Sede da BM&FBovespa, em São Paulo: aprenda os critérios que devem ser levados em conta ao investir em ações (Gustavo Kahil/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2013 às 14h24.
São Paulo - Sobe e desce. Anda de lado. E mais sobe e desce de novo. Esta deve ser a tendência de negócios para a bolsa de valores nos próximos 12 meses, segundo os analistas financeiros. O vaivém no mercado de ações deve se intensificar porque os investidores estarão atentos ao desenrolar da economia internacional e também à trajetória da inflação brasileira.
Cada notícia desagradável aqui ou lá fora, o preço dos papéis pode subir muito ou cair morro abaixo. Se você tem aplicações na bolsa talvez seja a hora de rever sua carteira, excluindo papéis que tenham baixa rentabilidade ou que estejam muito voláteis, e acrescentar ações que paguem bons dividendos e sejam estáveis, conhecidas como defensivas.
Para ajudar você nessa tarefa, pelo sexto ano consecutivo a VOCÊ S/A, em parceria com a Consultoria Economática, elaborou um ranking com as 50 ações mais negociadas no pregão nos últimos 12 meses, terminados em abril.
Cada ação recebeu de uma a cinco estrelas depois de ser avaliada em cinco itens: liquidez, volatilidade, pagamento de dividendos, pulverização de papéis no mercado e ROE (acrônimo de Return on Equity, que em português indica o retorno sobre o patrimônio).
Usando o ranking na hora de rever as ações de sua carteira, você poderá reduzir bastante o risco de perder dinheiro na bolsa de valores nos próximos meses.
Atenção aos índices
Um dos critérios mais importantes a serem analisados na hora de escolher uma ação é a liquidez, que vai indicar a facilidade para comprar ou vender um papel. Já imaginou se você precisa se desfazer de uma ação e não há nenhum comprador interessado no mercado?
Essa é, certamente, uma ação com baixa liquidez. Saiba que, quando um papel apresenta facilidade de negociação, ele se mantém assim durante vários anos consecutivos. Papéis como Vale e Petrobras apresentam essa característica, mas há ações de empresas menores que também são bastante líquidas.
A tabela Boa Liquidez mostra as 20 ações com maior liquidez nos últimos 12 meses, terminados em abril. Nela, você vai perceber que a Vale, por exemplo, teve representatividade de 8,665 nos negócios do pregão. Quanto maior o indicador de representatividade de negócios na bolsa de valores, maior será a liquidez da ação. A Petrobras ficou com a segunda posição, registrando índice de 8,337.
Se você faz parte daquela turma de investidores que compra ações e não quer perder o sono com as oscilações do pregão, escolha os papéis que tenham baixa volatilidade. O indicador que mede a volatilidade de uma ação mostra quanto ela é sensível às mudanças do cenário econômico e político e do setor em que atua.
Se uma empresa tem dívidas indexadas à taxa básica de juros da economia, que está em 12% ano, ela terá uma dívida cada vez maior toda vez que os juros subirem. E todo mundo sabe que companhias endividadas, geralmente, são penalizadas pelos investidores com a venda de ações e, consequentemente, com a queda nos preços do papel.
Já as empresas exportadoras podem registrar um resultado financeiro mais baixo se houver uma crise internacional e as vendas caírem. Neste caso, os investidores podem vender as ações e derrubar o preço delas. A tabela Baixa Volatilidade mostra as 20 ações que tiveram menos volatilidade nos últimos pregões segundo a Economática. Quanto menor o índice de volatilidade, mais resistente a ação será às oscilações macroeconômicas.
A volatilidade não muda anualmente (salvo algum acontecimento extraordinário que afete a saúde financeira da empresa). Se um papel é volátil hoje, ele deve permanecer assim pelos próximos anos.
Olho nas que pagam mais
Na hora de rever sua carteira de ações, você também deve analisar se a empresa é boa pagadora de dividendos, ou não. As companhias que costumam distribuir parte do lucro aos acionistas na forma de dividendos são aquelas que já estão estabelecidas no setor em que atuam e não precisam reinvestir o lucro para ampliar seu negócio. Geralmente, elas fazem parte dos setores de telecomunicações e energia elétrica.
Além de serem excelentes opções para quem quer ter uma renda para a aposentadoria, essas ações funcionam como papéis defensivos em momentos de instabilidade do mercado financeiro. No ranking com as 20 ações que mais pagaram dividendos nos últimos 12 meses terminados em abril (veja no quadro Boas Pagadoras), você pode optar pelas que tiverem os maiores indicadores.
Os números mostram o ganho que o investidor teve ao aplicar 100 reais naquele papel ao longo do ano. No caso da Eletrobras ON, por exemplo, para cada 100 reais investidos, o acionista recebeu 32,43 reais em dividendos.
