Liderança à Dunga
O novo treinador da seleção brasileira personifica vários dos atributos do estilo de liderança autoritário tão presente no Brasil, tanto no esporte quanto nas empresas
Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2014 às 10h28.
São Paulo - Os entendidos em futebol sabiam que Luiz Felipe Scolari estava longe de ser um técnico cujo forte de seus times era o jogo tático. Felipão era conhecido como um grande formador de grupos de sucesso , times que tinham a sua cara e chegavam longe nas competições.
Na Copa do Mundo de 2002, toureou o ego de jogadores consagrados e coroou seu próprio trabalho e passou a ser considerado quase um mago da formação de equipes vencedoras. O vexame deste ano recaiu, principalmente, na falta de confiança do grupo.
Ao contrário das expectativas e para a surpresa nacional, Scolari não apenas não obteve êxito em formar um grupo vencedor como também comandou uma seleção com expressivos problemas emocionais. No dia a dia das empresas vemos como o equilíbrio emocional dos membros de uma equipe é fundamental para seu sucesso. Um grupo sem a cabeça no lugar raramente chega muito longe.
Após o fiasco contra a Alemanha, para a surpresa geral, a CBF decidiu trazer para o comando da Canarinho o ex-treinador Dunga. O novo técnico personifica vários dos atributos do estilo de liderança autoritário tão presente no Brasil, tanto no esporte quanto nas empresas. Trata-se de um treinador que defende a disciplina acima de tudo. É bastante autoritário e tem um tratamento, digamos, rústico com as pessoas.
Não quer saber de frescuras e segue o antigo estilo do verdadeiro “homem não chora”. Dunga nos recorda aqueles pais bravos e autoritários, aquele que é temido e exerce seu poder no grito. Dunga parece o chefe que amedronta. Em várias empresas conhecemos líderes parecidos, que desempenham o velho estilo militar.
Esse tipo de liderança surge muitas vezes em momentos de crise e nos momentos em que parecemos perdidos. É quase como um retorno à infância, onde esperamos o pai nos dar o caminho correto. O problema é que, quando temos um pai autoritário, mentimos para ele. O chefe autoritário cria um ambiente em que as pessoas têm medo de falar e pavor de expor seus pontos de vista. Com isso, a equipe perde a espontaneidade e a possibilidade de um aprender com o outro.
O modelo de liderança Dunga funciona, em geral, por pouco tempo. Quando o temor se instala, é uma questão de tempo para que a arrogância do líder que aparenta saber tudo se transforme no pior veneno para sua equipe.