Carreira

Minha mulher ou um MBA?

Reynaldo sente que para avançar na carreira precisa de um MBA. Mas Mariana é uma dentista de sucesso e não quer acompanhá-lo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2010 às 11h10.

Aos 32 anos, Reynaldo Ruiz é gerente de marketing de uma grande empresa nacional. Ele vem fazendo uma bela carreira, recebendo mais responsabilidades e aprimorando seus conhecimentos. Mas Reynaldo teme estacionar. Ele sabe que sua empresa valoriza muito uma formação no exterior e sente que, para subir mais, seria bom fazer um MBA. A princípio um pouco inseguro, Reynaldo se inscreveu em várias faculdades nos Estados Unidos e foi aceito em duas delas, das mais conceituadas. Reynaldo tem umas economias, suficientes para o curso, e numa conversa informal já obteve o apoio de seu chefe para licenciar-se. Então qual é o problema? O problema é Mariana, mulher de Reynaldo há cinco anos. Dentista em franca ascensão profissional, Mariana está fazendo um curso de especialização com um dos maiores "feras" do Brasil. É claro que ela não quer parar o curso. Fora isso, seu consultório está começando a atrair clientes, tornando-se economicamente viável depois de três anos de luta. Reynaldo e Mariana não querem se separar, mas seus caminhos profissionais apontam em direções diferentes. O que Reynaldo deve fazer? Adiar seus projetos? Trocar o curso nos EUA por um de menos prestígio no Brasil? Ir sem a mulher?

Há cerca de dois anos, eu me vi numa situação muito parecida com a do Reynaldo: minha mulher estava cursando o segundo ano de arquitetura quando surgiu a oportunidade de fazer um MBA nos Estados Unidos. A decisão foi difícil, mas tomada em conjunto. Estávamos casados há quatro anos e decidimos ir. Ela acabou fazendo um ótimo curso de arquitetura numa faculdade na cidade onde moramos na Carolina do Norte.

Reynaldo, entendo o dilema e sei o quão difícil é pedir, e depois ver, alguém abrir mão de sua vida por você. É muita responsabilidade. No entanto, essa é sua chance. Os dois anos de curso voam. Um amigo que estudava comigo deixou sua mulher, que estava terminado a faculdade de medicina, no seu país e passou os dois anos fazendo-lhe visitas quando dava. Ele sabia que era um esforço temporário. Existem milhares de histórias de sacrifício nos cursos pelo mundo afora. A sua é apenas mais uma.

A opção de fazer um MBA aqui no Brasil parece excelente do ponto de vista acadêmico. Mas a experiência de viver num ambiente com pessoas do mundo todo e numa cultura diferente são fatores únicos do curso no exterior. No seu lugar eu iria para os Estados Unidos. Você ficaria longe dela de setembro a meio de dezembro, e depois do final de janeiro a meio de maio (isso vale para os dois anos). Tenho certeza que você e a Mariana vão achar a melhor solução. Vocês dois parecem ser pessoas muito inteligentes e preparadas para os desafios do mundo atual. Esse é apenas um deles.

Giancarlo Greco, gerente de planejamento do Citibank, voltou em maio de uma MBA na Duke University, na Carolina do Norte (EUA)

Reynaldo parece ter que escolher entre sua carreira ou sua felicidade conjugal. Eu penso que, ao tomar uma decisão, a família deve ser colocada em primeiro lugar. Mas isso não desqualifica automaticamente uma decisão que possa pesar contra a família a curto prazo. Antes de tudo, Reynaldo tem que contar com o apoio incondicional da mulher e confiar que sua ausência temporária não causará um rompimento futuro. Com essa etapa ultrapassada, ele terá que refletir sobre alguns problemas.

Reynaldo terá que gerenciar o estresse relacionado a uma mudança para um país diferente, uma cidade desconhecida com cultura e língua estranha, e ainda por cima encarar a intensa carga horária de estudos. Tudo isso sem o apoio de seus amigos ou família. Reynaldo terá que compreender que Mariana não pode simplesmente fazer as malas e juntar-se a ele. Ele terá que respeitar sua decisão de permanecer no Brasil e não se sentir abandonado ou trocado pelo trabalho dela. Se acaso decidir ficar, ele não deverá culpá-la no futuro pela frustração de não ter realizado seu sonho.

