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Dos pés à cabeça: ela começou como modelo e agora é a CEO da Arezzo&Co

A executiva Luciana Wodzik compartilha à Exame o caminho que percorreu para conseguir chegar à cadeira de presidente. É a primeira vez que o grupo tem uma mulher CEO e não fundadora

Luciana Wodzik, CEO da Arezzo&Co: “Apesar de moda atrair muitas mulheres, ainda é um desafio cultural ter mulheres na liderança” (Arezzo&Co/Divulgação)

Publicado em 27 de agosto de 2024 às 16h12.

Última atualização em 27 de agosto de 2024 às 17h01.

“Um passo de cada vez”. Essa frase popular faz muito sentido na carreira de Luciana Wodzik, atual CEO da Arezzo&Co, unidade de negócio dentro do grupo Azzas 2154. Nascida em Belo Horizonte, Wodzik começou a carreira como vendedora e gerente de loja no varejo de moda.

“Eu sempre amei essa conexão de moda, varejo e pessoas”, afirma a CEO.

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Ainda cursando a faculdade de Administração, Wodzik ouviu falar sobre uma oportunidade de ser modelo de calce (o equivalente a uma modelo especializada em vestir calçados). Para a vaga da época, era preciso ter o pé número 35 e atender a largura do sapato.

“Coincidentemente, eu atendi a essas características e dei o meu primeiro passo no grupo Arezzo”, diz Wodzik que passou a frequentar as grandes feiras de calçados do Brasil.

Durante os eventos, o lado vendedor da mineira falou mais alto do que a imagem dos seus pés. Era 1995, quando o fundador Anderson Birman notou que a modelo tinha potencial para vendas e a convidou para um cargo na companhia, que na época era só a marca Arezzo.

“Comecei na área de franchising em um momento de forte expansão da companhia, tanto que participei da abertura de mais de 100 lojas”.

A mudança que somou no negócio

A vida pessoal de Wodzik tomou novos rumos também. Em 1999, a executiva se casou e foi viver na Bahia, estado que não tinha escritório e nem estrutura regional. Foi neste momento que Wodzik, com base em um curso avançado de franchising, criou um projeto de consultores e coordenadores regionais. Com a aprovação de Anderson Birman, criaram em 2000 um novo modelo de servir da marca Arezzo.

“Começamos a faturar na região Nordeste, que até hoje é a regional de maior market share da marca”, afirma Wodzik. “Além disso, com esse movimento, introduzimos o home office como parte do negócio antes mesmo da pandemia”.

Enquanto Wodzik cuidava das operações do Nordeste, a marca Arezzo cresceu no cenário nacional. Em 2007, os sócios da Arezzo e da Schutz realizaram a fusão das empresas criando a Arezzo&Co, com 25% de participação da Tarpon Investimentos.

Passos mais largos, saltos mais altos

Foi na Bahia que a executiva ganhou mais um papel: o de ser mãe. Com a missão de mãe de primeira viagem, Wodzik não deixou a vida corporativa de lado e no mesmo ano recebeu uma oferta para voltar a São Paulo com uma grande promoção.

“Em 2011, quando Alexandre Birman se tornou CEO e o Anderson foi para o conselho, eles me convidaram para mudar para São Paulo e assumir o canal nacional de franquias da marca Arezzo”, diz a executiva que na época ocupou o cargo de gerente nacional.

A proposta elevaria o patamar de carreira de Wodzik, que afirma que até hoje, considerando o grupo Azzas 2154, é a gerente do canal de franquias da marca Arezzo que tem o maior faturamento entre todos os gerentes do grupo.

“Esse canal de franquias da Arezzo sempre foi muito relevante quando a gente era Arezzo&Co e continua sendo o principal canal entre as 34 marcas do grupo Azzas 2154”, afirma a CEO da Arezzo&Co.

Com o papel de expandir a marca Arezzo por meio de franquias em todo o Brasil (uma vez que não existia gerente nacional em 2015), Wodzik chega em São Paulo e formata o projeto Light, que é um estilo de franquia da Arezzo com menores custos de operação e de modelo de suprimento para atender a cidades menores de até 100 mil habitantes que ainda não tinha uma loja da Arezzo.

