Carreira

O que o brasileiro pode aprender com americanos, alemães...

O que os brasileiros devem aprender com os traços culturais dos outros povos e como essas influências podem ajudar nas relações de trabalho

Escritório de Babel (Ilustração Cellus)

Escritório de Babel (Ilustração Cellus)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2013 às 19h46.

São Paulo - Em uma sala, estão reunidos um chinês, um brasileiro, um sueco, um alemão, um indiano e um americano. Não, você não vai ouvir uma piada que envolve tipos e nacionalidade. Esse encontro multicultural é cada vez mais comum nas salas de reuniões das empresas.

Seja em São Paulo, Tóquio ou Berlim, o brasileiro tem nesses momentos não só uma tarefa a cumprir, mas uma oportunidade incrível de aprender determinadas habilidades que sobram em alguns e faltam em nós. 

Se, por um lado, o perfil do brasileiro é bem aceito e até elogiado nas rodas de negócio, há traços do nosso comportamento que merecem atenção.

De acordo com especialistas, por priorizar as relações, os brasileiros tendem a fugir de conflitos e de temas complexos. Isso pode impactar tanto as avaliações de desempenho (já que os chefes são inclinados a avaliar todos medianamente) quanto o andamento dos negócios — em vez de dizer diretamente para o outro que não gostou de um projeto ou de uma atitude, o profissional brasileiro primeiro reclama para um, para outro e mais outro, até a história chegar ao destino original. 

A disciplina alemã, a eficiência americana, a persistência indiana, passando pela busca da excelência do chinês e a habilidade de promover a inclusão no ambiente de trabalho dos suecos são qualidades que podem aperfeiçoar os atributos do profissional do Brasil.

Contudo, fica o alerta de Almiro dos Reis Neto, presidente de Franquality, consultoria especializada em liderança e cultura: “Quem acha que pode copiar um processo de gestão de um país para outro está enganado. Cultura não se transfere. Mas aprender e se inspirar é sempre possível”.

Características globais

Os brasileiros poderiam, por exemplo, aprender com os americanos a ser mais diretos. Esse povo tem característica individualista. Voltados para resultados, os americanos são extremamente confiantes e se sentem relativamente livres das influências restritivas do grupo, segundo um estudo de cultura global realizado pela Thomas, uma consultoria especializada em soluções de gestão de pessoas.


Isso faz com que eles vão direto ao ponto, mesmo que isso afete a relação com o companheiro de trabalho. “Americanos chegam ao emprego pontualmente, sentam em frente ao seu computador e trabalham direto até a hora de ir embora — também respeitada à risca”, diz Vanderli Frare, coordenadora e professora do curso de gestão de pessoas da faculdade Ibmec-DF.

Ainda faltam ao brasileiro o respeito a políticas e procedimentos (inclusive de horários) e essa capacidade de ir direto ao ponto na hora de tomar decisões.

Aprender a se planejar melhor, ter metas e objetivos também contribuiria para um melhor desempenho dos profissionais brasileiros — e nisso os alemães têm muito a ensinar. Eles são capazes de absorver informações detalhadas sobre uma grande variedade de assuntos e, a partir delas, executar uma ação — com perfeição.

“No momento em que uma tarefa foi definida e eles começaram a executá-la, ai de quem resolve mudar no meio do caminho”, afirma a coordenadora do Ibmec. “Se for preciso, os alemães vão acionar o presidente para evitar que isso os impeça de realizar o que tinham proposto.”

Claro que ninguém quer ver os brasileiros tão inflexíveis assim. Então, uma boa ponderação pode vir dos suecos. Como na Suécia as diferenças sociais são menores e os profissionais, mais nivelados, o processo de tomada de decisão acontece de forma coletiva, com a liderança verdadeiramente envolvendo os profissionais de diferentes níveis e distribuindo a informação de forma mais eficiente.

No Brasil, o poder ainda está concentrado nas mãos de poucos, que tomam decisões que influenciam um grande número de pessoas. “Precisamos aprender com os suecos a promover a inclusão no ambiente de trabalho. Somente dessa forma as pessoas entendem o processo de decisão e ficam propensas a seguir o que foi decidido”, diz o presidente da Franquality.

Para os especialistas, os brasileiros também precisam aprender a ser disciplinados, como os chineses, e persistentes, como os indianos. “Antes de desistir de algo, o indiano vai procurar diversas soluções e alternativas”, diz Rejane Matos, coordenadora de inteligência de mercado da Thomas. Aqui no Brasil, ao começar algo e perceber que será muito difícil concluir, as pessoas geralmente já desistem.


As qualidades verde-amarelas 

Tudo bem que há inúmeras habilidades que o brasileiro pode (e deve) aprender, mas ele também tem o que ensinar. “O Brasil é um país multicultural, eclético, formado por povos de diversas origens — o que nos oferece uma grande vantagem perante os demais”, diz Vanderli Frare. “Isso nos torna mais adaptáveis, prontos para lidar e aprender com toda essa heterogeneidade.”

