Driblando a falta de profissionais
Empresas de TI adotam estratégias diferenciadas para atrair e reter novos funcionários. O setor enfrenta um déficit de 100.000 trabalhadores
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2013 às 16h54.
São Paulo - Imagine uma área de atividade em que há mais empregos do que profissionais. E isso não é culpa dos salários baixos, já que em média um trabalhador desse setor ganha 6.000 reais por mês. Só há uma exigência: você precisa dominar a técnica e, quanto mais qualificado, melhor.
Já adivinhou qual é o setor? Isso vem acontecendo na área de tecnologia da informação (TI), cujos profissionais desenvolvem programas e dão suporte a outras áreas que dependem dos computadores e sistemas de uma companhia, ou seja, a empresa inteira.
“O setor tem cerca de 800.000 trabalhadores e faltam outros 100.000”, diz Luís Mário Luchetta, presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro). E as empresas estão cada vez mais desenvolvendo projetos que envolvem tecnologia. “Fora isso, muitas multinacionais vieram para o Brasil.” Ao todo o país tem 6.000 empresas, 94% delas de micro ou pequeno porte.
O analista de sistemas paulistano Rubens Del Monte, de 27 anos, é um exemplo de quem está se dando bem em TI. Ele terminou a faculdade em 2007 e é gerente de projetos da consultoria espanhola Indra. “Nunca fiquei desempregado”, diz o analista. Ele fez curso de aperfeiçoamento na Venezuela e na Espanha.
E agora pode receber uma promoção lateral, ocupando outro cargo de gerente na empresa, ou virar diretor. Ao contrário de muitas outras carreiras em que, por exemplo, saber dominar uma reunião já conta pontos, em TI o que vale mesmo é o aprendizado. “A melhor maneira de crescer é ter um conhecimento técnico. Quanto mais certificados de conclusão de curso, melhor”, afirma.
A Indra optou por testar esses conhecimentos dando preferência a jovens talentos e os treinando até que estejam preparados. “Só em 2011 já abrimos 200 vagas e devemos abrir outras 200 até dezembro”, diz Osvaldo Pires, diretor de RH da empresa.
A companhia procura jovens de 19 a 24 anos que tenham formação em cursos de tecnologia. Os salários para quem começa lá beiram os 2 800 reais. Um profissional sênior ganha 6 000 reais. “Agora, se a especialidade dele for mais requisitada, se ele dominar o sistema SAP, esse valor sobe para 10.000 reais.”
Há dois anos, o paulistano Diego de Paula Ferraz, de 26 anos, começou a trabalhar na empresa. Mandou currículo, fez os testes e passou. Recebeu três promoções, é líder de equipe e o salário subiu 60% desde que conseguiu entrar na companhia. Como existe escassez de bons profissionais, as empresas levam meses para preencher as vagas na área de TI.
A Itautec chega a ficar com uma vaga em aberto por até três meses e meio. “Há dois anos, levávamos 15 dias para encontrar um bom profissional”, diz Eduardo Pellegrina, diretor de RH da empresa. E atenção aos salários: na Itautec o contracheque de quem trabalha com TI vai de 1.200 reais a 20.000 reais. “Quanto mais especializado, mais valorizado é o profissional desta área”, diz Eduardo. “Hoje, temos 160 vagas em aberto.” Dos 6.000 funcionários da companhia, 3.500 estão no departamento de TI.
Assim como em outras organizações do setor, a Itautec vê com bons olhos jovens recém-formados. Na última seleção de trainees, 5 000 candidatos se inscreveram para concorrer a 50 vagas.
“Esta é uma das melhores maneiras para se formar um profissional”, diz Eduardo. Esta também é a técnica adotada pela Telefônica. “Temos de atrair universitários para formá-los. É isso, ou ficar roubando profissionais de outras empresas”, diz Françoise Trapenard, diretora executiva de RH da companhia.
Por que falta gente?
A leitura de Françoise é de que há uma desvalorização da carreira técnica. “Os jovens simplesmente não querem seguir esse caminho”, afirma. Resultado: ela leva mais do que o dobro do tempo para fechar uma vaga em TI em relação a outras áreas.
Na BRQ IT Services, valem duas regras para descobrir novos talentos: os tradicionais testes de seleção e a indicação de funcionários da casa. “Os jovens não sabem que esta carreira é bacana e que não há desemprego. Hoje, tenho 2.500 funcionários e preciso contratar mais 250”, afirma o presidente da empresa, Benjamin Quadros.
A Tivit avalia profissionais em três aspectos: conhecimento técnico, acadêmico e competências comportamentais. “Algumas tecnologias que deixaram de fazer parte da grade curricular, mas que ainda são buscadas pelas empresas, são boas opções de especialização, como a linguagem Cobol e Mainframe”, diz Marcello Zappia, diretor de desenvolvimento humano e organizacional.