Carreira

Crise dos opiáceos invade ambiente de trabalho nos EUA

Na fábrica ou no escritório, funcionários drogados podem atrapalhar a produtividade, um dos pontos nevrálgicos da economia dos EUA

Acidentes de trabalho: cerca de dois terços daqueles que informam o uso indevido de analgésicos estão na folha de pagamento (Aaron P. Bernstein/Bloomberg)

Acidentes de trabalho: cerca de dois terços daqueles que informam o uso indevido de analgésicos estão na folha de pagamento (Aaron P. Bernstein/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2017 às 18h14.

Washington - Na fábrica de processamento de alimentos de Philip Tulkoff, em Baltimore, as máquinas trituram raiz-forte, transformando as raízes em purê. “Se você colocar o braço no lugar errado”, diz o proprietário, “e você não estiver prestando atenção, ela vai puxá-lo para dentro”. Este não é um bom lugar para estar drogado.

O uso abusivo de drogas na força de trabalho é um desafio crescente para as empresas americanas. Embora os economistas tenham prestado mais atenção ao papel da epidemia dos opiáceos em deixar as pessoas fora do trabalho, cerca de dois terços daqueles que informam o uso indevido de analgésicos estão na folha de pagamento. Na fábrica ou no escritório, esses funcionários podem atrapalhar a produtividade, um dos pontos nevrálgicos da economia dos EUA. No pior dos casos, eles podem colocar a si mesmos e a seus colegas em perigo.

É por isso que Tulkoff implementou uma prática tolerância zero. Um empregado escolhido aleatoriamente é submetido a testes todos os meses, e a companhia vai “passar a testar dois”. Os custos aumentam: ele precisa contratar uma empresa terceirizada para selecionar o trabalhador e pagar a clínica para realizar os testes. Dinheiro é desperdiçado treinando trabalhadores que acabam saindo do emprego quando não passam no teste.

Além disso, existem os custos da assistência adicional. A Castlight Health, uma plataforma de benefícios, estima que os funcionários que fazem uso abusivo de opiáceos custam aos empregadores quase o dobro das despesas de saúde dos demais colegas de trabalho — um adicional de US$ 8,600 por ano.

"Não posso"

Não é de admirar que nem todos os chefes sejam tão rigorosos quanto Tulkoff. “Conheço pessoas que disseram: ‘não posso fazer isso, eu perderia gente demais’”, diz ele.

No momento, 57 por cento dos empregadores dizem que realizam testes de drogas, de acordo com o Conselho Nacional de Segurança dos EUA. Desses, mais de 40 por cento não testam opiáceos sintéticos, como a oxicodona — um dos narcóticos mais amplamente abusados e uma das substâncias que são alvo das novas normas federais.

A partir do próximo mês, muitos funcionários do governo federal dos EUA que fazem testes de drogas terão que se submeter a um exame mais abrangente — uma resposta a uma crise cada vez maior. Os opiáceos mataram cerca de 33.000 americanos em 2015, mais do que qualquer outro ano registrado. As empresas privadas não são obrigadas a seguir o exemplo de Washington, mas em algumas áreas elas costumam fazê-lo.

As fábricas, com sua maquinaria pesada, são onde os trabalhadores que abusam de drogas podem provocar o dano mais imediato a si e a seus colegas. Mas até mesmo nesse setor os empregadores se sentem tentados a fazer vistas grossas, de acordo com Mike Galiazzo, presidente do Instituto Regional de Manufatura de Maryland.

“Ao longo dos anos, ouvi fabricantes dizerem que gostariam de não ter que fazer testes de drogas, porque perdem dinheiro quando não conseguem preencher esses cargos”, disse ele.

A contratação está cada vez mais difícil. Embora a economia tenha gerado empregos depois da crise financeira, o grupo de trabalhadores disponível não se expandiu do mesmo modo. A fatia de americanos em idade ativa no mercado de trabalho está estagnada em cerca de 63 por cento, uma queda de mais de quatro pontos porcentuais desde 2000 — o mesmo período em que a epidemia de opiáceos disparou. Há uma “falta extrema de trabalhadores qualificados”, diz Galiazzo.

 

Gráfico da Bloomberg

Gráfico da Bloomberg (Gráfico/Bloomberg)

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