Essa capacidade de adaptação faz com que os brasileiros também sejam mais flexíveis e enxerguem saídas criativas para as situações difíceis — algo que tem despertado a atenção no cenário internacional.

“Somos muito relacionais. É de nossa natureza ter facilidade para trabalhar em time e lidar com novas pessoas”, diz a professora. A simpatia e o jeito amável dos brasileiros também facilitam na harmonização de ambientes e equipes. “O brasileiro é feliz e isso se reflete na forma como trabalha — algo fundamental e que deveria ser copiado por outros países”, diz Vanderli.

Suécia

Altamente coletivistas, disciplinados e focados no dia a dia de trabalho, os suecos trabalham bem em equipe e compartilham entre si os processos de decisão, gerando um interessante processo de inclusão. Vivendo em um país altamente desenvolvido e com políticas trabalhistas muito favoráveis aos trabalhadores, eles têm um forte senso de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho e lidam bem com a diversidade de gênero no mundo corporativo.

A prova disso é que tanto o homem quanto a mulher tem direito à licença-maternidade e ambos costumam alternar o cuidado com os filhos e a casa. “Nisso eles estão muito à frente do Brasil, temos muito que aprender com eles”, diz Vanderli Frare, do Ibmec.


China

Os chineses sofrem a influência do autoritarismo ditatorial, o que os faz lidar com o poder de forma severa. Nas corporações, os níveis hierárquicos não se relacionam e cada empregado sabe claramente qual é seu papel. A disciplina no trabalho é outra característica forte nos orientais, além do estilo mais comedido de se comportar.

“Mesmo em uma reunião de trabalho, o chinês só dá a sua opinião sobre determinado assunto se for diretamente convidado”, diz a professora Vanderli Frare, do Ibmec. O salto econômico que o país deu nos últimos anos também é fruto de outra marca registrada de seu povo: a perseverança.

“Por viverem em uma sociedade muito seletiva, onde poucos conseguem chegar aonde desejam, eles são absolutamente obcecados por serem os melhores e buscam sempre a excelência no que estão fazendo”, diz Vanderli. Disciplina e foco no planejamento também são traços comumente encontrados nos chineses.

Alemanhã

Focados, disciplinados e seguidores fiéis de políticas e procedimentos, os alemães não gostam de mudar os planos no meio do caminho. “Se você não quiser arrumar um inimigo para a vida toda, nunca tente alterar o que foi planejado ou estipulado como meta por um executivo alemão”, diz Vanderli.

Bastante lógicos e sistemáticos, eles trabalham duro, de modo ordenado, e desenvolvem suas amizades com base na confiança e na e sinceridade. Os germânicos agem com tato no ambiente  de trabalho e raramente contrariam os outros de modo intencional. São bons aconselhadores e gostam de fazer parte de equipes.


Estados Unidos

Quer deixar um americano chateado? Basta chamá-lo de loser (fracassado, em inglês). Voltados para resultados e sempre em  busca de novos horizontes, eles focam no sucesso. Com perfil bastante individualista, são altamente confiantes em si próprios, o que os leva a  preferir trabalhar sozinhos ou buscar soluções sem a ajuda de seus colegas. Trabalham com equipes, mas não necessariamente em equipes.

“Muitas vezes, os companheiros de trabalho são um meio para que o americano conquiste o que almeja”, afirma Almiro Reis Neto, da Franquality. Por serem disciplinados e seguirem os procedimentos da empresa à risca, têm alta produtividade. Contudo, são pouco criativos e imaginativos. Americanos são bastante autocríticos e, muitas vezes, aplicam os mesmos critérios às demais pessoas. São bons em dar e receber feedback.

Índia

Por viverem em um país com muitas adversidades e já terem lidado com diversas crises, os indianos têm um traço muito forte na forma como lidam com o trabalho: a persistência. “O trabalhador indiano aprende com os erros do passado e raramente desiste diante de uma situação adversa”, diz Rejane Matos, da Thomas.

A divisão da sociedade em castas, segundo Almiro Reis Neto, da Franquality, também influencia o mundo corporativo. “Dificilmente um líder promove um empregado de uma casta diferente da sua. Ou seja, se você nasceu para ser operário, vai continuar sendo operário”, diz. Tirando a paciência, os indianos têm características parecidas com as dos brasileiros. Amáveis, gostam de lidar com pessoas e evitam tomar decisões duras, impopulares. Fogem de confrontos, especialmente nas áreas em que não têm um conhecimento especializado.

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaÁsiaChinaEstados Unidos (EUA)EuropaÍndiaPaíses ricosSuécia

Mais de Carreira

Você fala estas 12 frases com frequência? Isso indica uma alta inteligência emocional

5 profissões para quem gosta de artes plásticas

Seis habilidades essenciais de liderança — e como desenvolvê-las

Como responder 'Como você lida com prioridades conflitantes?' na entrevista de emprego