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VOZES: Todo atleta é capaz de gerar renda e fortalecer a comunidade

Quando um atleta entende que ele ou ela é uma marca, desperta a consciência de todo o seu potencial, a força da sua comunidade e o poder da sua voz

(Fernando Torres/CBF/Agência Brasil)
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Bússola

Publicado em 10 de outubro de 2021 às 13h25.

Quem vê a luta de uma atleta negro de periferia para conseguir um patrocínio não imagina que foi um homem negro de São Cristovão no Rio de janeiro o precursor da tendência de usar esportistas como garotos propaganda.

Sim. Estou falando de Leônidas da Silva, o primeiro atleta garoto propaganda da história do futebol brasileiro. Foi através dele que surgiu a linhagem de futebolistas que usam a aliança com marcas para ter popularidade e aumentar a renda. Leônidas foi considerado o criador da jogada de bicicleta e, após ter sido o artilheiro da Copa do Mundo de 1938, ganhou dos franceses o apelido de Diamante Negro. Isso te lembra alguma coisa?

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Tempos depois, o apelido virou uma marca de chocolate famosa até hoje. Por ter cedido os direitos, recebeu da empresa dois contos de réis, o equivalente a R$ 3.250,00.

Vale lembrar que neste período, não havia internet, redes sociais e sequer a consciência sobre todo o potencial da indústria esportiva. Atletas recebiam produtos como remuneração, a ponto de o próprio Leônidas ter ganhado uma caixa de goiabada como pagamento por sua primeira propaganda. Hoje, isso seria um simples “recebido”.

Se naquela época a compreensão do atleta enquanto marca ainda estava nascendo, hoje não existe dúvida sobre isso. Assistimos Messi ser negociado por milhões, Neymar lançando linha de roupa com a Puma, a jogadora Marta da Silva como Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, Anderson Silva lançando sua própria academia, a Spider Kick. A lista não para, porém infelizmente, essa compreensão só chega quando o atleta já está em alta.

Uma marca não se intitula marca apenas quando está valendo milhões na bolsa, mas e quem está a um passo atrás? Quem ainda não é um fenômeno mundial? E quem não caiu nas graças da mídia, faz o quê? E quem já tem medalhas e troféus, mas não conseguiu até hoje fechar com a marca? Senta e espera o dia que vai cair do céu?

Não dá para esperar se tornar um Pelé, um Garrincha ou um Leônidas para acreditar na força que um atleta tem de impulsionar uma marca. Até mesmo porque isso é impossível, já que cada atleta é único. É preciso que essa consciência do atleta enquanto marca chegue no início da carreira, quando ele ainda está na periferia.

Um dia desses, escutei durante o curso de marketing esportivo que uma atleta precisa ter vitórias para garantir patrocínio. Ok! É óbvio que na medida que o atleta vai conquistando medalhas, troféus e prêmios, isso vai agregando valor a sua marca pessoal, mas nós sabemos que existem muitos deles já consagrados e sem patrocínio algum. Vale lembrar que a ginasta Rebeca Andrade foi para as Olimpíadas de Tóquio 2020 sem patrocínio algum e olha que no histórico dela não faltam medalhas.

Quando um atleta entende que ele ou ela é uma marca, automaticamente desperta para a consciência de todo o seu potencial, a força da sua comunidade e o poder da sua voz. Ele sai do lugar de quem espera ser consagrado por um apoio e começa a fazer todo um movimento com a força do seu próprio nome.

Por favor, guardem as pedras! Não estou dizendo que o atleta não deve procurar marcas ou que o acordo com marcas não tem o seu valor. Jamais! A marca tem o potencial de fortalecer e apoiar a carreira de um atleta, agregar valor, alcance e pulverizar sua imagem para outros canais.

Diferente da época do grande Diamente Negro, o Leônidas, hoje boa parte das pessoas envolvidas com a indústria esportiva tem acesso a ferramentas, aplicativos, tecnologias e outros recursos que podem ser utilizados para desenvolver e engajar audiências, construir novos modelos de negócios sustentáveis e até conquistar o coraçãozinho das marcas.

Um atleta é um coração pulsando dentro de uma comunidade. Todo bairro tem orgulho de um jovem que desponta no mundo do esporte. A sensação é de uma vitória compartilhada. Um sonoro “nós conseguimos” ecoa de cada olhar orgulhoso.

Todo atleta é uma marca, por mais recente e embrionária que seja a sua carreira. Toda árvore frutífera, vistosa e frondosa um dia já foi semente.

*Mia Lopes é jornalista, fundadora do Afro Esporte um laboratório de conteúdo sobre atletas negros, empreendedora apaixonada por esporte e vida saudável e produtora de conteúdo no @mialopesmia

 

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