Carreira

Como se proteger de um chefe antiético

Para afastar as solicitações imorais, aprenda com os vampiros


	Ambiente de trabalho: "Ouvimos diversas histórias de pessoas dizendo que tinham que agir de forma antiética para manter seus empregos".
 (Getty Images)

Ambiente de trabalho: "Ouvimos diversas histórias de pessoas dizendo que tinham que agir de forma antiética para manter seus empregos". (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2016 às 08h36.

Você já se sentiu pressionado a arriscar sua ética no trabalho? Talvez seu chefe lhe peça para mentir e dizer que está em reunião quando na verdade foi jogar golfe, ou um supervisor lhe pede para fazer de conta que não viu quando faltar dinheiro no caixa?

Você não está sozinho: cerca de 10% dos funcionários relataram que se sentiram assim em uma pesquisa do Centro de Recursos Éticos em 2013.

Maryam Kouchaki, da Kellogg School, quer ajudar as pessoas que trabalham a se sentirem menos impotentes nestas situações: não oferendo uma maneira perfeita de recusar pedidos antiéticos, mas impedindo que os mesmos cheguem a ocorrer.

Sua nova pesquisa mostra que exibir um "símbolo moral" como por exemplo um ícone religioso, um poster de uma figura espiritual como Gandhi, ou uma citação eticamente relevante podem servir como uma espécie de amuleto contra a corrupção no local de trabalho.

Este recurso funciona tanto para estimular a consciência moral nas outras pessoas quanto para criar a percepção de que a pessoa que o exibe possui um elevado caráter moral.

"A ideia é a de que ao ser autenticamente moral, ter orgulho disso e demonstrar esse comportamento pode ter consequências positivas", diz Kouchaki, professora assistente de gestão e organizações.

Um "colar de alho"

Este é o mesmo raciocínio utilizado pelos moradores de vilarejos medievais que, em vez de esperar passivamente que Drácula aterrisasse com suas enormes asas, eles se adornavam com totens mágicos para afastar os vampiros.

Embora ninguém tenha elaborado ainda um estudo avaliado por pares sobre a eficácia protetora de crucifixos e da água benta, Kouchaki e Sreedhari Desai, da Kenan-Flagler Business School da UNC, realizaram seis estudos para testar essa hipótese. As autoras publicaram os resultados em um novo estudo na Academy of Management Journal, "Símbolos morais: Um colar de alho contra solicitações antiéticas".

"Ouvimos diversas histórias de pessoas dizendo que tinham que agir de forma antiética para manter seus empregos. Era pedido a essas pessoas que agissem anti-eticamente e não viam forma de recusar", diz Kouchaki. "Queríamos descobrir se existe uma maneira de alguém dizer não de forma sutil, porém eficaz, evitando assim a ocorrência destas situações difíceis".

Quando o dinheiro e a moralidade vão de encontro em si

Em uma das análises do estudo, 148 universitários foram convidados a jogar um jogo com prêmios em dinheiro. Foi dito a cada participante de que ele iria supervisionar outros dois companheiros de equipe, "Pat" e "Sam". (Na realidade, Pat e Sam eram fictícios.)

Em seguida, os participantes tiveram acesso a e-mails em que seus companheiros se apresentaram. Para alguns participantes, o e-mail de apresentação de Pat continha uma citação com temática moral. Para outros, não. O e-mail de Sam não continha nenhuma citação.

"É melhor o fracasso com honra do que o sucesso pela fraude" foi a citação cuidadosamente escolhida para parecer ao mesmo tempo discreta e adequada para um ambiente empresarial, diz Kouchaki.

"Não é super virtuosa, porque não queríamos que a pessoa inspirasse desprezo nas demais se passando pela mais certinha, e porque queríamos que parecesse realista e natural".

No jogo, os participantes tiveram que decidir se um companheiro da equipe enviaria uma mensagem honesta ou enganosa para a outra equipe, bem como qual companheiro da equipe a enviaria.

