Carreira

Menos Gabigol: o que todo líder pode aprender com o técnico do Flamengo

Mesmo que Gabibol tenha feito os gols do jogo, especialista destaca as estratégias do técnico Jorge Jesus que levaram o Flamengo à vitória

Em comemoração da vitória no Rio de Janeiro, o técnico Jorge Jesus aparece entre os jogadores (Wagner Meier/Getty Images)

Em comemoração da vitória no Rio de Janeiro, o técnico Jorge Jesus aparece entre os jogadores (Wagner Meier/Getty Images)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 28 de novembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 28 de novembro de 2019 às 11h20.

São Paulo - Com a conquista do título de campeão da Libertadores, o principal campeonato de futebol da América do Sul, não é apenas o Flamengo que entra para a história do futebol. O técnico do time também foi eleito nesta semana o 7º melhor do mundo, segundo a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol.

Há menos de seis meses, o técnico português Jorge Jesus chegou ao time com uma missão clara aos jogadores de seu time e colocando metas grandiosas: serem os melhores do país, do continente e do mundo.

Segundo o especialista em liderança Roberto Aylmer, médico, PhD e professor internacional da Fundação Dom Cabral, o técnico tem diversas características que o diferenciam como um líder e que podem servir de lições fora do campo de futebol.

“Eu penso que o gestor precisa ter muita clareza do jogo, não só da bola. Muitos ficam preocupados com a meta do dia e isso se torna uma hipnose operacional. Para apagar um incêndio, se cria outro. Você fica preso na agenda do dia sem pensar no longo prazo”, fala Aylmer.

Com um primeiro tempo difícil, levando um gol que custou para virar um empate no segundo tempo e a virada que só aconteceu nos acréscimos, a partida reflete um pouco das dificuldades na carreira do técnico português Jorge Jesus, que já viu o time que liderava em Portugal ser rebaixado no passado.

O que pode parecer uma fraqueza é na verdade um grande ensino que qualquer liderança pode trazer para sua carreira e seus times. A lição é que o bom líder não deve esquecer de seus fracassos, mas deve usá-los para melhorar suas estratégias e criar planos alternativos, assim contornando desafios e evitando novas derrotas.

“Além de ser jogador no passado, ele tem uma jornada de vida que passa por fracassos e um bom líder tem que ter uma história de fracasso também. Aquele que apenas venceu não tem calos emocionais para lidar com dificuldades”, comenta Aylmer.

Outro desafio que se tornou um ponto forte do treinador é entrar no meio da temporada vindo da Europa. O que poderia ser um choque cultural se tornou uma mudança de mentalidade para os jogadores.

Historicamente, o futebol brasileiro depende muito de estrelas, com dribles artísticos e jogadas heróicas. O que representa um problema em momentos de grande pressão, como a Copa do Mundo, onde diversos erros da equipe em campo são consequência da dificuldade da equipe na gestão emocional.

“O técnico trouxe uma mudança muito forte de pensamento em equipe. Com sua experiência, ele pensava em planos para ocupar todo o campo, não deixando o adversário jogar, dependendo mais do esforço coletivo e metodologias do que do destaque individual”, explica o professor.

No lugar de focar no atacante Gabriel Barbosa, o “Gabigol”, que fez os dois gols da vitória, o especialista destaca a importância de um líder que impõe sua presença no momento de maior pressão.

Segundo Aylmer, é muito comum nas empresas que o líder acabe se afastando da equipe em momentos críticos, entrando em reuniões para justificar falhas e refletir sobre a situação. Nessas situações, muitos gestores também aumentam a pressão em cima do time com a cobrança por melhores resultados.

E ele não recomenda essas táticas como uma boa saída para resolver uma crise. Aylmer vê a atitude do técnico do Flamengo como uma lição importante para as lideranças em companhias: ele aumenta sua presença no campo e dá suporte aos jogadores.

“Se um time está dando o sangue e não entrega resultado, é bem possível que ele precise de suporte e não de pressão”, diz o professor. 

Após o início de jogo com o choque do gol do River Plate, a tensão aumentou em campo. E a frustração aumentou com a dificuldade de reverter o placar e com chances perdidas de marcar. 

“Quando eles voltam no segundo tempo, o time está diferente. Acho que no vestiário, ele deu orientações e tocou no nervo do pessoal. Vários jogadores falaram que iam ‘até o fim’, um lema de combate”, comenta ele.

Por fim, o especialista destaque que, mesmo após a vitória, o técnico sempre mantém uma atitude realista, entendendo que o esporte pode ser cruel: enquanto ganha, recebe palmas, mas, se começar a perder, as críticas virão.

“O líder tem que estar disposto a atravessar as palmas e as críticas, mantendo seu propósito e missão nessa jornada”, diz Aylmer.

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