Raquel Ucendo, da Novartis Brasil: O monitoramento da equidade salarial é algo contínuo que deve fazer parte do dia a dia das organizações (Divulgação: Overearth/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 8 de março de 2024 às 07h10.
Por Raquel Ucendo, diretora de People & Organization da Novartis Brasil
Trabalhos iguais devem ser remunerados de maneira igual. Tão simples quanto óbvia, infelizmente esta máxima não reflete a realidade do Brasil: dados de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que as mulheres brasileiras recebem, em média, 22% a menos do que homens em posições similares. Um cenário que causa indignação e exige responsabilidade e respostas ativas por parte de toda a sociedade, sobretudo das empresas.
No fim do ano passado, foi regulamentada a Lei de Igualdade Salarial, que estabelece equidade de remuneração entre os gêneros, prevendo fiscalização, multas e sanções em caso de descumprimento da norma. A nova regra é um avanço e ainda vamos observar quais serão seus efeitos práticos. No entanto, ela não encerra o debate sobre o tema, já que, mais do que evitar uma punição, é preciso que os empregadores compreendam que promover igualdade entre gêneros impacta positivamente a sociedade, fortalecendo o mercado de trabalho, incrementando qualidade de vida para as famílias, acelerando a economia do país, como um todo.
Nesse sentido, a nossa jornada aqui na Novartis tem sido bastante interessante. Temos uma política de equidade e transparência salarial desde 2018, quando fizemos uma promessa pública com a Equal Pay International Coalition (EPIC), coalizão das Nações Unidas que advoga por salários iguais para homens e mulheres, e traçamos estratégias e objetivos para melhorar nossos processos nesta área e alcançar o equilíbrio de gênero em todas os cargos.
O trabalho envolveu medidas em diferentes frentes: revisamos nosso cenário para corrigirmos qualquer distorção identificada, eliminamos o histórico salarial para contratações e movimentações, removendo assim vieses inconscientes; também passamos a realizar treinamentos e conversas para que todos compreendam a nossa política de remuneração, que, vai muito além da questão salarial exclusivamente. Conscientizamos sobre a importância de criarmos, conjuntamente, um ambiente que envolve uma proposta de valor maior a partir de benefícios diversos, práticas que visam um ambiente de alta segurança psicológica e propício ao bem-estar e o desenvolvimento de talentos com foco na autonomia com responsabilidade.
Outra ação importante, foi o lançamento da iniciativa de Transparência Salarial, que forneceu ao funcionário visibilidade de como sua remuneração se compara com o mercado externo e pares internos. Desde então, progredimos muito rumo a equidade salarial e de gênero na companhia. Atualmente, mais da metade de nosso quadro de funcionários é formado por mulheres e 58% dos cargos de liderança são ocupados por elas. Ter diversidade de gênero e de olhares nas equipes, especialmente em posições de liderança, mostrou-se essencial, ainda mais em uma empresa que tem como propósito melhorar a vida das pessoas.
Mesmo com as iniciativas não significa que o salário de todos os funcionários que exercem a mesma função é exatamente igual. Toda a bagagem de habilidades, experiência e qualificações, deve estar refletida no salário. O que queremos assegurar com nossa política é que as funcionárias tenham oportunidades iguais de crescer em suas carreiras e contribuir para a empresa. E que diferenças salariais estejam baseadas em critérios técnicos e não em vieses de gênero que já não cabem no século 21.
O monitoramento da equidade salarial é algo contínuo que deve fazer parte do dia a dia das organizações. No mês em que celebramos o Dia Internacional das Mulheres, precisamos que este debate se amplifique cada vez mais, até um ponto em que esteja tão enraizado em nossa sociedade que possa deixar de ser um tema de discussão para esta data. Mais do que o certo a ser feito, igualdade de salário é essencial para um futuro mais diverso e equânime.