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Câmera ligada em reuniões online eleva pressão e gera estresse, diz estudo

Pesquisa mostra que lidar com a própria imagem em reuniões online pode causar pressão excessiva sobre funcionários

Câmera ligada é a culpada pelo cansaço nas reuniões virtuais (Alistair Berg/Getty Images)

Câmera ligada é a culpada pelo cansaço nas reuniões virtuais (Alistair Berg/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 1 de setembro de 2021 às 08h16.

Última atualização em 1 de setembro de 2021 às 10h37.

Aquele cansaço típico relatado por muitas pessoas após uma reunião virtual, realizada em frente a uma tela de computador ou celular, pode ter um responsável: a webcam aberta. Isso é o que afirma estudo conduzido pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, que analisou o impacto de uma câmera ligada na fadiga dos usuários.

O estudo, publicado no Journal of Applied Psychology, analisou 103 participantes em 1.400 instantes de suas chamadas e concluiu que o ato de deixar o dispositivo ligado pode estar diretamente relacionado com a sensação de cansaço após o encontro virtual. Isso porque as pessoas tendem a se sentir mais pressionadas com a exposição e com a necessidade de parecerem profissionais engajados diante de uma câmera.

— Há muita tensão em relação à autoimagem associada às câmeras. Ter uma formação profissional e parecer pronto, ou manter as crianças fora da sala estão entre algumas das pressões — explica a professora Allison Gabriel, autora do estudo.

O trabalho também mostrou que, ao contrário do pensamento convencional, pessoas com câmeras ligadas tendem a apresentar menor produtividade nas reuniões do que aqueles que as mantêm desligadas, uma vez que há um cansaço maior para se manter “apresentável” e disponível. Além disso, mulheres e funcionários mais novos seriam mais vulneráveis a essa fadiga, provavelmente devido às pressões adicionais de apresentação pessoal.

— As mulheres muitas vezes sentem uma pressão para serem perfeitas sem esforço ou têm maior probabilidade de interrupções no cuidado dos filhos — afirma a pesquisadora. — Já os funcionários mais novos imaginam que devem participar mais para mostrar produtividade.

O esforço para se expor é algo familiar para a publicitária Flávia Moura, que tem trabalhado de forma remota desde abril de 2020 devido ao distanciamento imposto pela Covid-19. Mãe de uma criança de cinco anos, Flávia sente que, além de ter ficado mais “neurótica” — nas palavras dela — por causa da pandemia em si, também se sente mais preocupada com a aparência e menos confiante no próprio trabalho.

A publicitária relata que tem que se desdobrar para comparecer às reuniões on-line da empresa em que trabalha, além de cuidar da filha, da casa e dos gatos de estimação. É comum ter que desligar a câmera quando a filha lhe pede atenção, o que a faz se sentir culpada.

— É uma culpa que eu sei que é injustificada. Ninguém é obrigado a ficar com a câmera aberta, mas eu costumo deixar por achar que, assim, vão me levar mais a sério como profissional. No fundo, eu sei que é besteira, mas fiquei mais preocupada com essa visão que os outros têm de mim durante a pandemia — conta Flávia.

A preocupação sentida pela publicitária se tornou mais comum de um ano para cá, quando grande parte das pessoas se viu em uma situação semelhante e com a qual não estava acostumada. O psicólogo e pesquisador na área de prevenção em saúde mental Renato Caminha afirma que essa sensação pode ser explicada no seu campo de trabalho por meio de um fenômeno chamado de “exaustão do eu”.

— Quando a gente tem longos períodos de atenção fixa, direcionada, isso promove um fenômeno chamado de “exaustão do eu”. Fazendo uma analogia, é como se você fosse à academia e desgastasse excessivamente o físico. É o excesso do foco de atenção que justamente pode tornar você mais desatento, disperso — afirma o psicólogo.

Para recuperar o vigor dos processos cognitivos, as pessoas necessitam de descanso, mas, como aponta o psicólogo, isso muitas vezes não é possível, sobretudo quando já se está no ambiente de repouso, em casa. Esse cansaço pode levar à irritabilidade, menos disponibilidade para o outro e, inclusive, mais déficit de atenção.

A pesquisadora Allison Gabriel, inclusive, recomenda no estudo que as empresas não obriguem o uso da câmera em reuniões. A ideia é não forçar uma situação em que o funcionário se sinta pressionado e, posteriormente, prejudicado.

— No final das contas, queremos que os funcionários se sintam autônomos e apoiados no trabalho para estarem em sua melhor forma. Ter autonomia sobre o uso da câmera é mais um passo nessa direção — defende a psicóloga.

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