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Ressignificando a Independência do Brasil

A saída passa por uma mudança nos sistemas econômico e produtivo, tendo a educação como condição fundamental de apoio

O desempenho do Brasil de hoje indica necessidade de mudança (Cristiano Mariz/VEJA)

O desempenho do Brasil de hoje indica necessidade de mudança (Cristiano Mariz/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 13 de maio de 2021 às 16h44.

Última atualização em 13 de maio de 2021 às 17h35.

Por Antonio Batista da Silva Junior

Passados quase 200 anos da Independência, como está o Brasil? Apesar de grande evolução, a avaliação do nosso desempenho nos campos econômico, social e ambiental não é positiva. No campo econômico, depois de um crescimento vigoroso, comparado com outras nações, há quatro décadas temos um desempenho errático, com uma produtividade estagnada.

Em duas décadas, de 1981-1990 e de 2011-2020, tivemos queda na renda per capita. O país encontra-se atavicamente preso na armadilha da renda média, caracterizada pelo Banco Mundial como uma renda entre 1.000 e 12.000 dólares e dela não conseguimos sair. Os países que conseguiram superar esse patamar modificaram sua estrutura econômica para produzir bens e serviços de maior valor agregado, que competem globalmente.

Suas cadeias produtivas mais sofisticadas geram empregos bem remunerados, consolidam um capital humano cuja base está em investimentos em educação básica e profissional. Essa sofisticação é consequência também de investimentos acumulados em ciência e tecnologia.

No campo social, continuamos a ser uma sociedade absurdamente desigual, com alta concentração de renda. Avançamos institucionalmente, mas construímos instituições extrativistas, cujos resultados concretos são uma concentração ainda maior de riquezas e benefícios públicos nos níveis sociais mais abastados. No campo ambiental, onde havíamos progredido, vemos um desastre se concretizando dia após dia. Os indicadores de preservação ambiental pioram visivelmente, ameaçando nosso futuro e com resultados negativos para a imagem do país.

Um desempenho assim indica a necessidade de mudança. Mas em que direção? Nossa percepção é a de que falta ao país uma aspiração. Se olharmos para a segunda metade do século 20, havia no Brasil uma aspiração desenvolvimentista. É certo que havia também visões conflitantes sobre o que era mais importante no desenvolvimento, mas este era um desejo compartilhado pela sociedade.

Hoje parece faltar qualquer convergência sobre que país queremos. Sem isto, todas as discussões parecem focar o curto prazo, nos problemas imediatos. Em consequência, tudo o que demanda fazer escolhas agora para colher resultados no futuro é deixado para depois.

É nesse contexto que lideranças empresariais e sociais que compõem o Conselho Curador da Fundação Dom Cabral nos estimularam a empreender uma ação que possa inspirar e mobilizar a sociedade brasileira para debates, escolhas e ações que apontem para uma nova aspiração para o país. Queremos, juntos, Ressignificar a Independência do Brasil, que em abril de 2022 completa 200 anos.

Uma iniciativa plural e colaborativa que considere os aprendizados com o nosso passado, mas que, fundamentalmente, tenha a atenção voltada para o futuro.

Há hoje a necessidade e a oportunidade para construirmos convergências em torno de compromissos com o bem-estar de todos, por meio do desenvolvimento sustentado, sustentável e inclusivo. As tendências globais nos mostram os contornos dessa construção.

Na área da tecnologia, a utilização da revolução digital para transformar a estrutura produtiva, das empresas e do trabalho; no âmbito social, a execução de políticas e ações inclusivas, visando à redução das desigualdades, o acesso às oportunidades e o bem-estar de todos; e na esfera do meio ambiente, buscar a regeneração ambiental, tendo o equilíbrio como base do desenvolvimento sustentável e inclusivo.

Partimos do princípio de que é preciso aumentar o envolvimento do segundo e terceiro setores nesse processo. A lógica dominante de que grandes problemas sociais, econômicos e ambientais são de responsabilidade apenas do Estado tem se mostrado ineficaz no Brasil. Mas não propomos uma lógica inversa de Estado mínimo. Acreditamos em princípios de governança colaborativa em que, com bons mecanismos de regulação, os três setores podem colaborar na priorização e na implementação de políticas públicas.

A saída da armadilha da renda média será consequência de uma mudança nos nossos sistemas econômico e produtivo. Um somatório de vantagens comparativas do Brasil com investimentos em educação, ciência e tecnologia. A educação é condição fundamental, mas não suficiente. É necessário incorporar processos produtivos que utilizem as competências desenvolvidas na educação.

Valorizando a pluralidade de perspectivas e do enorme manancial de competências, conhecimentos, ideias e talentos acumulado na sociedade, a Fundação Dom Cabral, se propõe a trabalhar em conjunto com outras instituições e lideranças visando, por meio de diálogos, estudos, debates e ações, encontrar convergências que possam revigorar os valores de liberdade e justiça, que tornaram a independência possível duzentos anos atrás e que sejam contemporâneas dos avanços humanos das últimas décadas.

Aspirações que reflitam o sonho de Nação, livre, democrática, comprometida com a diversidade e com a paz e que sejam consentâneas com os desafios do nosso tempo.

*Antonio Batista da Silva Junior é presidente executivo da FDC, doutor em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e graduado em administração pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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