“As ações são ótima opção para investidores conservadores e muito mais seguras do que os IPOs [sigla em inglês para Initial Public Offering, que são os lançamentos de novas ações]”, diz Fernando Exel, presidente da Consultoria Economática.
Depois que você compra ações ordinárias, passa a ser sócio da empresa com várias outras pessoas. É natural que espere que haja um tratamento igual entre os acionistas e que todos tenham o mesmo poder de voto nas assembleias que podem decidir o futuro do negócio.
Para descobrir se há algum acionista controlador que tenha mais ações e que pode mudar o rumo da organização, você deve olhar o indicador chamado Free Float, que mede a pulverização dos papéis — quanto maior ele é, melhor para o minoritário.
No ranking da Consultoria Economática, foram consideradas as companhias que têm menos de 5% do capital ordinário em ações nas mãos de um único acionista. A líder foi a companhia BR Malls Participações, que tem todo o capital pulverizado. O respeito ao direito dos minoritários é fato consumado nas bolsas de valores fora do país. Nos Estados Unidos, por exemplo, quase todas as ações das 500 maiores empresas negociadas em bolsa estão pulverizadas.
Se você fez todas as análises para comprar uma ação e decidiu se tornar sócio da empresa, é claro que espera que o negócio dê certo. Para ajudá-lo a descobrir o potencial de sucesso de um empreendimento, há um indicador que mede a relação entre o capital investido e o retorno, o ROE (Return of Equity, na sigla em inglês, que significa Retorno sobre o Patrimônio).
Quanto maior for o número, melhor. No caso da Cielo ON, para cada 100 reais investidos, a empresa deu 179 reais de lucro ao investidor. Para você ter uma ideia, a média de rentabilidade das empresas fica ao redor de 20%.
Inflação, Europa e China
Depois que você aprendeu a escolher as melhores ações entre os 100 papéis selecionados pela Consultoria Economática, é hora de começar a analisar qual será o reflexo da crise internacional e das incertezas macroeconômicas no país para o mercado acionário.
Desde maio do ano passado, o Ibovespa tem oscilado 10% para cima e para baixo, entre os 62.000 e 70.000 pontos. A consequência é que ninguém tem certeza de qual será a tendência da bolsa daqui para frente, mas a maioria dos especialistas considera que o Ibovespa deve registrar uma trajetória de alta a partir dos últimos três meses do ano.
Nenhum dos analistas econômicos recomenda que você venda seus papéis e abandone o mercado acionário. "Agora é hora de fazer uma carteira com ações que paguem bons dividendos e com small caps (ações que são menos negociadas)", diz Clodoir Vieira, economista da Corretora Souza Barros, de São Paulo.
A bolsa de valores é um investimento de longo prazo e quem aposta que o Brasil continuará crescendo deve acreditar que as organizações seguirão em expansão.
O maior receio dos analistas financeiros é que a inflação saia da meta. O Banco Central (BC) determinou que a meta de inflação é de 4,5% para este ano, com a variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
O problema é que nos cinco primeiros meses do ano a inflação já está encostando nos 6,5%. Para frear o consumo, o BC aumentou os juros básicos da economia para 12% ao ano, que servem de referência para todas as operações de crédito, e adotou medidas para esfriar o crescimento econômico.
"Com isso, houve grande saída de investidores estrangeiros da bolsa, porque eles não gostam de ficar em países onde há incertezas sobre a inflação. A bolsa ficou mais volátil e o preço das ações caiu", diz Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos, de São Paulo.
Os papéis que mais sofreram foram os dos setores que dependem do crédito, como construção civil, varejo e bancos. A expectativa é de que, a partir do quarto trimestre, a inflação volte para o centro da meta e o preço das ações se recupere.
Já no cenário internacional, é bom acompanhar a evolução da economia chinesa. A China cresce mais de 10% anualmente há vários anos, mas agora essa expansão pode ser menor porque há mais inflação no país.
Com isso, as empresas brasileiras exportadoras de commodities, como aço e soja, podem vender menos produtos para os chineses e ter lucros mais baixos. Na Europa, a preocupação recai sobre o déficit fiscal de Portugal, Grécia, Irlanda e Itália.
Se não houver ajuda financeira a essas nações, a crise europeia pode se acirrar e interferir no preço das ações das companhias que fazem negócios com a região. Apesar de os Estados Unidos já começarem a esboçar uma melhora econômica, o país ainda continua no radar dos investidores.
Depois de descobrir quais ações podem fazer parte da sua carteira e analisar a expectativa para a bolsa de valores nos próximos meses, é hora de definir quanto você vai investir — se tiver dinheiro sobrando, claro. “O ideal é colocar até 30% da grana em ações”, diz Hugo Azevedo, estrategista da Corretora Santander. Momentos de incerteza podem ser sinônimo de desespero para uns e de oportunidades para outros. Em qual dos lados você quer ficar?