Um estudo feito por Ronald Yeaple nos Estados Unidos concluiu que, após levar em consideração a perda salarial por dois anos e somar os custos relacionados para completar um MBA, apenas 15 cursos tornaram-se um investimento positivo em um período de sete anos. Dos 700 cursos de MBA nos Estados Unidos, somente os melhores, relacionados pela revista Business Week, causarão um impacto educacional e salarial significante. Somente a inscrição em um curso de primeira linha justificará o custo financeiro e profissional de sua ausência da empresa.

Se Reynaldo foi aceito por uma das melhores instituições e tem o apoio incondicional de sua mulher, ele deve seriamente considerar a opção de vir estudar nos Estados Unidos. Em julho de 1997 tive que tomar uma decisão semelhante. Minha mulher trabalhava em Nova York quando fui aceito na Wharton. Com o apoio dela comecei meus estudos. Naquela época, vivíamos separados durante a semana. Felizmente Rebeca resolveu inscrever-se este ano para a Wharton e foi aceita. Hoje estudamos juntos, mas no ano que vem há uma boa chance de eu ter que mudar para Nova York ou São Paulo. Infelizmente a Filadélfia não oferece as opções de carreira que eu gostaria de ter e, por isso, teremos mais uma vez que viver separados por um ano até Rebeca se formar.

Bernardo J. de Ouro Preto, estudante de MBA em Wharton, na Filadélfia, ficou o ano passado afastado de Rebeca, sua mulher

O desafio para a maioria de nós é equilibrar os diversos aspectos da vida. No curso de apenas um dia temos que ser pais de uns, filhos de outros, maridos, mulheres, chefes, subordinados, colegas, cidadãos - a lista é interminável. Só há uma maneira de equilibrar as partes e não ficar perdido nos malabarismos de tantos papéis. A fragmentação da vida acontece quando tentamos separar as partes em departamentos estanques como se uma coisa não tivesse nada a ver com outra. O fato de tentarmos viver várias vidas de uma vez não é só a causa dos conflitos com outros indivíduos. É a razão da insatisfação pessoal.

A saída para Reynaldo é estabelecer de uma vez o que ele realmente quer na vida e tratar de tornar este objetivo o mais elevado possível em termos éticos. Para isso, ele teria que estabelecer valores que seriam os parâmetros das suas decisões - por exemplo, o respeito, a determinação, a dignidade. Assim que criar sua visão de futuro possível, deve ir em frente de uma maneira coerente. Sendo autêntico em tudo que faz, ele não precisaria conciliar as partes da sua vida e viver apagando incêndios. Ele descobre que é apenas uma pessoa e não várias. Ele trata de ser o que é e não o que a sociedade e outros seres humanos acham que ele deve ser. A autenticidade trará tudo que ele precisa na vida. Vale mais a pena trabalhar pela felicidade de longo prazo baseado em princípios pessoais claros do que sacrificá-la por ganhos temporários. Se a sua autenticidade ganha o aval da mulher, muito bem. Se não, a longo prazo, os nossos relacionamentos pessoais pesam muito mais que qualquer título.

Ken O Donnell, consultor e diretor para América do Sul da Organização Brahma Kumaris

Acredito ser possível conciliar a evolução profissional de ambos e a felicidade de um bom casamento. O fato de Reynaldo e Mariana não terem filhos ajuda muito, pois lhes dá flexibilidade para decidir.

No lugar de Reynaldo, eu faria MBA no exterior e, em conjunto com Mariana, buscaria uma alternativa de aprimoramento profissional para ela nos Estados Unidos. Um período fora do país poderá aproximar ainda mais o casal, pois eles terão que vencer juntos o desafio de adaptação a uma nova cultura. Cada pessoa deve buscar seu próprio ponto de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Sacrifícios fazem parte do dia-a-dia, o que leva à necessidade de uma decisão conjunta.

Eu passei por uma experiência semelhante duas vezes na vida. Na primeira, minha mulher, que é médica, ficou no Brasil enquanto terminava sua residência. Na segunda, me acompanhou a Nova York, onde aproveitou para estudar. Hoje somos felizes e temos dois filhos que se juntaram a nós ao longo do caminho.

Paulo Carvão, diretor da IBM, fez cursos de extensão nos Estados Unidos por duas vezes

Os personagens e o enredo desta seção são fictícios. Mas os especialistas chamados a dar sua opinião são genuinamente de carne e osso. Caso você tenha uma história a contar, entre em contato conosco pelo e-mail: avidacomoelae@email.abril.com.br

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