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Os protestos sugerem que empresas também precisam mudar

Assim como há um distanciamento entre os governantes e os cidadãos, nas empresas há um hiato entre os altos executivos e os demais funcionários

Funcionários muitas vezes se sentem tão distantes dos líderes da empresa quanto dos governantes (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de agosto de 2013 às 18h39.

São Paulo - Muitos dos jovens brasileiros que tomaram as ruas um dia farão parte do mundo corporativo. O sentimento de ter um governo distante e que não escuta os anseios da sociedade parece ter unido manifestantes em todo o país. Dentro das empresas, as pessoas vivem uma situação não muito diferente.

Assim como há um distanciamento entre os governantes e os cidadãos, há um hiato expressivo entre os altos executivos e os demais funcionários nas empresas. Um grupo restrito de pessoas recebe remunerações astronômicas em comparação com os demais. De acordo com o ­Dieese, não apenas os homens tendem a receber 30% mais que as mulheres , mas a desigualdade entre o salário mais baixo e o mais alto da economia é da ordem de 1.700 vezes. Você não precisa ir longe para constatar essa discrepância.

Basta comparar a diferença entre o mais alto e o mais baixo salário de sua empresa. Os executivos tendem ainda a ter a seu dispor inúmeras vantagens. Bônus e opção por remuneração em ações, carros pagos pela empresa, viagens em classe executiva, cartão corporativo, políticas exclusivas de treinamento e de desenvolvimento.

A tendência das empresas é que políticas de recursos humanos diferenciadas servem apenas para os “potenciais” e a alta cúpula. Os demais "colaboradores" devem receber um pacote de benefícios mais limitado.

O processo decisório nas companhias costuma ser centralizado, e dele participam pouquíssimas pes­soas. Os demais são, muitas vezes, obrigados a executar decisões de que não participaram e até nas quais não acreditam. Tudo isso regado a um discurso empolado de envolvimento que geralmente está longe da realidade. As pessoas são tratadas apenas como mais um de seus recursos.

Seus sentimentos com relação ao negócio e ao trabalho são transformados em estatística — no mundo corporativo, muitas vezes os números das pesquisas de clima não correspondem ao cotidiano das pessoas. Dentro da maioria das empresas, vivemos uma realidade em que há mundos muito diferentes. Há uma distinção quase semelhante à que existe entre nobres e plebeus.

As manifestações recentes indicam que é preciso mudar internamente as corporações, antes que seja tarde demais. Cada vez menos tamanhas discrepâncias serão aceitas. Só mudaremos o Brasil quando mudarmos nossas empresas.

Rafael Alcadpan é professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV - EAESP)

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São Paulo - Muitos dos jovens brasileiros que tomaram as ruas um dia farão parte do mundo corporativo. O sentimento de ter um governo distante e que não escuta os anseios da sociedade parece ter unido manifestantes em todo o país. Dentro das empresas, as pessoas vivem uma situação não muito diferente.

Assim como há um distanciamento entre os governantes e os cidadãos, há um hiato expressivo entre os altos executivos e os demais funcionários nas empresas. Um grupo restrito de pessoas recebe remunerações astronômicas em comparação com os demais. De acordo com o ­Dieese, não apenas os homens tendem a receber 30% mais que as mulheres , mas a desigualdade entre o salário mais baixo e o mais alto da economia é da ordem de 1.700 vezes. Você não precisa ir longe para constatar essa discrepância.

Basta comparar a diferença entre o mais alto e o mais baixo salário de sua empresa. Os executivos tendem ainda a ter a seu dispor inúmeras vantagens. Bônus e opção por remuneração em ações, carros pagos pela empresa, viagens em classe executiva, cartão corporativo, políticas exclusivas de treinamento e de desenvolvimento.

A tendência das empresas é que políticas de recursos humanos diferenciadas servem apenas para os “potenciais” e a alta cúpula. Os demais "colaboradores" devem receber um pacote de benefícios mais limitado.

O processo decisório nas companhias costuma ser centralizado, e dele participam pouquíssimas pes­soas. Os demais são, muitas vezes, obrigados a executar decisões de que não participaram e até nas quais não acreditam. Tudo isso regado a um discurso empolado de envolvimento que geralmente está longe da realidade. As pessoas são tratadas apenas como mais um de seus recursos.

Seus sentimentos com relação ao negócio e ao trabalho são transformados em estatística — no mundo corporativo, muitas vezes os números das pesquisas de clima não correspondem ao cotidiano das pessoas. Dentro da maioria das empresas, vivemos uma realidade em que há mundos muito diferentes. Há uma distinção quase semelhante à que existe entre nobres e plebeus.

As manifestações recentes indicam que é preciso mudar internamente as corporações, antes que seja tarde demais. Cada vez menos tamanhas discrepâncias serão aceitas. Só mudaremos o Brasil quando mudarmos nossas empresas.

Rafael Alcadpan é professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV - EAESP)

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