Stevin Zung: A longevidade e a necessidade do novo
Estima-se que nos próximos 30 anos o planeta atinja um número de quase 10 bilhões de pessoas
Bússola
Publicado em 18 de janeiro de 2023 às 18h00.
Última atualização em 24 de janeiro de 2023 às 19h59.
Por Stevin Zung*
Em 2022 alcançamos a marca de 8 bilhões de habitantes no mundo e estima-se que seremos 9,7 bilhões de pessoas até 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). No mesmo período, o número de brasileiros com mais de 60 anos subirá dos atuais 16% — ou 30 milhões de pessoas — para 30% da população, nos tornando o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas. De um país jovem, o Brasil se transformará em um país longevo, sem ter se preparado adequadamente para o “bem envelhecer”, em termos coletivos e individuais, como ocorreu em países europeus.
Esse cenário reforça a necessidade de repensar o futuro e promover transformações estruturais na forma como concebemos a saúde e a longevidade em cada fase da vida. Essas mudanças — inclusive culturais — dependem de um esforço dos diferentes protagonistas — pacientes, profissionais de saúde, empresas e responsáveis pelas políticas públicas — para criar as condições adequadas para um processo de envelhecimento mais saudável e sustentável.
Estamos vivendo a “Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030”, instituída em dezembro de 2020, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Quatro eixos devem ser colocados em prática para construirmos uma sociedade para todas as idades: mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação ao envelhecimento; garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas; entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde centrados e adequados; e propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas que necessitem.
É fundamental ressignificar o processo de amadurecimento do ser humano e pensar nas futuras gerações e em suas necessidades. A medicina investe em estudos e pesquisas para aprofundar nosso conhecimento sobre as necessidades dos “maduros”, o processo de envelhecimento, os avanços na tecnologia e a relevância das relações sociais.
Profissionais de saúde de diversas áreas querem entender como a longevidade é endereçada (ou não) na prática clínica dentro dos consultórios. Também é preciso entender o papel da nutrição para a prevenção de doenças, do exercício físico para a manutenção da mobilidade; da saúde mental, neuroplasticidade e reserva cognitiva na maturidade; a ressignificação do trabalho a partir do empreendedorismo; da sexualidade; além da importância da cultura e da inclusão nessa fase da vida.
Longevidade
É preciso um novo olhar sobre a longevidade, abordando o tema da maturidade a partir de três perspectivas: prevenção, envelhecimento saudável e qualidade de vida. Ter saúde e viver bem vai além da ausência de doenças: é estar em harmonia com o ambiente, consigo mesmo e com os outros, se sentir pertencente e útil à sociedade, ter uma vida ativa, digna e se possível, próspera. É saber lidar com as doenças e comorbidades que impactam o processo de envelhecimento saudável. Dessa forma, a longevidade faz mais sentido: quando conseguimos ter autonomia, escolha e acrescentar anos com mais vida e saúde à nossa biografia.
Envelhecer é um processo natural fisiológico, individual e que tem a genética respondendo por 25% a 30% de nossa capacidade de amadurecer com saúde. O restante é resultado das escolhas que fazemos, do ambiente em que vivemos e da estrutura de saúde e das políticas públicas que temos à nossa disposição. No entanto, para ser uma pessoa longeva é preciso primeiro ter flexibilidade no pensar, capacidade de reavaliar nossas ações e escolher caminhos com mais saudabilidade.
Somente assim conseguiremos viver a vida em intensidade, respeitando os limites e interesses individuais. O novo está dentro de cada um de nós e viver — como envelhecer — é um contínuo processo de desconstrução, construção e aprendizado.
*Stevin Zung é diretor médico-científico do Aché Laboratórios
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