Juliana Azevedo, presidente da P&G no Brasil (P&G/Divulgação)
Marina Filippe
Publicado em 25 de junho de 2020 às 11h57.
Última atualização em 25 de junho de 2020 às 12h00.
A pandemia do novo coronavírus reforça necessidade de discutir equidade de gênero no trabalho — não apenas pela urgente questão social, mas também por ajudar na economia, como discute a reportagem de capa da EXAME nesta quinzena. Para as mulheres que já ocupam posições de liderança, o papel é de fomentar a participação de mais delas. Um exemplo é da Juliana Azevedo, presidente da Procter & Gamble no Brasil.
EXAME - O fato de ser mulher impactou sua carreira de algum modo?
Juliana Azevedo - Sou a primeira presidente mulher da P&G no Brasil, e em 24 anos na companhia percebo um ambiente privilegiado, que discute diversidade de alguma forma há muito tempo. Reconheço que parte da minha missão e da empresa é promover a equidade. Hoje temos, em média, 40% de mulheres no quadro geral e 50% na liderança. Além disso, ao longo da minha carreira minha empatia foi testada, como mulher, esposa, mãe e gestora. Um exemplo foi na minha convocação para uma posição fora do Brasil, mas isso não se encaixava no meu plano pessoal. E foi ali que mais vi na prática a política sendo executada, pois consegui continuar na empresa, exercer um bom trabalho e unir isso com a minha aspiração de vida.
EXAME - Para além da sua história pessoal, como um líder pode influenciar um ambiente mais igualitário?
Juliana Azevedo - Sabemos que a representatividade importa dentro e fora da empresa, e que é preciso compartilhar as histórias. Mesmo como presidente, tenho e tive dificuldades a enfrentar, e acho importante humanizar a jornada. Especificamente sobre a mulher, já é comprovado que muitas vezes a primeira barreira está nela mesma, que acaba se autosabotando. Além disso, é papel do líder promover iniciativas com os funcionários e outros envolvidos na cadeia de valor. Um exemplo aconteceu em 2019, quando trouxemos para o Brasil a capacitação de pequenas empresas com 51% de mulheres na propriedade. Sabemos que, apenas 1% das compras de multinacionais vai pra empresas de mulheres e precisamos mudar isso. Assim, demos treinamentos para que essas empresas estejam mais inseridas no ecossistema do negócio.
EXAME - Há exemplos de influência para os funcionários?
Juliana Azevedo - Sim, somos em quase 4 mil pessoas e sabemos que o funcionário precisa estar pleno no trabalho e na vida pessoal. Durante a quarentena, uma preocupação das pessoas está em assumir novas tarefas, como os estudos dos filhos também em casa, ao mesmo tempo em que o home office acontece. Para os funcionários da fábrica, que continua ativa e com todas as medidas de segurança, a situação pode ser ainda mais difícil sem ter onde deixar os filhos. Deixamos claro para o funcionário que ele deve ir atrás da equipe de recursos humanos e acionar a equipe médica – física e psicológica – assim que preciso. Também estamos promovendo atividades físicas online e normalizando as situações, por exemplo, de imprevistos durante as chamadas de vídeo. A segurança psicológica é muito importante para o avanço de todos, e também para a promoção da equidade.
Outro exemplo importante são os grupos de afinidades, como gênero e orientação sexual. No grupo que falamos do avanço das mulheres há também os homens. Eles são parte da jornada, precisam tomar consciência disso e usar as políticas no dia a dia. A partir dos grupos e de programas de recursos humanos conseguimos, por exemplo, ter treinamentos focados em mulheres, despertar os vieses inconscientes e ter candidatos de diferentes os gêneros na etapas do recrutamento.
EXAME - Por que e como a P&G trata da equidade de gênero também nas propagandas?
Juliana Azevedo - Cada marca da P&G tem um propósito, e Always e Ariel são exemplos das que se conectam com o universo feminino. A Always tem apoiado financeiramente as mulheres na ciência, e com produtos as mulheres na saúde. Na campanha de Ariel incentivamos a divisão das tarefas domésticas. Segundo levantamento que fizemos, em parceria com o Ibope, a lavagem de roupas é feita por 72% das mulheres, enquanto 22% dos homens afirmam não realizá-la por receio de estragar as peças. E a divisão dos trabalhos domésticos é muito importante para o avanço das mulheres no mercado de trabalho.