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Conexão mente-corpo

Uma das áreas da medicina que mais tem se desenvolvido nos últimos tempos é a medicina psicossomática. Hoje, aceita-se que várias doenças podem se instalar por influência direta de alterações psicoemocionais. É clássica a ligação que existe entre o nervosismo e a úlcera gástrica, entre o medo e a asma brônquica, entre o stress e […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h33.

Uma das áreas da medicina que mais tem se desenvolvido nos últimos tempos é a medicina psicossomática. Hoje, aceita-se que várias doenças podem se instalar por influência direta de alterações psicoemocionais. É clássica a ligação que existe entre o nervosismo e a úlcera gástrica, entre o medo e a asma brônquica, entre o stress e o herpes simples, e até entre a depressão e o câncer. Institutos de medicina psicossomática proliferam pelo mundo. Há médicos que alegam que todas as doenças ? isso mesmo, todas ? sem exceção, apresentam, pelo menos um componente psicossomático.

Esse conceito, apesar de estar sendo muito valorizado ultimamente, não tem nada de novo. Hipócrates, 400 a.C., já se referia à influência da mente sobre o corpo. Os hormônios, tão conhecidos hoje, receberam dos gregos o nome de humores, em função da influência do humor (estado emocional) sobre o estado de saúde da pessoa. De modo simplificado, podemos nos referir ao fantástico complexo de estruturas neurológicas, endócrinas e substâncias químicas que permeiam a ligação da mente com o corpo, apenas por conexão mente-corpo, ou ainda conexão psico-fisiológica. A conexão mente-corpo é, portanto, suposta há muito tempo e conhecida recentemente. O que é mais recente ainda é que essa conexão é, sim, uma via de duas mãos. Ou seja, da mesma maneira como a mente influencia o corpo, o corpo influencia a mente. A isso podemos chamar de conexão ascendente.

Entre as dezenas de neurotransmissores que o cérebro produz, um dos mais pesquisados é a beta-endorfina. Bastante conhecida por aqueles que gostam de esporte, a beta-endorfina é um analgésico natural, produzido quando durante intensa atividade física. A finalidade é proteger o corpo da dor provocada pelas possíveis lesões do esporte, ou da batalha. Você já ouviu falar de alguém que se machuca jogando futebol, mas só vai sentir dor depois que o corpo esfria ? É por causa da endorfina. A endorfina tem mais efeitos sobre nosso corpo e sobre nossa condição emocional. É um poderoso antidepressivo e um estimulante. Que tipo de estímulo? Aqui vem a melhor parte. Sob efeito de doses altas de endorfina, a pessoa experimenta elevação de uma combinação de quatro estados mentais ótimos: bem estar, autoconfiança, otimismo e serenidade.

Não é fantástico? Será que não é assim que você gostaria de sentir sempre? E especialmente em momentos difíceis, quando você está sendo mais exigido, como no momento de enfrentar uma importante reunião de negócios, por exemplo? Os momentos em que há elevação significativa dessa substância estão ligados com a atividade física, como praticar esporte, dançar ou fazer sexo. No entanto, você pode ter, ou não, níveis bons de neurotransmissores estimulantes através da simples postura corporal adequada. Atitudes corporais corretas, como manter a coluna reta, ombros para trás, cabeça erguida, sentar-se sobre os ísquios (ossos da região glútea, próprios para sustentar a carga do corpo sentado) e não sobre o cóccix (ossos que constituem o final da coluna vertebral), como manda a natureza, e manter um sorriso fácil no rosto, são garantias de receber como contrapartida um ótimo estado mental.

No Japão antigo, os guerreiros samurais eram conhecidos por sua postura firme e desafiadora. Ela intimidava os inimigos, que já entravam na luta derrotados psicologicamente. Os samurais usavam uma faixa elástica chamada kikurigoshi amarrada à bacia. A finalidade da faixa era a de pressionar os ossos da bacia, o que cria um reflexo que passa para a coluna e a deixa mais reta. Não é possível ficar curvado usando o kikurigoshi. Essa técnica milenar ainda é utilizada em muitas artes marciais. É um exemplo de conexão mente-corpo ascendente. Ou seja, conexão corpo-mente. A lição que tem que ficar é a seguinte: a mente percebe a postura do corpo e se comporta de modo coerente com ela. Se você senta de maneira relaxada, o cérebro vai funcionar relaxado. Se você senta sobre os ísquios, com a coluna reta, peito para frente, ombros equilibrados, o seu cérebro vai funcionar assim, majestoso.

Tudo isso acontece no nível inconsciente. O cérebro percebe coisas que você não fica sabendo. Não toma consciência. Mas a resposta vem, no nível do comportamento mental. Portanto, comece a prestar atenção à maneira como você senta para trabalhar, para comer, como você caminha, como você cumprimenta as pessoas, que expressão facial você utiliza em todos os momentos, fáceis ou difíceis. E também observe o seu mundo imediato. Aquele sobre o qual você pode interferir diretamente. Suas roupas, objetos pessoais, seu quarto, seu local de trabalho. Enfim sua ecologia pessoal. Ela tem o mesmo tipo de influência sobre seu estado mental.

*Eugenio Mussak (eugeniomussak@uol.com.br) é médico e biólogo. Especialista em educação, dedica-se a escrever e a dar palestras sobre o comportamento humano. Atua como consultor de soluções educacionais para grandes empresas.

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