Cartão pré-pago vale a pena?
Especialistas ouvidos por VOCÊ S/A opinam se essa nova modalidade de pagamento pode ajudar você a administrar melhor o orçamento
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2014 às 16h37.
São Paulo - Uma pesquisa divulgada em maio pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) constatou que 53% dos brasileiros compraram por impulso nos três meses anteriores. Boa parte dessas compras foi feita por meio de cartões de débito e crédito — desde o ano passado, os meios eletrônicos de pagamento representaram 37% do total dos gastos dos brasileiros, superando pela primeira vez o dinheiro vivo, usado no pagamento de 36% das despesas.
O problema é que, sem atenção, esses cartões podem levar a um quadro perigoso de descontrole das finanças e endividamento, já que os juros anuais do cheque especial atingiram 158% em maio e os do cartão de crédito superaram 232%.
Se você está entre os que sempre acabam gastando mais do que o planejado e acaba não conseguindo pagar o valor total da fatura do cartão ou ultrapassando o limite do banco, pode ser um candidato à última novidade em meios de pagamento : o cartão pré-pago . Entre alguns que já podem ser encontrados estão Acesso, EcommerceCard, Meo, Cotação, ContaSuper e Prepax, sem contar aqueles que os bancos oferecem com o nome da instituição.
O funcionamento desse cartão é bem parecido com o do celular pré-pago, com o qual os brasileiros estão muito familiarizados. Após pagar um preço médio de 15 reais para adquirir o cartão, basta carregá-lo com o montante que você pode gastar até que o saldo se esgote.
O cartão Acesso, por exemplo, que tem 500 000 unidades emitidas desde novembro de 2012, pode ser adquirido por 14,90 reais em grandes lojas e supermercados, onde é possível carregá-lo, pagando tarifa de 2,50 reais por recarga.
“A carga também pode ser colocada via internet, com pagamento por boleto bancário. A pessoa nem precisa ter conta-corrente”, diz Bernardo Faria, diretor executivo da Acesso. Segundo o executivo, nos próximos anos, pessoas de todas as classes, de A a D, terão um pré-pago. “É a conta-corrente do futuro”, afirma.
No caso da EcommerceCard, os cartões são adquiridos no site da empresa mediante o pagamento de uma taxa de adesão de 15,90 reais. Após o cadastro, o cliente recebe o cartã em casa no prazo de uma semana.
“Depois, o único custo é de 4,90 reais ao mês, cobrado independentemente do uso”, diz. De acordo com Cláudio Torck, sócio-diretor da EcommerceCard, a maioria das pessoas que aderem ao pré-pago vê nessa forma de pagamento uma alternativa de educação financeira.
“Com ele, é possível sair da ciranda de juros do mercado”, diz Cláudio. E é com a promessa de ajudar os clientes a manter os gastos sob controle que, toda vez que o cartão é usado, a empresa envia para o celular do titular uma mensagem SMS com as informações sobre quanto foi gasto.
Mas o que pensam os especialistas? Será que os cartões pré-pagos podem mesmo ser uma boa alternativa para evitar gastar mais do que se pode?
O primeiro alerta feito pelos consultores e planejadores ouvidos por VOCÊ S/A é que nenhuma forma de pagamento manterá o orçamento sob controle se, antes, o consumidor não fizer um exame detalhado de suas finanças, contabilizando todas as suas contas fixas, para saber quanto efetivamente pode gastar a cada mês.
Só com essa informação será possível carregar o pré-pago com um valor adequado, que realmente evitará que se entre no vermelho. “Para quem sempre paga juros e usa o limite do cheque especial, pode ser um bom instrumento. Mas, para realmente funcionar e colocar as finanças em dia, é preciso ter a disciplina de deixar o cartão de crédito e o talão de cheques na gaveta”, diz o consultor financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, de São Paulo.
Para Ricardo Schwalfemberg, planejador financeiro da Life Finanças Pessoais, esse tipo de instrumento pode ser uma muleta temporária para recobrar o controle dos gastos pessoais ou familiares. “Ele ajuda a gastar apenas o que se pode, então, em termos paliativos, é interessante para retomar o controle da situação”, diz.
No entanto, para Ricardo, a partir do momento em que se reeducam os hábitos de consumo e as finanças são reorganizadas, vale a pena voltar a usar o dinheiro vivo, evitando o pagamento das taxas de recarga.
Na opinião de Reinaldo Domingos, especialista em finanças pessoais, a familiaridade que o brasileiro já tem com outros pré-pagos deve superar qualquer possível preconceito do consumidor em utilizar esse tipo de cartão, que, de acordo com Reinaldo, é uma tendência mundial. “Quando alguém tira o cartão, ninguém fica analisando se é crédito, débito ou pré-pago.”