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Muito faz mal

Exercícios físicos são bons para a saúde desde que na medida certa. Fique atento ao exagero

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h31.

Os exercícios físicos fizeram muito bem ao gerente administrativo paulistano Adriano Faccio, de 22 anos. Além de manter seu estresse sob controle, deram a ele um corpo atlético. Isso hoje em dia, porque, há cerca de três anos, Faccio quase colocou tudo a perder por causa do excesso de atividade física. Jogava futebol com os amigos nos fins de semana e ia todos os dias à academia, de onde só saía depois de ter feito duas horas e meia de musculação e cerca de 40 minutos de corrida. Também comprou suplementos alimentares e livros de treinamento para fisiculturistas. "Eu era tão obcecado que fazia abdominais até enquanto estava vendo TV", lembra. Certa vez, depois de encarar um treino superpuxado, precisou de ajuda para descer as escadas da academia porque não conseguia andar. "Ir para casa de carro naquele dia foi uma verdadeira tortura. Eu sentia tanta dor que até pisar na embreagem era difícil", conta.

Não demorou muito e Faccio começou a perceber os primeiros sinais de que as coisas não estavam indo tão bem. Aumentou os músculos, claro, mas ganhou também dores no corpo, cansaço e apatia. "Parei de sair à noite e de viajar com os amigos. Não tinha ânimo para me divertir", diz. Sem falar que tudo era motivo para fazê-lo perder a calma -- como na vez em que quebrou a raquete durante uma partida de tênis só porque não conseguiu marcar um ponto. Faccio procurou o médico quando as dores nos ombros ficaram insuportáveis e passou a ter gripes freqüentes. Ficou de queixo caído quando ouviu o diagnóstico: desgaste físico e imunidade baixa causados por excesso de exercícios. Em outras palavras, ele estava sofrendo da síndrome de overtraining. "Trata-se de um problema comum em atletas profissionais e também costuma acontecer com quem passa dos limites na ginástica", diz o psiquiatra Marco Aurélio Peluso, da Universidade de São Paulo. O distúrbio, que pode ainda estar relacionado a falta de repouso, alimentação inadequada e problemas hormonais, geralmente ataca quem vive num estado constante de ansiedade. "Além dos ansiosos, os perfeccionistas também são suscetíveis ao overtraining, já que tendem a exagerar em tudo", explica o clínico geral Marcelo Baboghluian, do Centro de Medicina Esportiva de São Paulo.

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Além do limite

O excesso de exercícios altera o metabolismo, causando queda na produção de algumas enzimas e de hormônios como cortisol e testosterona. O déficit desses dois hormônios explica a baixa no sistema imunológico e o humor deprimido. A atividade física intensa também faz o cérebro produzir mais endorfina, substância que funciona como analgésico natural e que está ligada ao bem-estar. Acostumado com uma grande quantidade de endorfina no sangue, o organismo "reclama" toda vez que o nível dessa substância cai, e aí dá-lhe exercício para fazer a reserva subir. Por incrível que pareça, a última recomendação para quem chegou a esse estágio é interromper a ginástica bruscamente. Até porque o problema não é o exercício em si, mas o excesso dele. "Suspeita-se que a interrupção brusca possa provocar fibromialgia, que é uma dor muscular generalizada", diz Baboghluian. O certo é diminuir o ritmo aos poucos. Foi o que Faccio fez, além de ter aprendido que super-homem definitivamente não existe

"Os perfeccionistas também são suscetíveis ao overtraining porque costumam exagerar em tudo"(Baboghluian)

SEM EXAGERO

Os exercícios são grandes aliados na manutenção da saúde e do bem-star físico e mental. É louvável, portanto, que você aproveite a ginástica para aliviar a tensão do trabalho e ganhar disposição e auto-estima para tocar seus projetos. O problema é que, se levar uma vida sedentária faz mal, exagerar nos exercícios físicos também não fica atrás.

De acordo com os especialistas, as pessoas devem exercitar-se no mínimo três dias por semana e no máximo seis. É preciso ter pelo menos um dia de descanso. "Fazer uma hora diária de exercícios, em média, é mais do que suficiente", diz Baboghluian. Além de prejudicar a saúde, o exagero faz o exercício acabar virando mais um motivo para deixá-lo estressado.

Fique atento a estes sinais, que são os principais sintomas de overtraining. Se você apresentar pelo menos um deles, procure um médico.


  • excitação
  • insônia ou sonolência exagerada
  • falta de apetite
  • apatia
  • alteração na freqüência cardíaca
  • tendinite (inflamação dos tendões)
  • dores musculares
  • respiração ofegante
  • irritabilidade
  • depressão
  • baixa imunidade
  • falta de concentração
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