Juliana Scarpa, da FRST Falconi, e a era do 'PDCA Agile'
Após duas décadas na Falconi, uma das principais consultorias em gestão no Brasil, Juliana quer hoje repensar a educação corporativa no país
Leo Branco
Publicado em 21 de agosto de 2021 às 09h30.
Última atualização em 23 de agosto de 2021 às 10h16.
A engenheira química mineira Juliana Scarpa é uma entusiasta das mudanças do mercado de educação. Após uma carreira de duas décadas na Falconi, uma das principais consultorias em gestão no Brasil, Juliana está desde 2017 à frente da Frst Falconi , uma edtech fundada pelos sócios da consultoria com a finalidade de repensar a educação corporativa que está se juntando à EXAME Academy, plataforma deeducaçãoda EXAME, para o lançamento do curso online Líderes do Agora (veja mais informações sobre o curso abaixo da entrevista). Na entrevista a seguir, Juliana explica a missão da edtech e, além disso, aborda as mudanças necessárias para o setor.
A Falconi ficou conhecida no Brasil pela consultoria de gestão. Qual é o papel da edtech Frst?
O final de 2017 talvez seja seja um marco do início da transformação digital da Falconi. A gente já vinha há algum tempo com mudanças importantes internas, mas eu acho que aí no finalzinho de 2017, a gente começou a tomar decisões importantes dentro desse contexto, e a Falconi nasce com uma missão—e sempre foi essa a missão—de impactar o país através da melhoria dos resultados das organizações. E na verdade, nos últimos tempos, a gente começou a enxergar que existia uma necessidade muito grande dos executivos, das lideranças, dos talentos, aquelas pessoas que geram resultados das empresas, de desenvolver competências novas. E dentro dessa diretriz de novos negócios, que a gente colocou na época, a educação era um foco muito grande. Porque a gente nasce com essa origem, dentro de uma escola—a origem da Falconi é a educação—e ao longo dos nossos quase 40 anos de existência, a gente formou tanto os executivos internos e consultores quanto os das organizações. Então, ter um negócio que impactasse o país e diretamente as pessoas, que é o negócio de educação, pareceu absolutamente pertinente com o nosso background. E aí tem a questão do impacto. A gente sempre buscou impacto, e o uso da tecnologia nos permite fazer isso em escala e de uma forma muito consistente. E foi com essa cabeça de ampliar o nosso impacto para o país dentro de um segmento que precisa ser disruptado, e que a gente tem toda a história de sucesso de formação, além da necessidade de usar a tecnologia para gerar esse impacto, esse contexto é que fez nascer uma edtech, que veio a se chamar Frst (acrônimo de Falconi Road of Skills and Talent).
Há alguma sinergia com o negócio da consultoria?
São negócios totalmente sinérgicos. Temos especialistas entre os sócios da Falconi que atuam diretamente na edtech tanto dando as aulas quanto com cases. Temos a leitura do que o mercado precisa, do que são os desafios nas empresas. Temos a leitura dos projetos reais, do que são dores dentro das organizações, pra que também eles possam endereçar com soluções. São negócios que se complementam e nos tornam de fato mais fortes e diferenciados.
A Falconi ficou reconhecida por disseminar em grandes empresas brasileiras, como a Ambev, o método de gestão PDCA (acrônimo do inglês Plan, Do, Check e Action). O lançamento de uma edtech muda em algo essa receita?
Se você pensar nas metodologias modernas ligadas à inovação, elas estão conectadas ao aprendizado através do teste, do erro, do acerto e da escala. Esse ciclo é totalmente ligado ao PDCA. Vamos dizer que a gente esteja na era do "PDCA Agile" (em referência à metodologia ágil, técnicas de gestão adotadas em empresa de tecnologia). Muitas vezes, pra você atender seu cliente hoje, ao invés de dados do passado, você vai ter de ir atrás de pesquisas e entender de uma forma ampla, usando big data, aquela tendência ou vontade do consumidor. Pequenas empresas podem anotar isso no papel; uma padaria anota seu nome, sua vontade, etc. As grandes empresas compram grandes softwares para encontrar essas respostas. Mas isso é a parte de análise contida no PDCA. Hoje, é mais complexo e necessário grandes dados para algumas disrupções, mas de novo, o uso de dados se torna essencial, de novo, pra padaria da esquina, pequena ou grande. Aí começa o PDCA, o método científico baseado em dados para elaborar suas ações. Só que agora, nesse mundo, você testa muito rápido, erra pequeno, acerta grande e toma decisões em escala. É assim que a gente trabalha inclusive na Frst.
Num mundo com tantas distrações, como manter o engajamento dos alunos em cursos online como os da Frst?
