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Zona Franca de Manaus e a busca de verdades compartilhadas

É preciso reconhecer a importância de manter a floresta para atrair indústrias de alta tecnologia para a região

A bioeconomia é o futuro da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA/Reprodução)
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Bússola

Publicado em 28 de junho de 2021 às 19h00.

Última atualização em 28 de junho de 2021 às 19h15.

Por Augusto César Rocha*

Como fazer prevalecer a estupidez? É só ficar repetindo. Gota a gota, até nos acostumarmos com ela. Entretanto, para nosso próprio bem, a estupidez não pode prevalecer. Devemos lutar contra ela, sob todos os disfarces e com toda a nossa força.

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A Zona Franca de Manaus vem sendo atacada dia a dia. O problema é que os ataques não são em relação aos problemas reais, mas em relação aos problemas que não existem.

Por outro lado, nós que somos uma das partes interessadas na prosperidade de Manaus, temos também dificuldade de enfrentar nossos problemas reais. Assim, fica um debate vazio dos problemas que não existem contra a ausência de problemas.

Precisamos encontrar uma verdade compartilhada para encontrar o desenvolvimento da região. Enquanto isso não se der e seguirmos trabalhando com afinco no “nós contra eles”, em meio a uma montanha de mentiras, vamos seguir a construir soluções que interessam para poucos, que serão as forças dos que maquinam, conscientemente, as mentiras.

A ZFM é um método sofisticado para criação de indústrias de alta tecnologia, em setores onde o Brasil não possuía indústrias, em uma região onde não havia desenvolvimento. Hoje a indústria está instalada e tem tido dificuldade para crescer, em razão de diferentes fatores. Se não enfrentarmos a verdade nua e crua que essa indústria encolheu, será difícil enfrentar as causas, pois ao inverter a história, as medidas serão equivocadas, pois trabalharão com as bases erradas.

Por outro lado, entender que a bioeconomia é o futuro da região está ótimo. Entretanto, acreditar que essa transição será rápida seria ingenuidade. Manter a indústria do presente, criar condições para que ela cresça é algo tão importante e necessário quanto é importante usar os recursos da biodiversidade da região. Somar as duas coisas é fundamental, e para isso temos o desafio de encontrar, construir e compartilhar duas verdades ásperas: (1) reconhecer e agir para interromper o encolhimento da indústria atual da ZFM; (2) reconhecer a importância da floresta de pé e desenvolver ciência e tecnologia, com um ambiente para atrair indústrias que tenham interesse em alta tecnologia, usando responsavelmente o ecossistema local.

Enquanto o foco for exatamente o oposto para os dois problemas, afirmando que aqui há uma enorme renúncia fiscal, quando é o oposto, que a indústria está próspera, quando não é bem isso que se constata, e todas as demais querelas que se arrastam por décadas, seguiremos todos perdendo, pois o debate em torno de mentiras só serve para alguns dos mentirosos e de nada serve para a coletividade enganada, pois enquanto as medidas necessárias não forem tomadas, as mazelas sociais e econômicas não serão solucionadas. Isso está expresso em nosso PIB, IDH e demais indicadores ambientais.

Como há muitos perdendo, é plausível supor que alguns poucos estejam ganhando.

*Augusto César Rocha é doutor em engenharia de transportes (Coppe/UFRJ), professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e diretor-adjunto da Fieam, onde é responsável pelas coordenadorias de infraestrutura, transporte e logística

**Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da revista.

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