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As habilidades que você precisa ter para se tornar um CEO

Sergio Quiroga, presidente da Ericsson conta como chegou lá

Sergio Quiroga da Cunha, de 47 anos, presidente da Ericsson: falar uma segunda língua e ser obstinado são competências essenciais para se tornar CEO. (Germano Luders)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2015 às 14h20.

São Paulo – O engenheiro Sergio Quiroga da Cunha, de 47 anos, presidente da Ericsson para América Latina e Caribe, sabe muito bem que não chegou ao cargo que ocupa por acaso.

Ele entrou na companhia em 1990 e trabalhou em várias áreas da empresa. Em 2008 ele foi expatriado para o Chile, de onde passou a chefiar o mercado para América do Sul. Foi convidado para a voltar para São Paulo e assumir presidência regional dois anos depois.

Hoje, a América Latina representa 10% da receita de mais de 25 bilhões de dólares da companhia e é a 4ª maior região do grupo. Em uma entrevista exclusiva, Sergio, que fica a maior parte do tempo na sede brasileira (responsável por 40% do faturamento da AL) fala da sua carreira e conta quais habilidades o ajudaram na trajetória ao topo.

VOCÊ S/A - O senhor foi convidado para a presidência em 2010. O que acha que o levou a este cargo?

Eu sempre procurei responsabilidade. Era fominha disso. Entrava em uma área e virava o dono daquilo, desde os 25 anos, quando entrei na empresa. Estávamos tentando trazer um produto novo para o Brasil e eu me apropriei daquele projeto, como se fosse o dono mesmo. Isso faz toda a diferença.

Até hoje, os clientes e quem trabalhou comigo naquela época, me enxerga como o dono daquele produto. Hoje, tenho 47. Fico muito orgulhoso quando me veem como dono dos clientes. Eu me vejo como o dono da Ericsson.

VOCÊ S/A - Havia, naquela época, uma série de executivos na empresa que poderiam ter assumido esta posição. O que diferenciou você dos outros?

Existe um pacote básico de habilidades para ser líder em uma empresa: ser obstinado, fazer acontecer, saber falar outras línguas - porque sem inglês e espanhol você não sai do Brasil.

E se você não sai do Brasil, você não vai alcançar a presidência de uma multinacional. Além de todas as características que um líder de hoje já precisa ter, o presidente do futuro será avaliado por sua habilidade de se transformar e levar a empresa nesse caminho da mudança. Acho que foi isso que viram em mim.

VOCÊ S/A - Por que a habilidade de se transformar será tão importante?

Ela é necessária para que os próprios negócios da empresa sobrevivam. A única certeza que temos é que, daqui a dez anos, o principal produto - ou serviço - das empresas, não será o mesmo que é hoje. Isso está em evolução constante. As pessoas não vão mais ao McDonalds só para comer Big Mac.

A Starbucks, por exemplo, não vende café, vende um ambiente, um momento, um estado de espírito. Veja a quantidade de empresas fabricantes de hardware que agora trabalham com software.

VOCÊ S/A - E onde os executivos costumam errar na carreira?

Tem gente que é focada em um único produto, um único país, uma única área. Mas os profissionais do futuro vão precisar mostrar que são ótimos para tudo. Que têm capacidade de se adaptar a qualquer situação. Os profissionais precisam ser perseverantes, quase maratonistas.

VOCÊ S/A - A presidência mudou o senhor de alguma forma?

Estava pensando nisso outro dia. Estava em um café da manhã com funcionários, e comecei a pensar em como eu me transformei dentro da companhia também. Eu tinha uma função básica aqui, de engenheiro. Tive a sorte de apostar na empresa certa e tive a sorte de me relacionar com as pessoas certas aqui dentro.

Isso tudo está incluso em um pacote que chamam de inteligência emocional. A posição de presidente me força um pouco a ficar meio rabugento. Eu não posso mais demonstrar aquela afabilidade que tinha antes porque tomo, todos os dias, uma série de decisões que afetam o trabalho e a vida de muitas pessoas.

Estamos em um situação de mercado complicada. Este ano, o Brasil vai crescer pouco, as empresas de telecom estão sendo empurradas para baixo. A pressão do cargo é alta. Você tem que saber administrar as suas emoções, se não, ninguém te aguenta.

VOCÊ S/A - Alguns ajustes serão feitos na sede da companhia este ano (a Ericsson anunciou a demissão de mais de 2.000 funcionários na Suécia, mas a operação no Brasil garantiu que isso não acontecerá aqui). Como isso vai afetar a sua liderança?

O segredo é estar constantemente preparando gente para assumir posições de diretoria. Temos um programa aqui em que identificamos algumas pessoas, de cerca de 35 anos, e eu mesmo supervisiono a carreira. Também começamos na base. No nosso programa de trainee os selecionados rodam a América Latina inteira.

Os profissionais que estão se formando agora precisam se preparar desde já para pensar no mercado global. Meu RH está na Colômbia, meu CFO fica no Chile, o suporte está na Argentina. Dos 15 trainees que estamos contratando agora, de diversos países, a expectativa é que metade deles sejam diretores da empresa a partir de 2020.