A gente tem diversos objetos de aprendizagem, desde masterclass até white papers interativos, O nosso "ebook" é absolutamente interativo, você se aprofunda e navega dentro dele e vai ter um nível de profundidade daquele conhecimento que você precisa naquele momento ou gostaria de ter. Ali, a gente tem um pilar de objeto de aprendizagem que também é extremamente inovador. O que a gente busca com esse engajamento? A gente acredita que aprender pode ser tão bom quanto assistir uma série de Netflix. É uma questão de utilizar a tecnologia que existe hoje, que está apenas começando, e a Frst tem um compromisso com essa inovação e com essa busca. O próprio 5G, na sua completa utilização ou potencialidade no futuro, vai permitir muito mais essa conexão da tecnologia com aprendizado real, de verdade.
Quem são as atrações desses cursos “à la Netflix”?
Obviamente temos Vicente Falconi, nosso grande mestre inspirador, Florian Bartunek (sócio-fundador da gestora Constellation), Roberto Funari (CEO da Alpargatas) e mais um monte de gente interessante. Não existe o boring de ouvir uma teoria. Ele é o tempo todo gerado para gerar insights. E a gente usa a tecnologia de videoaulas, por exemplo, de narrativa e de construção próxima ao que se usa em filmes e seriados, para trazer movimento. Inclusive a gente usa dentro dessas projeções de videoaulas cenas de filmes, de propaganda, de vida real, se conectando àquilo. Aí, quando eu vou pros outros objetos, como os cases que a gente usa pra ensinar alguma coisa, eles estão desdobrados ao longo do módulo, e as respostas são discussões via podcast. Então eu uso a leitura, o áudio e o aspecto de discussão em vez de respostas concretas. Junto com isso, eu tenho quizes e diversas interações que, além de não cansar, geram aquela curiosidade sobre qual é o próximo.
Os cursos da Frst são como MBA ou passam ao largo desse modelo?
Acreditamos que a educação passa por um momento de disrupção. O MBA como é conduzido hoje precisa mudar, ele tem que ser disruptado. Ele tem alguns aspectos hoje—presencial, de longa duração, com grade fixa—que como é que se conectam num mundo de mudanças de necessidade de aprendizado, de rede de colaboração que pode ser global? A Frst tem alunos em 43 países. Eu tenho alunos no Egito conversando com alunos da Tailândia. Dentro desse potencial de aprendizado, você ir para uma sala restrita com uma grade que você conhece do início ao fim. Acreditamos que os MBAs e a pós-graduação de modo geral vão se transformar e conseguir traduzir o que a gente precisa em aprendizado ao longo do tempo. A Frst nasce para ser esse modelo disruptivo de aprendizado. A partir do momento que você tem um assessment de inteligência artificial que te dá uma noção daquilo em que você está indo muito bem ou no que precisa melhorar, e você consegue juntar essa informação com seu desafio e aí escolher o que você vai aprender, de forma aplicada, com rede de colaboração e trazendo um projeto real. Nossa grande pretensão é que isso esteja junto do ambiente de trabalho, conectado com a vida. Não é mais "agora eu vou pro MBA", "agora eu vou estudar", "agora eu tenho um treinamento". Essas coisas começam a fazer parte, porque é assim que tem que ser. A tecnologia tem de ajudar a conectar o aprendizado com o exercício da vida diária como se fosse umbilical.
Qual é a visão da Frst para expandir num mercado concorrido como o da educação?
O aprendizado vai muito além da conexão com o conhecimento simplesmente. Temos hoje no mercado muitas empresas que se propõem a disponibilizar conhecimento. Agora, você ter uma empresa digital que, em escala, consegue levar uma pessoa do ponto A pro ponto B, e quando ela termina, temos gestores dizendo que isso mudou a vida delas. Lançamos a empresa no mercado em abril do ano passado e, em um ano, tivemos coisa de 4.000 alunos e presença em 43 países. A projeção é de crescimento de 700% de alunos até o fim do ano. Atuamos hoje em mais de 300 empresas.
O negócio de educação vai ser mais importante que o de consultoria para a Falconi?
Vai demorar um pouquinho para isso acontecer, porque lançamos a empresa no ano passado e a consultoria é grande. Mas a ideia é que tenhamos negócios crescendo muito e que, lá na frente, sejam dois negócios gigantescos.
Líderes do agora
Pela primeira vez, a EXAME Academy, plataforma deeducaçãoda EXAME, se juntou com a FRST Falconi, aceleradora de pessoas e learning tech (empresa de educação & tecnologia) criada por uma das maiores empresas de consultoria de gestão do Brasil. A parceria deu origem ao Programa Líderes do Agora.
Os participantes terão acesso a conteúdos relacionados a Liderança, Mindset de Inovação e Gestão para Resultados. E poderão desenvolver as cinco competências essenciais para a liderança atual:
- pensamento sistêmico;
- protagonismo;
- gestão de resultados;
- mindset de inovação;
- cultura e hábitos de aprendizagem.
Confira tudo sobre o cursos Líderes do Agora na Exame Academy.
Ouça os conselhos dos maiores executivos e especialistas de carreira nos podcasts da Exame