Juliana Sztrajtman, CEO da Amazon Brasil: “Comunicar claramente a visão, para onde a gente quer ir, é fundamental. Se as pessoas entendem o propósito, conseguem tomar decisões alinhadas” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 20 de dezembro de 2025 às 08h07.
“O melhor líder é o líder desnecessário”, diz Juliana Sztrajtman, CEO da Amazon Brasil, em entrevista exclusiva ao podcast “De frente com CEO”, da EXAME. Desde janeiro deste ano na cadeira de presidente da operação brasileira, Sztrajtman resume uma visão de liderança que ganha cada vez mais espaço nas grandes organizações — e que contraria o imaginário tradicional do chefe centralizador, decisor solitário e sempre presente na sala.
A publicitária que fez carreira em grandes companhias na área do marketing, assumiu a liderança da gigante no Brasil em um dos ciclos mais acelerados de crescimento da companhia no mundo, e afirma que o maior aprendizado do seu primeiro ano como CEO não foi tomar mais decisões, mas aprender a sair do centro delas.
“O CEO não consegue estar em todos os lugares. Nosso papel não é estar ali para decidir tudo, mas ter um time preparado para tomar decisões”, afirma a CEO que diz que só no Brasil a companhia já investiu R$ 55 bilhões no Brasil, um quarto disso, 25%, no último ano.
“Esse é o ritmo de aceleração que a gente imprimiu neste ano aqui no Brasil, é para mim é uma missão maravilhosa”, afirma a CEO.
À EXAME, a presidente da Amazon Brasil comentou sobre a sua trajetória profissional até o topo da companhia, lições de liderança e as apostas da operação brasileira que faz parte de um grupo que já faturou, somente nos três trimestres deste ano, US$ 500 bilhões no mundo.
Na prática, o “líder desnecessário” não é o ausente, mas aquele que cria clareza de direção suficiente para que a empresa avance sem depender dele.
“É ter uma equipe que saiba para onde a gente está indo, que faça as perguntas certas e tome as decisões para que a empresa chegue lá, mesmo sem o CEO na sala”, conta.
Essa lógica se torna ainda mais crítica em organizações complexas, distribuídas geograficamente e intensivas em tecnologia, como a Amazon.
“Logo no começo, eu me vi no meio de muitas decisões, muitas discussões, e percebi: eu não vou dar conta de estar em tudo. Foi quando ficou claro que eu precisava formar um time capaz de decidir”, afirma.
A liderança, nesse modelo, deixa de ser sinônimo de controle e passa a ser arquitetura de contexto: visão clara, prioridades bem comunicadas e segurança psicológica para que as pessoas ajam.
Para Sztrajtman, dois pilares sustentam esse tipo de liderança: comunicação e empatia. Formada em Comunicação, ela diz que essa é a “soft skill” que mais usa até hoje.
“Comunicar claramente a visão, para onde a gente quer ir, é fundamental. Se as pessoas entendem o propósito, conseguem tomar decisões alinhadas”, afirma.
Já a empatia aparece como condição para criar ambientes onde a autonomia é possível. “As pessoas têm histórias, perspectivas diferentes. Quando você entende e respeita isso, elas se sentem à vontade para falar, trazer ideias. É aí que surgem inovação e soluções melhores”, disse.
Esse ambiente, segundo a CEO, é o que faz com que times queiram trabalhar juntos — e assumam responsabilidade de verdade, não apenas tarefas.
Curiosamente, Juliana Sztrajtman diz que nunca planejou chegar ao cargo de CEO. “Foi uma evolução natural. Não era uma vaga que eu aspirava conscientemente”, contou. A lógica que guiou sua carreira foi outra: buscar propósito, aprendizado constante e novos desafios.
“Eu sou muito feliz fazendo o que eu faço. Sempre busco encontrar um porquê”, afirmou. Para ela, líderes que operam apenas pela posição tendem a criar estruturas dependentes. Já aqueles que operam pelo sentido do trabalho conseguem formar sucessores, times fortes e organizações resilientes.
Não por acaso, o conselho mais antigo que ela carrega vem da avó — uma das primeiras mulheres formadas em medicina pela USP, nos anos 1940: “Conhecimento é algo que ninguém nunca vai tirar de você. Não pare de aprender”.
No fim, o “líder desnecessário” não é aquele que some, mas aquele que constrói algo que funciona sem ele. É o oposto da liderança baseada em ego — e mais próxima de uma liderança baseada em legado.
“É o líder que forma uma equipe confiante, tecnicamente forte, com autonomia para decidir”, afirma Sztrajtman. Em um mundo corporativo cada vez mais complexo, acelerado e imprevisível, talvez esse seja o tipo de liderança mais necessário de todos.