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Cuidado com os ganhos fáceis na internet

Há centenas de sites na web que oferecem rendimentos altíssimos em aplicações de câmbio e commodities. A maioria é golpe

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2013 às 15h24.

São Paulo - A oferta é tentadora: você aplica 1.000 dólares por meio de uma corretora sediada no exterior e ganha até 5 000 dólares em uma semana. Pelo simples fato de ter aberto uma conta, já terá como crédito um bônus de 200 dólares para começar a brincar no mercado internacional de moedas.

Melhor ainda. Ao indicar amigos também interessados em obter rendimentos altos, você ganha um percentual sobre o investimento deles. Não acredita? É só baixar o software e fazer algumas simulações. O dinheiro rapidamente começa a render e você até se pergunta: afinal, por que o meu gerente no banco não oferece algo parecido?

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A resposta muitos investidores descobrem apenas quando tentam sacar o saldo disponível: foram vítimas de uma fraude. “Não são poucos os internautas à procura de juros atraentes que topam com ofertas sedutoras de dinheiro fácil, envolvendo principalmente o forex (foreign exchange), um tipo de investimento que se faz apostando simultaneamente em moedas estrangeiras”, diz Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais de São Paulo (Apimec-SP).

O forex tem operações apenas pela internet. E esse é o problema. Há milhares de sites fajutos que se passam por corretoras internacionais, prometendo juros mirabolantes e simulando uma operação aparentemente perfeita. O investidor acompanha suas aplicações em tempo real e acredita que está ganhando a maior bolada ao acertar, por exemplo, que o dólar da última quinta-feira se desvalorizou em relação ao iene japonês.

Os sites chegam a apresentar vídeos explicativos e até uma seleção de notícias de agências de informações como a Reuters. Tudo fachada.


“Em um dos casos que investigamos a empresa, cujo site dava a impressão de ser de uma corretora de Nova York, era, na verdade, de uma pessoa operando de um notebook a partir de uma residência em uma cidade do interior fluminense”, diz José Alexandre Cavalcante Vasco, superintendente de orientação e proteção aos investidores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão fiscalizador do mercado financeiro, que desde 2005 detectou mais de 100 arapucas desse tipo no Brasil.

Em que pese os trapaceiros de plantão, o mercado forex existe de verdade. Mas não é recomendado a investidores leigos, apenas aos especializados, como bancos e multinacionais. Na prática, aplicações em forex consistem na compra de uma moeda e a simultânea venda de outra, ou seja, as moedas são negociadas em pares.

Digamos dólar e iene. “O investidor aposta em qual será a diferença entre a valorização e a desvalorização dessas moedas em determinado momento”, diz Fernando Botti, diretor da Atrattore, consultoria de ensino em investimentos, de São Paulo.

A vantagem para um investidor especulativo está em poder negociar com alavancagem, ou seja, tendo apenas uma pequena fração do dinheiro que seria necessário para comercializar as moedas físicas. “As margens variam entre as corretoras, mas há aquelas que oferecem até 100:1. Isso significa aplicar 1.000 dólares e apostar 100.000 dólares”, diz Fernando Botti.

No caso de ganho, em que a moeda escolhida varia, por exemplo, 1 centavo para cima ou para baixo — dependendo da aposta feita —, o retorno pode atingir mais de 30% ao mês, chegando ao equivalente a 400% ao ano. Nem é preciso dizer o que acontece quando a aposta resulta num movimento contrário ao do mercado.

Ganho fácil não existe

Para confundir ainda mais os incautos, há corretoras que trabalham misturando diferentes investimentos alavancados, além do forex, passando a falsa sensação de que estão diluindo os riscos do investidor ao não concentrar todos os ovos na mesma cesta. No entanto, o que acontece é exatamente o oposto.

“Apostar em uma mistura de câmbio, ações e derivativos é apostar quase sempre na volatilidade, que nada mais é do que lidar com oscilações bruscas nas cotações, que podem fazer um investidor leigo dormir milionário e acordar falido”, diz Reginaldo, da Apimec-SP.
Para começar, muitas dessas operações são negociadas apenas entre corretoras — nem todas de boa índole, como se pode observar —, fora da plataforma oficial e regulamentada das bolsas de valores. Tecnicamente, é o que se chama de “mercado de balcão”.


“O mercado de balcão não é necessariamente ilegal. São as transações realizadas diretamente entre as partes por telefone, sistemas eletrônicos e internet. Não há uma operação centralizada, mas uma rede entre as instituições interessadas”, diz José Alexandre, da CVM. O problema é que a maior parte dos investimentos de ganho fácil não existe.

“O administrador do site simplesmente pega o seu dinheiro e some, ou alega perdas por culpa da má configuração do software por parte do investidor”, diz Fernando, da Atrattore.

O internauta pode ainda estar fazendo movimentações ilegais. Isso porque nenhuma corretora brasileira está habilitada a oferecer o forex (pelas regras cambiais do país, não é permitido em algumas circunstâncias remeter recursos para investir em derivativos no exterior).

Aproveitando-se disso, corretoras usam estruturas virtuais de paraísos fiscais para traduzir seus sites para diversos idiomas, inclusive português. Além disso, cooptam espécies de representantes locais, que recebem comissões para atrair investidores daquele país com disposição para aplicar dinheiro. Não é à toa que os fóruns de discussão e redes sociais estão abarrotados de consultores supostamente entendidos oferecendo seus serviços.

“A dica para quem quer aplicar em forex legítimo ou fugir de aplicações desonestas é verificar se a entidade está apta a operar com autorização das entidades de fiscalização, como CVM e Banco Central, ou similares do país de origem, como a NFA, nos Estados Unidos”, diz Reginaldo, da Apimec-SP. Em suma, nunca o velho ditado popular fez tanto sentido: “Quando a esmola é grande, o santo desconfia”.

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