Leonardo, o multimídia
Por Eugenio C. Mussak Atualmente, a pergunta que me fazem com mais freqüência é: que tipo de profissional o mercado está querendo? Então vejamos: relendo o trabalho da Unesco, o organismo da ONU que se dedica a estudar as características da educação, da ciência e da cultura no mundo, encontro as oito características do trabalhador […]
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h31.
Por Eugenio C. Mussak
Atualmente, a pergunta que me fazem com mais freqüência é: que tipo de profissional o mercado está querendo? Então vejamos: relendo o trabalho da Unesco, o organismo da ONU que se dedica a estudar as características da educação, da ciência e da cultura no mundo, encontro as oito características do trabalhador para o século XXI, segundo uma comissão de especialistas. A lista completa encontra-se no final deste artigo. Agora quero comentar apenas as duas características que mais chamam minha atenção. A primeira que diz que o novo século tende a valorizar as pessoas com maior flexibilidade de conduta acima até da carga de especialização, e a segunda salienta que a importância da criatividade é maior do que a da informação.
Ou seja, o mundo deseja pessoas criativas e flexíveis, mais do que especialistas super informados. O diploma, seja da faculdade, da especialização, do mestrado, do MBA, continua sendo muito importante, mas não é mais a chave mestra que abre todas as portas. Atualmente são valorizadas as pessoas multimídia, com capacidade de agir de forma mais abrangente, possuidoras de qualidades humanas tão cuidadas quanto as qualidades acadêmicas e profissionais.
Você S.A. publicou, em maio de 2000 uma matéria que derivou de uma pesquisa sobre causas de perda de emprego leia a matéria . A conclusão apresentada foi surpreendente. Simplesmente em 87% dos casos as pessoas são demitidas por deficiências humanas e não por deficiências técnicas. Entre essas deficiências, encontramos coisas como dificuldade de comunicação, de aceitar ou exercer liderança, de administrar conflitos, de conviver com diferenças pessoais e também com a falta de flexibilidade para lidar com mudanças, internas ou externas à empresa, e com a carência de espírito criativo, responsável direto pelo desenvolvimento das organizações.
Esse é o motivo pelo qual a seleção de candidatos a uma vaga baseia-se cada vez mais em métodos que avaliam a psicologia, como a dinâmica de grupo, do que em provas teóricas, capazes apenas de medir conhecimento. Conhecimento é importante, mas é apenas uma das partes que compõe a competência. Como vivemos em um mundo altamente competitivo, é claro que temos que desejar competência, em nós mesmos e naqueles que trabalham conosco ou para nós. Competência é o pressuposto da competitividade.
Há até uma fórmula matemática (que horror usar matemática para explicar comportamento humano...) para definir competência: C = S x P x Q. Usando palavras, a competência é obtida pelo produto entre o saber, o poder e o querer. Ou ainda: conhecimento vezes habilidade vezes atitude. Se a pessoa quer fazer, sabe fazer, mas falta-lhe habilidades humanas para aplicar convenientemente seus conhecimentos, sua competência tende a zero.
Curiosamente, percebo que na semana que estou escrevendo este artigo sobre flexibilidade, o mundo comemora o 550º aniversário do gênio mais multimídia que humanidade já conheceu: Leonardo. Ele nasceu em 1452, próximo à cidade de Vinci, na República de Florença. Como todos nós precisamos de modelos para seguir, aqui está um que merece atenção redobrada. Conhecido como pintor de raro talento, autor do mais célebre quadro já pintado, a Monalisa, Leonardo da Vinci foi muito mais. Suas invenções tecnológicas, das quais conhecemos alguns projetos, foram de uma incrível lógica e criatividade, encontrando paralelo com alguns equipamentos que estão em funcionamento hoje. Além de pintor foi escultor, arquiteto, músico, engenheiro, inventor, cientista. Chega? Em seus 67 anos de existência, desenvolveu projetos de engenharia como pontes elevadiças, dragas, fortalezas, canais. Na música inventou instrumentos de sopro, tambores, mecanismos de campanários. Equipamentos marítimos também foram interesses seus, pois desenhou o primeiro escafandro, o snorkel, a bóia salva vidas, a baliza sinalizadora. Legou equipamentos que chamava de artes da guerra , como o canhão e o tanque. Mas seu maior sonho era o de fazer o homem voar, por isso seus desenhos de asas a pedal, helicóptero e pára-quedas.
É claro que ninguém precisa ser um Leonardo da Vinci para ter sucesso na carreira. É óbvio que a maioria de nós somos pessoas comuns que desejamos apenas ser produtivos e felizes. E é justamente por isso que temos que examinar permanentemente nossas qualidades para que nossa produtividade e nossa felicidade sejam possíveis, neste mundo competitivo e mutante em que vivemos.
E, para terminar, seguem as oito características do trabalhador do século XXI, de acordo com a turma da UNESCO:
1. Ser flexível e não especialista demais
2. Ter mais criatividade do que informação
3. Estudar durante toda a vida
4. Adquirir habilidades sociais e capacidade de expressão
5. Assumir responsabilidades
6. Ser empreendedor
7. Entender as diferenças culturais
8. Adquirir intimidade com as novas tecnologias