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Startups e os novos negócios: chegamos ao fim de um ciclo?

Consequências da pandemia obrigaram as startups a se tornarem mais eficientes e a buscar o break even com mais rapidez

O momento é crítico, com risco de continuidade no processo de inovação (Maskot/Getty Images)

O momento é crítico, com risco de continuidade no processo de inovação (Maskot/Getty Images)

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Publicado em 10 de junho de 2022 às 19h50.

Última atualização em 10 de junho de 2022 às 20h09.

Por Márcio Alencar*

O universo das startups nunca mais foi o mesmo após o estouro da “bolha imobiliária americana”, como ficou conhecida a crise do subprime de 2008. Esse marco da economia internacional ampliou o olhar dos grandes investidores institucionais e dos grandes fundos de investimento para outras regiões do mundo e em empresas e negócios dedicados a resolver parte dos problemas das organizações tradicionais. Assim surge o conceito de decoupling — ou desassociação.

A fim de exemplificar esse conceito, tomemos a jornada de clientes, em que o trabalho de aprofundamento dessa experiência costumava ser pouco explorado — tanto B2B como B2C. Com a chegada desse farto recurso financeiro, os produtos que antes eram criados de dentro para fora passaram a ser desenvolvidos ou aprimorados pelas startups, como foi o caso do Nubank.

Nesse contexto, o conceito de decoupling implica pegar o pedaço da jornada de um negócio já existente e desenvolvê-lo com qualidade, profundidade e com mais atenção ao cliente.

Espaços vazios das grandes empresas

Outro fato significativo foi o ciclo de taxa de juro abaixo de 2% ao ano no mercado de capitais das economias mais maduras, nos últimos sete anos, que estimulou a aceleração de aportes de fundos de capital de risco — ou venture capital — em projetos promissores. Muitas startups surfaram essa onda de disrupção, de decoupling e de maior liquidez.

A jornada de um novo negócio passou, então, a unir o capital financeiro e intelectual somados à gestão do risco das duas visões: de quem executa e de quem empreende. E assim, assistimos a muitos executivos deixarem empresas consolidadas para empreenderem em ideias inovadoras. Eu fui um deles.

Após mais de 15 anos atuando em grandes bancos, tomei a decisão de empreender no desenvolvimento de uma ideia e cocriei a Zolkin — basicamente uma carteira digital de descontos e vantagens, ligando lojistas aos usuários (pessoas físicas), a partir de um fundo de investimento familiar.

Minha experiência me mostrou que a chance de acerto é pequena frente aos desafios, seja para escalar o negócio, fazer boas alianças ou atrair investidores com paciência e apetite ao risco, mas, sobretudo, com capacidade financeira para seguir investindo.

Talvez o caso da Amazon seja o mais emblemático do mundo para ilustrar o aporte de capital feito durante mais de 15 anos, até aparecem os primeiros resultados.

Movimento open innovation das empresas

Nessa cronologia, o mercado mundial abriu espaço e oportunidades para os empreendedores investirem em projetos que antes só os grandes grupos podiam fazer. Isso trouxe um choque para as organizações tradicionais, com governança rígida e padrões bastante estabelecidos, mas que, por fim, entenderam a necessidade de quebrar o elo do modelo clássico de negócio e passaram a incorporar o open innovation — que corresponde em trazer a inovação de fora para dentro.

Assim, nos anos de 2015 e 2016, surgiram os centros de inovação compartilhados, como é o caso do Cubo, do Itaú, ou o Inovabra, do Bradesco, com objetivo de atraírem startups e empreendedores com visões e práticas ágeis bem estruturadas para acelerar o desenvolvimento de soluções que as organizações levariam anos para construir.

As startups passaram a servi-las, marcando um período potente no desenvolvimento de soluções disruptivas e de um boom de aquisições de startups e de novos negócios pelo país, nos mais diversos setores, pelas principais organizações.

Criou-se aí o conceito de corporate venture capital, que consiste em unidades de negócios atuando como gestoras de risco para empreendimentos novos dentro das próprias empresas. Esse momento marca minha volta para o mundo corporativo, só que desta vez como parte do ecossistema de uma organização e com uma visão ainda mais encorajada para empreender.

Há mais de oito anos na Alelo, já ajudei a fundar algumas ideias inovadoras e criar um time de empreendedores corporativos, conectado a um investidor para desenvolver uma parceria de negócio. Estamos numa jornada muito acelerada no que tange a ideias disruptivas, como é o caso da iniciativa da Eats for You.

Visão de futuro

Depois dessa onda de muita criação de valor e de expectativa, esse boom de novos negócios começou a sofrer uma reversão — seja na visão de decoupling, solução, open innovation ou corporate venture capital.

Durante a pandemia, ocorreram ciclos muito alongados de quebra de cadeias produtivas, e com isso veio uma forte inflação mundial de preços. Os fundos de investimento de risco passaram a buscar novas fontes de rentabilização de seu capital e a retornar para os papéis públicos dos países. O menor apetite de risco reduziu a liquidez, obrigando as startups a se tornarem mais eficientes e buscar com mais rapidez break even, uma vez que elas não possuem tanto capital.

Considero este momento bastante crítico, pois apresenta uma dinâmica tanto de risco de continuidade como também de fim de iniciativas inovadoras. Afinal, a natureza não dá salto, há um processo para os projetos acontecerem. Como deverá evoluir essa nova conjuntura da economia global, associada a demanda por inovação nas empresas estabelecidas e a clientes ávidos por produtos mais conectados com suas necessidades?

*Márcio Alencar é diretor de estratégia digital, marketing e negócios da Alelo

 

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