Como entender melhor a linguagem corporal no trabalho?
Professora da Faap diz que a linguagem corporal comunica mais do que a verbal. Mas como perceber os recados físicos que recebemos de colegas e chefes?
Claudia Gasparini
Publicado em 31 de outubro de 2014 às 13h55.
São Paulo - Você provavelmente já passou por isto: quando chega a hora do almoço, você quer convidar um colega para ir ao restaurante da esquina. Menos de dois metros separam as mesas de vocês, mas você não se levanta para chamá-lo. O convite vai por email ou mensagem instantânea.
Segundo a atriz e psicóloga Nany di Lima, professora do curso Teatro para Executivos na Faap, cenas como essa são comuns em qualquer ambiente de trabalho e indicam que a maioria dos profissionais ainda tem muito a aprender sobre linguagem corporal .
Na situação do almoço, você e seu colega que preferem conversar pela internet deixam de aproveitar a dimensão física da comunicação. "Vocês perdem a chance de fazer contato visual, sorrir, estabelecer uma interação mais expressiva", diz ela. "A única parte do corpo que vocês mexem para se comunicar são os dedos, que digitam as mensagens”.
O recado do corpo
Negligenciar a linguagem corporal não só empobrece as suas relações interpessoais como também compromete o seu sucesso em diversas situações profissionais. Isso porque, explica Nany, transmitimos muito mais do que imaginamos por meio da nossa expressão física.
Ela dá o exemplo de um diretor que vai apresentar os resultados do trimestre para a empresa. A informação que ele transmite aos outros não está contida apenas nas suas frases. “Se ele falar coisas positivas, mas estiver com os ombros caídos ou desalinhados, por exemplo, é possível que ele comunique desânimo, e essa ambiguidade pode gerar insegurança na equipe”, afirma Nany.
Diversos outros sinais físicos podem “trair” a intenção de quem se comunica no trabalho. Um candidato que fica na ponta da cadeira em uma entrevista de emprego, por exemplo, pode se dar mal. “A pessoa até pode dizer frases que transmitam serenidade, mas essa postura corporal pode ser vista como indício de pressa ou ansiedade, por exemplo”, diz ela.
Não há regras absolutas para fazer essa leitura.Por isso, é impossível fazer um "dicionário" com o que cada gesto ou postura significa. "Isso vem da capacidade individual de compreender a linguagem do corpo", diz ela.
Formas de aprimorar a sua percepção
Para a carreira, a principal vantagem de dominar a linguagem corporal é ter coerência na comunicação. “É muito importante alinhar o que você diz com a palavra e o que você diz com a postura”, ensina.
Segundo Nany, algumas medidas simples podem afiar as suas habilidades de comunicação não-verbais. Uma delas é abrir espaço na agenda para pequenas experiências ao ar livre, como uma caminhada no parque. “Use essa oportunidade para sentir cada pisada que você dá no chão, o vento no rosto, o impacto de cruzar com outra pessoa no caminho”, aconselha Nany.
Ela explica que o exercício de observar essas sutilezas aos poucos vai abrindo os seus olhos para sua própria expressão corporal no dia a dia.
Para quem quer se aprofundar nessa descoberta, outra sugestão é ler e buscar informações sobre a sua anatomia. “Saber como você é embaixo da pele ajuda a desenvolver a consciência corporal”, afirma.
Procurar atividades físicas não-convencionais também ajuda. “Em vez de ir à academia, experimente fazer teatro, circo, dança ou esportes ligados à natureza”, diz Nany. “A ideia é abandonar um pouco o ambiente engessado dos escritórios e se reconectar com o mundo lá fora”, conclui.
Pensando nisso, os sócios da SOAP, consultoria especializada no assunto, compartilharam com EXAME.com algumas das regras básicas para usar a linguagem corporal do jeito certo durante as apresentações. Confira:
Em uma apresentação, a plateia é a protagonista – não você, seus slides ou lousa. Por isso, seu foco deve estar em quem está do lado de lá do palco ou da mesa.
Na prática, isso significa que seus olhos devem estar fitos neles – e não na sua apresentação de slides ou outro recurso.
“Você não pode interromper por muito tempo a conexão com a audiência”, afirma Rogério Chequer, sócio da SOAP. “Sem conexão, não há empatia. Sem empatia, não há credibilidade”.
Apesar da multidão de notas na partitura, é o maestro quem determina em que ponto de toda harmonia cada músico deve se focar. Faça o mesmo.
Assuma a postura de maestro da atenção da plateia. Segundo os especialistas, este processo começa antes de sua chegada ao palco – para ser mais preciso, no momento em que você confecciona os slides que irão auxiliá-lo durante a apresentação.
“O conteúdo mais importante não é o que está no slide, mas sim o que você está falando. Então, mostre apenas imagens sobre o que você diz”, afirma Eduardo Adas, sócio da SOAP. “Se você mostrar tudo de uma vez, a audiência não vai saber para onde olhar”.
Braços cruzados, mão na cintura ou nos bolsos, pernas muito abertas e por aí vai. Posturas assim passam “mensagens subliminares para a audiência na direção de desleixo, falta de disciplina, organização ou profissionalismo”, afirma Chequer.
A melhor estratégia para evitar isso é apostar em posturas e gestos neutros. “O que você busca em termos gestuais deve sempre visar à neutralidade e à complementariedade”, afirma Adas.
Ou seja, a maneira como você usa as mãos ou desloca o seu corpo não pode interferir na história que está contando – antes, deve reforçá-la.
Manter as mãos ao lado do corpo, por exemplo, cumpre essa função. Fazer gestos abertos, por sua vez, mostra ausência de proteção e confiança. “A conexão com a audiência é mais forte se seu gesto é natural”, diz Chequer.
“Muita gente odeia que aponte o dedo para elas. Ao fazer isso, você quebra a empatia”, diz Chequer.
Quando o grupo é pequeno, contudo, muitas vezes não faz sentido ficar em pé. Aí, a dica é aguçar os sentidos para perceber qual postura é mais adequada para cada reunião.