Como lidar com uma geração que busca o empoderamento individual?
Estamos na Era do Reconhecimento Próprio e entender esse movimento é fundamental para que as lideranças saibam mobilizar a nova geração de talentos rumo à construção do futuro da empresa
Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos/Bettha.com
Publicado em 26 de agosto de 2023 às 09h00.
Se você leu a pergunta deste título e revirou os olhos, suspirou ou expressou de alguma outra forma um incômodo, o primeiro conselho que ofereço para a questão é: talvez, seja bom mudar a postura.
O tema do empoderamento individual foi identificado na última edição da pesquisa Carreira dos Sonhos, da Cia de Talentos, quando ele surgiu em nossas análises, logo pensamos na reação das lideranças. Será que elas receberiam o assunto de braços abertos ou, ao invés disso, cruzariam os braços firmes no peito resistentes ao debate?
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Não é que quem ocupa um cargo de gestão em uma empresa seja contrário ao diálogo ou avesso às mudanças, mas sabemos que algumas tendências de comportamento podem gerar desconforto e julgamentos. Falar em “empoderamento individual” entra nessa lista.
Isso porque o termo pode passar a impressão de uma conversa sobre comportamento autocentrado, narcisismo, autocongratulação, enfim, coisa dessa “geração que vive nas redes sociais”. E eu entendo se, de bate pronto, essa foi a sua reação.
Mas a verdade é que, para nos conectarmos com os talentos de hoje, precisamos olhar com atenção para este comportamento de reconhecer em si o mérito de um bom desempenho.
O que significa “empoderamento individual”?
Como já adiantei, o conceito não é sinônimo de narcisismo ou qualquer coisa parecida. Na verdade, de maneira bem simplificada, dá para dizer que ele se refere ao processo de reconhecer o próprio valor e, a partir disso, encarar desafios, tomar decisões e agir com mais autonomia.
O que acontece é que em meio às sucessivas crises que vivemos dentro e fora do Brasil, é natural que os jovens talentos se sintam perdidos, confusos e angustiados. O mundo parece um caos, e não parece fazer sentido muitas vezes. Com isso, há um movimento de se voltar mais para dentro de si em busca de um propósito, de estabilidade, de conforto...
É como se o empoderamento individual fosse, de alguma forma, um mecanismo de defesa e até de sobrevivência diante de tudo o que vem acontecendo nos últimos tempos.
Pensando nisso, não é de surpreender quando identificamos que a geração mais nova respondente da pesquisa Carreira dos Sonhos tem uma visão bem positiva sobre si. Das 71.000 pessoas jovens que participaram do levantamento, 77% delas estão satisfeitas com o próprio desempenho profissional.
A moral da história é, então, que o empoderamento individual tira uma responsabilidade grande de desenvolvimento das costas da liderança? Se todo mundo está contente com o seu desempenho, não há mais necessidade de falar sobre upskilling e reskilling? Nem preciso dizer que não é bem assim…
Talentos empoderados, mas em desenvolvimento
Reconhecer suas próprias competências, o impacto das suas entregas, o seu valor para a companhia: tudo isso não muda o fato de que, independentemente de quão empoderado o ser humano se sente, a insegurança bate à porta vez ou outra. Principalmente quando estamos naquela fase da vida de descobertas, aprendizados e amadurecimento — uma fase que, lembre-se, não se restringe à juventude.
O que a pesquisa mostrou foi que, apesar de estar satisfeito com seu desempenho profissional, jovens continuam valorizando as organizações que investem nos seus desenvolvimentos. Mais do que isso, práticas voltadas para a capacitação das pessoas podem fazer toda a diferença na decisão de permanecer ou deixar um emprego:
Não é à toa que, quando olhamos para a lista das cinco principais características que tornam um lugar uma empresa dos sonhos, a primeira delas é ter uma experiência que promove desenvolvimento — motivo apontado por 23% do total de 91.380 respondentes.
Como usar o empoderamento individual a favor da sua empresa?
Voltando à pergunta que abre este artigo, meu conselho para a liderança é, de novo, entender o comportamento antes de julgá-lo. Feito isso, acredito existir dois pontos principais sobre a questão:
- Identificar como apoiar os talentos nesse movimento de empoderamento: ou seja, estou me referindo à importância de refletir sobre como você pode ajudar no processo de descoberta de competências e habilidades. Como trabalhar o tema do autoconhecimento na sua equipe? Quais conhecimentos e capacitações podem fortalecer esse senso de reconhecimento próprio em cada indivíduo do seu time? Como isso pode inspirar outras pessoas a assumirem mais desafios e a inovarem na empresa?
- Se apoiar na tendência para promover a autonomia: falamos tanto em “postura de dono” e em intraempreendedorismo, mas quando nos deparamos com jovens reconhecendo um valor em si e se orgulhando dos seus feitos, reagimos com estranheza.
Por que não substituir essa postura por uma que enxerga no empoderamento individual uma via para dar autonomia com responsabilidade para as pessoas? Será que, a partir disso, elas não podem se sentir mais à vontade para trazer novas ideias? Será que elas não vão chamar para si deveres e responsabilidades? Será que não vão se sentir mais confiantes para assumir novos projetos?
Ficam aqui várias perguntas para a liderança refletir e uma certeza: para enfrentar os desafios do futuro, precisamos, antes, entender os comportamentos do agora.