativo com as suas experiências de vida, proatividade e dedicação. As empresas precisam valorizá-los e criar ações para incluí-los no mercado de trabalho. Eles não podem ser uma classe excludente", diz Gumier.

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