(Hero Images/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 7 de outubro de 2019 às 15h00.
Última atualização em 22 de setembro de 2021 às 19h43.
Você sente (ou conhece alguém) que: sempre se defende dos feedbacks e entende tudo como crítica pessoal? Não consegue trabalhar em equipe porque acredita ser a única pessoa que sabe fazer direito? Está sempre tentando agradar aos outros, anulando as próprias vontades? Se pune constantemente por ter “falhado”? E, de tão acostumado a autocrítica, acaba vendo “defeitos” em tudo e em todos?
Essas características são comuns aos perfeccionistas e se antes esse termo era sinônimo de dedicação, agora transformou-se em um sinal de alerta, entenda:
Os pesquisadores Thomas Curran e Andrew Hill, das universidades de York St John e Bath, no Reino Unido, conduziram estudos de meta-análise com base nos índices de perfeccionismo registrados de 1989 a 2016 – a primeira pesquisa a comparar a tendência entre gerações. Eles identificaram aumentos significativos entre os recém-formados nos EUA, no Reino Unido e no Canadá.
Outra pesquisa realizada pela Universidade de West Virginia, nos Estados Unidos, indica que duas em cada cinco crianças e adolescentes são perfeccionistas. “Estamos começamos a falar sobre como caminhamos para um caso de epidemia em saúde pública”, disse Katie Rasmussen, autora do estudo.
Agora, um dos pontos mais importantes é que os resultados de ambas as pesquisas apontam para uma população que não está se tornando melhor sucedida apesar de buscar a perfeição, mas que na verdade está ficando cada vez mais doente.
Segundo os estudos, quem estipula parâmetros elevados – sejam atletas, trabalhadores ou estudantes – apresentam apenas uma pequena ou nenhuma vantagem na comparação com aqueles que não determinam. Já indivíduos que manifestam o perfeccionismo mal-adaptativo sofrem significativamente mais burnout.
Existem dois tipos de perfeccionismo. O primeiro é o adaptativo, que é saudável. Nele a pessoa se sente motivada a novas conquistas, tem um padrão alto de metas e disciplina para alcançá-las. Porém, o outro tipo de perfeccionismo, o mal-adaptativo, é perigoso para a saúde.
O tipo mal-adaptativo nunca está satisfeito com seu desempenho. Isso acontece porque suas metas não são apenas altas, mas irreais. Esse comportamento acredita que deve fazer tudo em sua vida com completa perfeição e não aceita que isso seja impossível.
Seus padrões de autocobrança passam do limite, afetando a forma como se comporta, além de estimular uma personalidade controladora, impactando negativamente suas relações pessoais e profissionais.
Ou seja, a cada nova meta estabelecida ou função adquirida na sua vida ou carreira, reflita. Isso é humanamente possível? A que custo você vai chegar aonde deseja? Isso não é para te desestimular de sonhar grande, de forma alguma. É uma forma de cuidar para que você sonhe sim, mas com maturidade e confiança e de fato conquiste o que almeja.
Independente do seu nível de perfeccionismo, é importante ficar atento às consequências, como: excesso de atividades para se sentir útil à empresa ou procrastinação por medo de executar tarefas e errar. Além da dificuldade em aprender com os próprios erros, atrapalhando sua evolução. Em qualquer um dos casos, você deixa de aproveitar a jornada e passa a viver sob constante estresse e sobrecarga.
Os estudos revelaram também que quanto maior o perfeccionismo, maior é a chance de desistência, devido a frustração. Como também pode ser que você alcance algum nível de sucesso, mas então sua saúde exigirá que você dê alguns passos para trás, ou seja, será que vale a pena mesmo?
Desde o sistema de ensino e sua classificação de competências através das notas, como também pelo universo competitivo do mercado de trabalho, o que de fato está nos afetando é o medo de errar. Falhar se tornou tão inadmissível que entregamos nossa saúde e alegria em busca de acertar sempre, o que sabemos, ser impossível. Dessa forma acreditamos que devemos fazer mais e mais e entramos em um ciclo vicioso em busca da perfeição.
Acredito que o modo de reverter isso é nos permitirmos errar mais. O mercado aos poucos está compreendendo esse processo não mais como fracasso, mas como novas oportunidades de sucesso. O profissional do futuro está sendo classificado por quem se envolve com os erros e busca melhorar, mas sem paralisar por acreditar que errou e então, não tem capacidade de ir além.
Hoje entendemos o erro como sinônimo de culpa e culpa significa que devemos ser punidos por algo. Logo, quem é que quer errar não é mesmo? Cabe a você profissional, ir se reeducando sobre esse tema e reeducando sua empresa também e criando um novo cenário, mais saudável e inclusivo.
Boa jornada!
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