Brasil, mostra sua cara!
Os dados preliminares do censo 2000 indicam que o rendimento do brasileiro subiu, mas as mulheres ainda ganham menos
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h30.
O retrato do Brasil pós-estabilidade econômica começa a ser revelado. Uma nação mais educada, mais feminina, mais urbana -- e mais desigual. Ainda desigual. Os primeiros dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativos ao censo de 2000 mostram um pouco do que aconteceu no país na última década. Somos 169 milhões de brasileiros. Quase 39% da população, 64 milhões mais precisamente, está trabalhando. Atualmente, o mercado de trabalho brasileiro já não se divide em empregados e desempregados, trabalho formal e informal. A classificação do IBGE abrange novas categorias. São 43,6 milhões de empregados, 1,8 milhão de empregadores, 14,5 milhões trabalhando por conta própria, 2,6 milhões que ajudam em casa (ou "trabalhadores não remunerados em ajuda a membro do domicílio", como manda a terminologia do IBGE) e 1,9 milhão que compõe o grupo dos que trabalham na chamada produção para consumo próprio.
Muitas outras coisas mudaram. Desde o nível de escolaridade e de salário da população até a participação feminina no mercado de trabalho. Conheça a seguir as principais informações já divulgadas.
Mais da metade da população brasileira produtiva, pasme, sobrevive com menos de dois salários mínimos. E 92% ganham até dez salários mínimos (que em 2000 equivaliam a 1 510 reais). Do outro lado, no topo da pirâmide, apenas 1,5% ganha mais de 4 530 reais. O rendimento real médio subiu 41,9% em nove anos (de 542 reais para 769 reais). Como toda média, no entanto, tais números escondem uma enorme disparidade entre as regiões. No Norte e no Nordeste, a maioria da população vive com salários mais baixos, enquanto nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste essa proporção é menor. Os nordestinos têm cerca da metade do rendimento dos trabalhadores do Sudeste e 73% da população recebe até 302 reais, enquanto no Sudeste 9,7% dos ocupados ganham mais de 1 510 reais por mês. Mas, em termos de crescimento da renda mensal, a região que apresentou melhor desempenho foi a Sul, onde o censo verificou um aumento de 50,2%.
Ainda há números alarmantes na área educacional -- 60% da população brasileira não completou o ensino fundamental. Mas, se comparados ao censo de 1991, há muito mais gente nos bancos escolares. Da pré-escola ao doutorado, a taxa de escolarização aumentou em todos os níveis. Em 1991, 3,6% dos brasileiros tinham diploma de nível superior, taxa que subiu para 4,1% da população em 2000. O país também tem mais mestres e doutores. Em 1991, 52 000 brasileiros faziam mestrado ou doutorado e, em 2000, já eram 218 000 -- um aumento de 319%.
O Brasil que o censo de 2000 revela não é mais feminino apenas na quantidade. Na responsabilidade também. Hoje, elas representam 24,9% dos chefes de família, contra 18,1% em 1991. A diferença de salário ainda existe, mas ficou menor. Os homens recebem hoje 28,5% mais que as mulheres -- em 1991, essa diferença era de 46,9%. Na educação também houve avanço. A diferença de tempo de estudo é de apenas 1 mês, ante 6 meses a favor dos homens no censo anterior.
O IBGE também constatou que, quanto maior a estabilidade do emprego, maior também o nível de instrução dos profissionais. Os militares e funcionários públicos, por exemplo, têm o nível de instrução mais elevado entre todos os grupos analisados: 67,6% deles têm, pelo menos, 11 anos de estudo (o equivalente ao ensino médio). Já entre os empregados formais, com carteira assinada, 39,1% concluíram pelo menos o ensino médio. Esse número cai para 20,8% entre os que trabalham por conta própria.
Há mais estrangeiros hoje no Brasil, e o censo mostra que a maioria deles veio para trabalhar. Alguns deles são funcionários de multinacionais, chamados pelas matrizes para dar suporte ao negócio por aqui. De acordo com o censo, o número de estrangeiros passou de 606 000 em 1991 para 733 000 em 2000, o que representa um acréscimo de 20,9%. A maior parte é formada por asiáticos e latino-americanos.
Outra revelação surpreendente do censo de 2000: quando deveriam estar desfrutando a aposentadoria, depois de anos de trabalho, muitos idosos continuam na ativa, ajudando a completar a renda familiar. De acordo com o levantamento, apenas 4,6% dos brasileiros acima de 50 anos declararam não receber rendimentos e, portanto, não trabalhar. Cerca de 20% dos brasileiros com mais de 50 anos recebem até um salário mínimo (151 reais). Já 13% desse contingente recebe mais de cinco salários mínimos por mês (o equivalente a 755 reais).