“Em 2015, estávamos com uma média de 300 lojas e chegamos no fim do ano com quase 450 lojas”, diz.

O segundo filho de Wodzik chegou em 2017 e, após a licença maternidade, Wodzik teve como proposta assumir as marcas Fiever e Schutz.

“Um dos desafios dessa época foi assumir a marca Schutz. Em 2018 enfrentamos um desafio nos resultados que foi superado, até chegar a pandemia”, diz a executiva.

Tempos difíceis fazem bons marinheiros – e CEOs

O maior desafio de Wodzik na pandemia foi manter os franqueados com sustentabilidade em um momento de crise global.

Com o trabalho de revisitar o posicionamento da marca em 2020, Wodzik quis impulsionar a marca, mesmo com cerca de 450 lojas fechadas. “Busquei colocar a marca mais pulsante, com um viés de moda mais forte e começamos a entregar a marca Arezzo acima de dois dígitos”.

Com o resultado financeiro e expansão da marca, Wodzik se tornou na época diretora-executiva de todas as marcas da Arezzo&Cor, ficando sob sua gestão, Arezzo, Brizza Arezzo, Anacapri, Alme, Schutz e Alexandre Birman, além das lojas internacionais da Schutz e Alexandre Birman (em Nova Iorque e em Miami), e marca Arezzo (na Macy's).

Enquanto assumia todas as marcas do grupo, aconteceu a fusão do grupo Soma com Arezzo & Co no início deste ano, momento em que Alexandre se torna CEO de toda a plataforma Azzas e nomeia Wodzik como CEO da Arezzo&Co.

“Até então tinha sido uma sucessão de pai para filho, mas quando assumi o cargo, me tornei a primeira mulher e não fundadora a ocupar a cadeira de presidente do grupo”, afirma Wodzik.

Igualdade feminina no topo

A CEO da Arezzo&Co tem algo parecido com Gabriela Rizzo, CEO da Malwee: são as primeiras mulheres a ocupar o cargo de CEO de uma empresa familiar do setor da moda.

O movimento de mais mulheres na liderança, em que há mais mulheres passando o degrau do cargo de coordenação para direção e presidência está acontecendo, mas ainda em passos lentos. Segundo a 8ª edição do estudo "Women in the Boardroom", realizado pela Deloitte, apenas 6% de CEOs são mulheres no mundo todo. No Brasil, a representação de mulheres em cargos de CEO aumentou de 0,8% para 2,4% em 2023.

“Apesar de moda atrair muitas mulheres, ainda é um desafio cultural ter mulheres na liderança”, diz a CEO da Arezzo&Co.

Para Wodzik, o desafio é como estimular a energia da competitividade nas mulheres no mercado de trabalho, uma vez que esse tipo de energia era mais incentivada nos homens desde a infância, além de treinar líderes para quebrar vieses discriminatórios desde o processo de seleção até a promoção.

“Temos apostado em ações como comitês de diversidade, metas financeiras atreladas à inclusão e treinamentos de liderança para mulheres para motivar e eleger mais mulheres em altos cargos na companhia”, diz a CEO da Arezzo&Co.

Até o momento, a Arezzo&Co já apresenta como dados de igualdade de gênero:

Quando o recorte é sobre o grupo Azzas 2154, os números também mostram um avanço na liderança feminina:

“Com certeza é o meu desejo e é o nosso propósito como companhia alcançar a igualdade de gênero. Estamos muito engajados nessa frente e em breve vamos bater a meta da ONU de alcançar 50% das mulheres na liderança até 2030”, diz Wodzik em referência à meta do Pacto Global da ONU.

O foco na consolidação do mercado americano, especialmente em Nova York e Miami, segue como outro objetivo da CEO da Arezzo&Co. No Brasil, não há planos imediatos de expandir o número de lojas, mas sim fortalecer a presença existente.

No primeiro semestre de 2024, o e-commerce da Arezzo&Co apresentou uma receita bruta de R$ 694,7 milhões. Atualmente, Arezzo representa 29,3% do faturamento da companhia no 1S24 e totaliza R$ 774 milhões de receita bruta.

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