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Saiba por que os jovens fogem da carreira docente

Estudo do Instituto Península traz insights do mercado de trabalho do professor e fala da importância do planejamento da oferta e demanda de profissionais

Com estereótipos e senso comum, a docência ainda é pouco atrativa para os jovens. (Bússola/Reprodução)

Com estereótipos e senso comum, a docência ainda é pouco atrativa para os jovens. (Bússola/Reprodução)

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Publicado em 12 de janeiro de 2022 às 11h00.

Para melhor retratar o cenário atual da profissão de professor no Brasil e atrair jovens para a carreira, o Instituto Península — organização que busca a melhoria da qualidade da Educação brasileira e que acredita que o principal agente da transformação é o professor — acaba de lançar o documento Planejamento da Força de Trabalho Docente. O lançamento sistematiza o resultado de três estudos inéditos do Instituto, sendo que um deles foi realizado em parceria com pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Além de analisar a organização da oferta e demanda de professores da Educação Básica no Brasil, o documento revela que a carreira docente ainda é pouco atrativa para os jovens. Especialmente, por estereótipos de “professor herói” — que precisa "salvar a Educação” sozinho, sem ajuda — e de que a profissão é sofrida. Entre diversos achados, o estudo ainda aponta a urgência em se pensar em um Sistema Nacional de Educação integrado para melhor planejar a oferta e demanda de professores nacionalmente, coordenando esferas federal, estaduais e municipais.

“Não basta apenas formar mais professores; é preciso planejar a distribuição deles no mercado de trabalho. Isso significa pensar, verdadeiramente, em quem escolhe entrar na carreira docente, bem como na sua formação continuada, porque esses fatores essenciais impactam o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. Além disso, reter e alocar corretamente esses profissionais é muito importante — e, para isso, a profissão precisa ser competitiva frente a outras”, diz Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península.

Vale destacar que, dentro do setor público, o professor é a categoria mais numerosa, com 22% do total de vínculos empregatícios. Isso não significa, porém, que a demanda por educadores está sendo suprida adequadamente. Embora seja uma lógica complexa, diferentes áreas do governo podem e devem contribuir nos esforços de equilíbrio da oferta e demanda de professores nas redes de educação.

Cenário atual

Na última década, o estudo identificou uma melhora no número de professores disponíveis para atender aos alunos. Mesmo com essa boa notícia, a demanda das redes por educadores pode ser feita de maneira mais estratégica: em primeiro lugar, avaliando o número necessário de professores e, na sequência, pensando em alocar professores adequadamente para as disciplinas, de acordo com a sua formação.

O estudo encontrou também desafios de adequação da formação para a disciplina que o professor leciona, o que significa que ele dá aulas em mais de uma disciplina em todas as etapas de ensino. “Um professor formado em Física, por exemplo, acaba dando aulas de Matemática, pois é uma disciplina de Exatas”, declara Heloisa. As áreas de conhecimento com mais dificuldades de adequação dos docentes são: Química, Sociologia, Educação Física, Artes e Filosofia. Ao olharmos para as regiões, Sudeste e Sul possuem melhor adequação do que as regiões Norte e Nordeste.

Uma das conclusões do estudo é que pode faltar professor qualificado no Brasil - ou seja, adequado à disciplina que leciona. “Portanto, é urgente criar espaços de discussão e planejamento da força de trabalho docente para definir acordos para atrair mais jovens para a carreira e para reter profissionais. Sem esquecer, é claro, do desenvolvimento profissional contínuo deste professor”, diz.

Senso comum

Quando o assunto é atratividade da carreira, o estudo identificou que a escolha dos jovens pela profissão é baseada em estereótipos e senso comum sobre a prática profissional.

“O professor é sempre envolto em uma narrativa de heroísmo e sofrimento, que não representa a realidade da profissão. O professor não está sozinho para ensinar os alunos e ele também não pode ser encarado como herói ou vilão. O momento é propício para melhor informar o jovem sobre a prática profissional do professor, suas competências necessárias, o mercado e as condições de trabalho, entre outros fatores que podem influenciar sua escolha. Especialmente, depois da profissão ter ganhado tanta visibilidade durante a pandemia e ter sido mais valorizada pelas famílias com crianças e adolescentes em idade escolar”, diz Heloisa.

Outro achado foi que há uma percepção dos jovens de que ser professor no Brasil não dá retorno financeiro. No entanto, a renda familiar dos jovens que participaram da pesquisa de Atratividade é de cerca de R$ 3 mil, enquanto o piso salarial de um professor em início de carreira é de cerca de R$ 2.800 — ou seja, praticamente a renda de toda a família. O lugar onde os jovens moram também pode influenciar a escolha da profissão, dada a realidade da carreira em cada região: jovens do Ceará, por exemplo, têm maior predisposição para escolher a docência (15%) em contraste com os do Espírito Santo (0%).

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