Concessionária: o aumento do IPI vai desestimular a compra do carro zero (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2015 às 17h36.
Você já sabe que 2015 não vai ser um ano fácil para os brasileiros por causa da estagnação econômica, que prejudica a geração de empregos e aumenta a probabilidade de demissões.
Viveremos também sob inflação em alta, que reduz o poder de compra dos salários. Como se não bastasse, o governo ainda elevou impostos como o IOF, que incide sobre empréstimos e financiamentos a pessoas físicas — a alíquota subiu de 1,5% para 3% ao ano —, e o PIS/Cofins sobre importações, cuja alíquota subiu de 9,25% para 11,75%. Mas em que medida esse cenário, que também inclui juros crescentes e dólar caro, pode atrapalhar seus projetos pessoais?
Para saber como enfrentar a fase de aperto, a VOCÊ S/A ouviu uma série de especialistas em finanças pessoais. A boa notícia é que, apesar dos obstáculos, é possível encontrar alternativas e até tirar vantagem de algumas situações — como os juros em alta — para transformar seus projetos em realidade. Confira, a seguir, as orientações para espremer o limão e preparar a limonada.
Evite em 2015:
Trocar de carro: Quem pretende comprar um carro novo terá de reconsiderar. Com o recente aumento do imposto sobre produtos industrializados (IPI) para carros novos, o alerta dos especialistas é claro: evite os financiamentos.
Para os veículos populares, a alíquota subiu de 3% para 7%. No caso dos carros flex, o imposto foi elevado de 9% para 11%. Já nos carros a gasolina a alíquota chegará a 13%.
O que fazer É melhor adiar o projeto do carro zero para o começo do próximo ano. “Aproveite as altas taxas de juro para aplicar o dinheiro e, lá na frente, dar uma entrada maior no financiamento”, diz Rodolfo Olivo, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA-USP).
Se for aproveitar as promoções que as montadoras vêm fazendo neste começo de ano para liberar os pátios, com IPI reduzido, lembre-se dos custos embutidos na compra, como combustível, manutenção, seguro obrigatório (DPVAT) e IPVA. Uma alternativa é pesquisar carros usados. “Dá para comprar um carro com mais qualidade e mais equipado pagando um preço menor”, afirma Leandro Mattera, consultor automotivo na Carro e Dinheiro, de São José dos Campos, São Paulo.
Mas é preciso levar em conta a quilometragem — que não deve superar 13 000 quilômetros por ano de uso — e o estado de conservação do veículo.
Investir em imóveis: A maior parte dos especialistas tem desaconselhado a compra de imóveis como investimento neste ano. Nas principais cidades brasileiras, o ritmo de valorização está diminuindo mês a mês. “Após anos de expressivas altas, a valorização dos imóveis está bem mais seletiva”, afirma o economista Richard Rytenband, de São Paulo.
O que fazer: A orientação é buscar investimentos alternativos. “O melhor é deixar o dinheiro rendendo em aplicações financeiras conservadoras, mas com mais perspectiva de ganhos”, diz Rodolfo Olivo. As mais indicadas são atreladas à Selic, como títulos do Tesouro. “Mas deve-se ter disciplina para não resgatar o dinheiro antes de um ano, pelo menos.”
Está mais caro
Reformar a casa: Quem planeja uma obra precisará se organizar bem porque o preço do material tem subido rapidamente. O custo da construção por metro quadrado passou de 907 para 913 reais somente de novembro a dezembro, segundo dados do IBGE e da Caixa Econômica Federal. O custo da mão de obra, por sua vez, subiu 7,74% em 2014, bem acima da inflação.
O que fazer: Se a reforma for essencial, como preparar a casa para a chegada de um filho, faça um planejamento detalhado para evitar se endividar com várias compras picadas. “A dica é adquirir o máximo de produtos na mesma loja, pagando à vista, para negociar descontos”, afirma Rodolfo Olivo, da FIA-USP. “Também vale a pena iniciar a reforma quanto antes, por causa da inflação crescente”, diz o professor.
Comprar em sites chineses: O recente aumento dos impostos (PIS e Cofins) sobre os produtos importados vai deixar as compras nesses sites um pouco mais caras. Mas o baixo preço dos produtos chineses vai continuar sendo um bom negócio em 2015. “Roupas chegam a ser 90% mais baratas”, afirma Pedro Guasti, diretor executivo da E-bit, empresa especializada em informações do comércio eletrônico.
O que fazer Para pessoas físicas que importam até 3 000 dólares, não haverá aumento dos impostos. Apesar das ofertas sedutoras, lembre-se de incluir na conta o imposto de importação de 60% sobre itens que superem 50 reais e o IOF de 6,38% nas compras a crédito.
A falta de garantias para as trocas também deve pesar na balança. “Pesquise a credibilidade do site antes de comprar”, diz Leonardo Gomes, planejador financeiro da Life FP em Brasília.
Comprar o enxoval do bebê nos Estados Unidos: A diferença de preço em relação aos produtos americanos continua grande, mas a desvalorização do real frente ao dólar — a moeda chegou a ser cotada em 2,73 reais em janeiro — pode fazer com que os gastos com passagem, hospedagem e alimentação no exterior deixem essa conta menos interessante.
Analistas de mercado preveem que o dólar pode chegar a 2,80 reais até o fim do ano e a 2,90 reais até o fim de 2016. Se as compras trazidas do exterior superarem 500 dólares, você estará sujeito a pagar 50% de multa sobre a diferença.
O que fazer: Para que a viagem compense, faça uma cotação dos produtos que pretende adquirir em sites americanos para verificar se a economia ainda será maior do que os gastos com passagem e hospedagem. Se o objetivo for realmente economizar — e não viajar de férias —, opte por uma viagem curta, sem a família, e foque nas compras.
Financiar a casa própria: O valor médio dos imóveis subiu 6,7% no ano passado, o menor avanço desde 2010. Para quem quer comprar a casa própria, é uma boa oportunidade.
Mas o momento só é vantajoso para quem vai pagar o imóvel à vista. Para quem vai financiar, as condições pioraram. A Caixa Econômica Federal elevou os juros do financiamento imobiliário de 9,2% para 11% ao ano.
O que fazer: Se for comprar de qualquer jeito, a orientação é tentar adiantar uma entrada maior e negociar descontos.
Tomar um empréstimo para cobrir os custos do casamento: O recente aumento do IOF sobre as operações de crédito vai encarecer seu empréstimo, mas não deve atrapalhar seu projeto de se casar.
Isoladamente, o impacto da elevação do imposto é pequeno. Um empréstimo pessoal no valor de 30 000 reais por dois anos, com taxa de juro de 3,61% ao mês, sairia 876,48 reais mais caro no total — as parcelas ficariam 36,52 reais mais salgadas, conforme simulação da Anefac.
O que fazer: Reduza os custos da festa e priorize eletrodomésticos e móveis. Se possível, dê preferência a linhas de crédito mais baratas, como o consignado, concedido a funcionários públicos e empregados de boa parte das empresas.