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Nem os super-humanos aguentam tanta pressão no trabalho

O ato de gerenciar invadiu todas as esferas da vida, e as pessoas se comportam como se tudo que têm fosse um capital para produzir resultados

Pressão por resultados torna trabalhar bem humanamente impossível  (Stock.xchng)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2013 às 11h34.

São Paulo - "Eu não aguento mais, eu passo o dia inteiro olhando para indicadores, olhando para rankings e vendo como minha área pode ser mais eficiente. Eu almoço com meus subordinados, e quando percebo estou pensando se a pessoa que está na minha frente é mesmo necessária em minha equipe ou se eu posso mandá-la embora para reduzir custos. Minha vida se resume a reduzir custos. Eu não aguento mais!"

O desabafo é de um amigo que trabalha em um grande banco brasileiro. A fala é representativa de várias outras que ouço quando ensino gestores ou converso com pessoas que trabalham em empresas nas pesquisas que realizo. Vivemos no limite. As corporações vivem uma obsessão por cortar custos, produzir sinergias e gerar resultados.

O discurso de que é possível buscar o máximo de resultado e ter pessoas contentes com seu trabalho não se sustenta. Para obter resultados máximos é preciso forçar as pessoas além de suas capacidades.

No último mês de agosto, foi realizado na Escola de Administração da FGV-SP um evento sobre estudos organizacionais. O fechamento do evento coube ao professor Vincent de Gaulejac, da Universidade de Paris XVII. Gaulejac é um dos maiores especialistas mundiais na análise crítica do poder e dos efeitos nocivos das empresas na vida das pessoas.

O professor argumentou que na contemporaneidade a gestão invadiu todas as esferas da vida. A família passou a ser vista como uma pequena empresa capaz de fabricar um indivíduo empregável. Filhos devem fazer inúmeros cursos que no futuro serão úteis à sua empregabilidade.

É como se tudo tivesse de ser gerido como se fosse um capital para produzir resultados. Dentro das empresas, é como se nós tivéssemos de ser super-humanos o tempo todo, capazes de realizar e motivar os outros a realizar mais, melhor e mais rápido.

Diversos rankings e indicadores são criados para dar a medida se aquilo que fazemos presta ou não. Há, ainda, a exigência da excelência constante, como se fosse possível e humano ser excelente o tempo todo.

Gaulejac, que tem formação em psicossociologia, mostrou inúmeros casos em que pessoas sofrem psíquica e fisicamente por não suportar as pressões excessivas do mundo empresarial de hoje. É preciso resgatar o humano nas empresas, pois os super-humanos, por ser uma ilusão, não aguentam mais.

Rafael Alcadipani é professor adjuntoda Escola de Administração de Empresas de São Paulo

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São Paulo - "Eu não aguento mais, eu passo o dia inteiro olhando para indicadores, olhando para rankings e vendo como minha área pode ser mais eficiente. Eu almoço com meus subordinados, e quando percebo estou pensando se a pessoa que está na minha frente é mesmo necessária em minha equipe ou se eu posso mandá-la embora para reduzir custos. Minha vida se resume a reduzir custos. Eu não aguento mais!"

O desabafo é de um amigo que trabalha em um grande banco brasileiro. A fala é representativa de várias outras que ouço quando ensino gestores ou converso com pessoas que trabalham em empresas nas pesquisas que realizo. Vivemos no limite. As corporações vivem uma obsessão por cortar custos, produzir sinergias e gerar resultados.

O discurso de que é possível buscar o máximo de resultado e ter pessoas contentes com seu trabalho não se sustenta. Para obter resultados máximos é preciso forçar as pessoas além de suas capacidades.

No último mês de agosto, foi realizado na Escola de Administração da FGV-SP um evento sobre estudos organizacionais. O fechamento do evento coube ao professor Vincent de Gaulejac, da Universidade de Paris XVII. Gaulejac é um dos maiores especialistas mundiais na análise crítica do poder e dos efeitos nocivos das empresas na vida das pessoas.

O professor argumentou que na contemporaneidade a gestão invadiu todas as esferas da vida. A família passou a ser vista como uma pequena empresa capaz de fabricar um indivíduo empregável. Filhos devem fazer inúmeros cursos que no futuro serão úteis à sua empregabilidade.

É como se tudo tivesse de ser gerido como se fosse um capital para produzir resultados. Dentro das empresas, é como se nós tivéssemos de ser super-humanos o tempo todo, capazes de realizar e motivar os outros a realizar mais, melhor e mais rápido.

Diversos rankings e indicadores são criados para dar a medida se aquilo que fazemos presta ou não. Há, ainda, a exigência da excelência constante, como se fosse possível e humano ser excelente o tempo todo.

Gaulejac, que tem formação em psicossociologia, mostrou inúmeros casos em que pessoas sofrem psíquica e fisicamente por não suportar as pressões excessivas do mundo empresarial de hoje. É preciso resgatar o humano nas empresas, pois os super-humanos, por ser uma ilusão, não aguentam mais.

Rafael Alcadipani é professor adjuntoda Escola de Administração de Empresas de São Paulo

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