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Tempos alternativos na política

Coluna semanal do analista Márcio de Freitas comenta os temas mais debatidos entre os poderes em Brasília

João Doria (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)

João Doria (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 19h01.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h38.

O governador João Doria decidiu ajudar o presidente Jair Bolsonaro a ficar ainda mais robusto para a disputa de 2022. Mexeu num vespeiro que estava quieto e dividiu ainda mais o PSDB. Verdade que o partido não se une de fato desde que desceu a rampa do Palácio do Planalto com Fernando Henrique Cardoso. Mas ele produziu um movimento organizado para lançar uma candidatura tucana alternativa, com parlamentares indo ao Rio Grande do Sul pedir ao governador Eduardo Leite para começar a rodar o país e se projetar nacionalmente.

Não existe vacina contra a ansiedade. E a política exige entender o tempo de movimento e quais são as ações corretas a serem feitas. Doria demonstrou ansiedade, tentou retomar discussão que havia perdido no passado, quando tentou expulsar o deputado Aécio Neves, e acabou perdendo novamente. Ganhou um novo adversário interno aos seus planos e ambições.

O cenário do centro político já estava fragilizado. Lembremos: nas eleições municipais, os partidos que mais perderam foram MDB, PSDB e, à esquerda, PT. Quem cresceu estava bem próximo às tetas do governo federal. Mamou e continua mamando. E vai continuar a chorar, porque o tal Centrão não brinca em serviço.

O Centrão ganhou a Presidência da Câmara jogando o DEM numa frigideira da qual o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) pulou para cair no fogo. Deixou a legenda após seus correligionários refutarem sua liderança e agora estuda alternativas políticas. Tem convites inclusive de Dória para entrar no PSDB, onde o ambiente se mostra tão calmo quanto a fronteira entre Israel e Palestina.

Falta cerca de um ano e meio para as eleições do próximo ano. Bolsonaro vai em voo solo, céu de brigadeiro. Mas é bom tomar cuidado com a economia, e como será produzido um novo auxílio emergencial - já admitido até pelos transponhas do Palácio do Planalto. Depois da vitória no Parlamento, o governo agora vê a vida como ela é na negociação política. A pauta do governo deve caminhar, mas é preciso organizar o processo. O que vem primeiro: o auxílio ou o ajuste? O Ministério da Economia queria o ajuste. O Congresso está impondo o auxílio.

O Congresso já mandou recados ao governo. Seja pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), seja por Arthur Lira (PP-AL): aceitam dialogar mas querem ver o governo assumir a paternidade da matéria sobre contrapartidas e a responsabilidade de diminuir valores pagos no ano passado, pois há falta de dinheiro para o mesmo volume de 2020. Se demorar muito, deputados e senadores vão se mexer e lançar alternativa aos projetos do Ministério da Economia.

Nem sempre o que o Congresso pensa é o que o governo quer, mas a síntese é o possível da política. No vazio, é sempre o improviso que determina a resultante final no processo democrático. E o que a democracia produz não é o que o tal mercado gosta de fato. Taí a China para mostrar que o comunismo de mercado se tornou uma alternativa amplamente aceita pelos empresários de todo o mundo. Desde que dê lucro.

Comitê de imprensa

Há um conflito ético e moral na cobrança dos jornalistas de Brasília contra a transferência do Comitê de Imprensa para outro local, definição do novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Sem entrar no mérito da decisão de Lira, jornalistas ocupam há décadas o espaço público sem pagar nada pela área, gerando tarefas e custos para a instituição que são pagos pelo contribuinte: faxina, móveis, iluminação, telefonia, serviço de cópias, café e água - alguns geram horas de trabalho de funcionários contratados pelo Legislativo. Os jornalistas trabalham em empresas que buscam vender seus produtos ou vendem espaço para anúncios, com objetivo de lucrar.

Um dos serviços básicos prestados pelo jornalismo à sociedade é fiscalizar o poder público, denunciar desvios privados, apontar privilégios, relatar crimes e irregularidades. Quando jornalistas defendem um privilégio às custas de toda sociedade, erram num princípio básico. Perdem legitimidade para cobrar e exercer suas funções com ampla liberdade, simplesmente porque há uma tradição, um costume ou concessão arraigada pela tradição ou pelo uso abusivo durante anos. O cachimbo entortou a boca. Quando os lábios deformados são do jornalista, fica ainda mais destacado na imagem projetada para os consumidores de notícia. Cobrar coerência dos outros é fácil, ser coerente é um pouco mais difícil.

Não é o fato de ter acesso privilegiado ao Plenário da Câmara que produz furos ou reportagens importantes e transformadoras. A discussão pode ser outra. Exemplo: acesso a documentos e a decisões de agentes públicos são cada vez mais fechados, atrapalhando a atividade de fiscalização. E, quando essa blindagem se instalou, não houve um grande movimento da classe, apenas manifestações de alguns veículos com silêncio da imensa maioria dos colegas - exceções sempre há, sem serem regra.

Talvez esteja na hora de os profissionais se levantarem da cadeira e correrem atrás de outras causas mais nobres, até porque os ataques de diversos atores sociais aos jornalistas têm alcançado uma acolhida grande na sociedade. Basta lembrar que, em certas manifestações populares da história recente, jornalistas de alguns veículos não puderam ficar próximos das pessoas por temor de agressões físicas. Se foi uma reação ao jornalismo militante dos últimos anos, seja de direita, de esquerda ou de centro, é preciso estudo e pesquisa para responder. Mas tudo indica temperatura de febre ainda sem diagnóstico de uma causa compreendida pelos profissionais da área.

*Analista Político da FSB Comunicação

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