Falo para todo mundo que me pede alguma dica: onde você se meter, tome as rédeas. Entenda que aquilo te pertence de todas as formas. Gerencie, cuide, corte os custos que conseguir cortar, execute. Tem funcionado para mim.

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São Paulo – O engenheiro Sergio Quiroga da Cunha, de 47 anos, presidente da Ericsson para América Latina e Caribe, sabe muito bem que não chegou ao cargo que ocupa por acaso.

Ele entrou na companhia em 1990 e trabalhou em várias áreas da empresa. Em 2008 ele foi expatriado para o Chile, de onde passou a chefiar o mercado para América do Sul. Foi convidado para a voltar para São Paulo e assumir presidência regional dois anos depois.

Hoje, a América Latina representa 10% da receita de mais de 25 bilhões de dólares da companhia e é a 4ª maior região do grupo. Em uma entrevista exclusiva, Sergio, que fica a maior parte do tempo na sede brasileira (responsável por 40% do faturamento da AL) fala da sua carreira e conta quais habilidades o ajudaram na trajetória ao topo.

VOCÊ S/A - O senhor foi convidado para a presidência em 2010. O que acha que o levou a este cargo?

Eu sempre procurei responsabilidade. Era fominha disso. Entrava em uma área e virava o dono daquilo, desde os 25 anos, quando entrei na empresa. Estávamos tentando trazer um produto novo para o Brasil e eu me apropriei daquele projeto, como se fosse o dono mesmo. Isso faz toda a diferença.

Até hoje, os clientes e quem trabalhou comigo naquela época, me enxerga como o dono daquele produto. Hoje, tenho 47. Fico muito orgulhoso quando me veem como dono dos clientes. Eu me vejo como o dono da Ericsson.

VOCÊ S/A - Havia, naquela época, uma série de executivos na empresa que poderiam ter assumido esta posição. O que diferenciou você dos outros?

Existe um pacote básico de habilidades para ser líder em uma empresa: ser obstinado, fazer acontecer, saber falar outras línguas - porque sem inglês e espanhol você não sai do Brasil.

E se você não sai do Brasil, você não vai alcançar a presidência de uma multinacional. Além de todas as características que um líder de hoje já precisa ter, o presidente do futuro será avaliado por sua habilidade de se transformar e levar a empresa nesse caminho da mudança. Acho que foi isso que viram em mim.

VOCÊ S/A - Por que a habilidade de se transformar será tão importante?

Ela é necessária para que os próprios negócios da empresa sobrevivam. A única certeza que temos é que, daqui a dez anos, o principal produto - ou serviço - das empresas, não será o mesmo que é hoje. Isso está em evolução constante. As pessoas não vão mais ao McDonalds só para comer Big Mac.

A Starbucks, por exemplo, não vende café, vende um ambiente, um momento, um estado de espírito. Veja a quantidade de empresas fabricantes de hardware que agora trabalham com software.

VOCÊ S/A - E onde os executivos costumam errar na carreira?

Tem gente que é focada em um único produto, um único país, uma única área. Mas os profissionais do futuro vão precisar mostrar que são ótimos para tudo. Que têm capacidade de se adaptar a qualquer situação. Os profissionais precisam ser perseverantes, quase maratonistas.

VOCÊ S/A - A presidência mudou o senhor de alguma forma?

Estava pensando nisso outro dia. Estava em um café da manhã com funcionários, e comecei a pensar em como eu me transformei dentro da companhia também. Eu tinha uma função básica aqui, de engenheiro. Tive a sorte de apostar na empresa certa e tive a sorte de me relacionar com as pessoas certas aqui dentro.

Isso tudo está incluso em um pacote que chamam de inteligência emocional. A posição de presidente me força um pouco a ficar meio rabugento. Eu não posso mais demonstrar aquela afabilidade que tinha antes porque tomo, todos os dias, uma série de decisões que afetam o trabalho e a vida de muitas pessoas.

Estamos em um situação de mercado complicada. Este ano, o Brasil vai crescer pouco, as empresas de telecom estão sendo empurradas para baixo. A pressão do cargo é alta. Você tem que saber administrar as suas emoções, se não, ninguém te aguenta.

VOCÊ S/A - Alguns ajustes serão feitos na sede da companhia este ano (a Ericsson anunciou a demissão de mais de 2.000 funcionários na Suécia, mas a operação no Brasil garantiu que isso não acontecerá aqui). Como isso vai afetar a sua liderança?

O segredo é estar constantemente preparando gente para assumir posições de diretoria. Temos um programa aqui em que identificamos algumas pessoas, de cerca de 35 anos, e eu mesmo supervisiono a carreira. Também começamos na base. No nosso programa de trainee os selecionados rodam a América Latina inteira.

Os profissionais que estão se formando agora precisam se preparar desde já para pensar no mercado global. Meu RH está na Colômbia, meu CFO fica no Chile, o suporte está na Argentina. Dos 15 trainees que estamos contratando agora, de diversos países, a expectativa é que metade deles sejam diretores da empresa a partir de 2020.

Falo para todo mundo que me pede alguma dica: onde você se meter, tome as rédeas. Entenda que aquilo te pertence de todas as formas. Gerencie, cuide, corte os custos que conseguir cortar, execute. Tem funcionado para mim.

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