Os participantes foram informados de que a mensagem honesta provavelmente faria com que a equipe perdesse US$18 dos seus ganhos, enquanto a mensagem enganosa provavelmente resultaria em uma perda de apenas US$3 para a equipe. Em ambos os casos, o subordinado que enviaria a mensagem não saberia se era enganosa ou não.

64% dos participantes não expostos à citação ética optaram por enviar a mensagem enganosa, enquanto apenas 46% das pessoas que viram a citação ética fizeram o mesmo.

Não só isso, mas aqueles que viram a citação ética e ainda assim decidiram enviar a mensagem enganosa eram mais propensos a escolher Sam (cujo e-mail não continha citação) como mensageiro.

A experiência subsequente encontrou efeitos protetores semelhantes para avatares, quando usaram camisetas com os nomes de sites de Internet (YourMorals.org, por exemplo) impressos nelas.

Isso significa que o colar de alho funcionou.

"Temos a tendência de evitar sujar coisas limpas", diz Kouchaki, apontando para a literatura antropológica e psicológica que sugere que as pessoas acham intrinsecamente imoral danificar objetos ou seres tidos como puros.

Os participantes do estudo podem ter evitado pedir ao subordinado que consideravam moralista realizar uma tarefa imoral porque isso teria sido duplamente imoral.

Ou, ela salienta, simplesmente pode ser que, ver um símbolo moral, de forma consciente ou inconsciente, aumenta a consciência moral na pessoa que o vê.

Levando para o mundo real

Para testar essas descobertas em campo, Kouchaki e Desai realizaram uma pesquisa com 104 pares de chefes-subordinados de uma variedade de organizações na Índia, onde ícones religiosos são frequentemente exibidos no trabalho.

A pesquisa perguntou aos chefes sobre o desempenho do seu subordinado no trabalho, o relacionamento com o chefe, a tendência a exibir símbolos morais e o caráter moral.

Enquanto isso, os subordinados foram questionados sobre a frequência com que seus chefes os orientavam de forma antiética, bem como a frequência com que seus chefes paravam em suas mesas.

As autoras descobriram que os subordinados que exibiam símbolos morais eram mais propensos a serem considerados pelos seus supervisores como tendo caráter moral elevado, e tinham menos probabilidade de serem requisitados a comprometer seus padrões morais no trabalho.

Não só isso, mas "nós não descobrimos nenhuma possível reação adversa e nenhuma diferença nas avaliações de desempenho", diz Kouchaki.

Em outras palavras, exibir símbolos morais não parece ter afetado negativamente os sentimentos dos chefes em relação ao subordinado.

Da mesma forma, quando os participantes da experiência do e-mail foram questionados se achavam que os e-mails de Sam e Pat tinham afetado sua decisão de repassar mensagens éticas ou antiéticas, nenhum dos participantes disse que os e-mails tinham sido um fator relevante.

Isso não deve ser ignorado. A pesquisa do Centro de Recursos Éticos descobriu que 21% dos funcionários que relataram má conduta disseram que sofreram retaliação.

E qual a amplitude da proteção de um crucifixo ou de um poster de Ghandi? Kouchaki observou rapidamente que a pesquisa se concentra principalmente em comportamentos antiéticos relacionados a dinheiro.

É necessário mais pesquisa para determinar se os símbolos morais podem proteger contra outros tipos de corrupção, como a discriminação racial ou assédio sexual. Ela acredita que eles podem proteger.

"Não há pesquisas suficientes sobre como pessoas sem poder podem fazer a diferença", diz Kouchaki.

"Queremos que as pessoas sintam que, independente do que aconteça, elas têm controle sobre estas situações, e que elas podem fazer algumas coisas para evitar comportamentos questionáveis por parte de outras pessoas".

Texto publicado com a permissão da Northwestern University (em representação da Kellogg School of Management). Publicado originalmente no Kellogg Insight.

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