“Quando participo de feiras, sou a única mulher na parte de bebidas”, diz diretora da Stock Brasil
Valéria Cristina Natal fala sobre a expectativa de crescimento de 20% das vendas da empresa para o exterior e como enfrenta os desafios de ser uma líder mulher comandando o processo de internacionalização no mercado de bebidas destiladas
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Publicado em 26 de setembro de 2023 às 16h30.
Última atualização em 26 de setembro de 2023 às 16h53.
Em 2008, Valéria Cristina Natal aceitou o desafio de trabalhar na empresa que na época era comandada por seu pai, José Aparecido Natal, com a missão de implementar a área de exportação na Stock do Brasil, companhia dona de marcas famosas como Seagers Gin, Licores Stock e Xaropes Kaly.Nesses 15 anos, a executiva encontrou diversos obstáculos, um deles o de ser uma mulher na liderança de um mercado predominantemente masculino, como o de bebidas alcoólicas destiladas. Para driblar este cenário, Valéria buscou se aperfeiçoar para compreender as melhores práticas de internacionalização. O resultado foi a chegada de produtos da companhia em mais de dez países — com planos de chegar a mais cinconos próximos doisanos.
Há cinco anos na cadeira de diretora executiva da Stock, ela tem planos ambiciosos para aumentar as vendas no território nacional e alavancar as exportações. Até o final de 2023, a expectativa é de que a companhia atinja um acréscimo de 20% nas vendas para países asiáticos e do Oriente Médio. Outra intenção é conquistar novos compradores na China e nos Estados Unidos — para isso, Valéria aposta no e-commerce para aumentar os números da exportação.
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A experiência, a liderança e a visão de mercado da executiva foram bons aliados e a ajudaram a projetar sua imagem para o mundo dos negócios. A convite da ApexBrasil e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), ela se tornou também mentora no Programa “ Elas Exportam ”, que tem como propósito ampliar a participação feminina no comércio internacional.
Bússola: Como foi assumir uma empresa que está presente em um setor predominantemente masculino?
Valéria Natal: Tenho muito forte a “veia” comercial, o que facilita meu relacionamento com os compradores internacionais, porém, devo admitir que, dependendo do país onde estou, é preciso ter cuidado para dizer que produzo destilados, principalmente naqueles em que bebidas alcoólicas são proibidas.
Logicamente, o mercado de destilados encontra muitas dificuldades. O Brasil não é um player reconhecido — a não ser com a cachaça — e o regulatório para alcoólicos é muito complicado e restritivo no mundo todo. São muitos desafios, tanto por ser mulher quanto por empreender, mas nunca os encarei como empecilhos. E, talvez, por isso consegui driblar as dificuldades e conquistar mais espaço nos mercados interno e externo.
Em que momento você viu que seria oportuno expandir o mercado internacional da empresa? Como você se preparou para levar a Stock para o exterior?
O departamento de exportação não existia na empresa até 2008, então, eu tive de estruturar tudo do zero. Até 2016, vendíamos apenas para o mercado brasileiro. Não é fácil exportar. Um estudo do Ministério da Indústria e Comércio divulgado recentemente é de que a probabilidade de uma empresa começar a exportar em até dez anosé de 1%e,desse 1%, apenas 14% das empresas são geridas por mulheres . Mas ainda assim eu enxergava um potencial muito grande de conquistar o mercado internacional com os produtos desenvolvidos por nós.
Claro que foi necessário muita persistência e resiliência frente aos obstáculos; tive de revisitar vários setores internos da empresa; depois, comecei a entender como cada mercado funciona (hábitos de consumo, concorrência, cadeias de distribuição etc.). Foi fundamental também a minha participação em feiras e eventos internacionais. A partir disso, as oportunidades foram surgindo e conseguimos conquistar os primeiros clientes em outros países. Foram eles: Paraguai, Uruguai e Chile. Iniciamos as vendas para a América do Sul pela facilidade logística e cultural e, depois, expandimos para os EUA, China, Canadá, Portugal, Ilhas Mauricio, Portugal, Emirados Árabes e Arábia Saudita.
O que precisa ser feito para diminuir o preconceito e aumentar o número de mulheres em cargos de liderança?
É necessário ter pulso firme, não desistir diante dos obstáculos e, mais do que entender sobre mercado, é preciso aprender a driblar o preconceito que a sociedade impõe. Geralmente, quando participo de feiras, sou a única mulher na área de bebidas— isso me exige um pouco mais de desenvoltura, tem de ter uma forma mais cautelosa de chegar, mas acho que, por fim, acaba abrindo portas. Ainda há muito o que ser feito, mas, ao mesmo tempo, estamos caminhando para um futuro melhor com a existência de programas que enfatizam e incentivam a ampliação da presença feminina emcargos de liderançanas empresas, por exemplo.
No ano passado, o Sebrae e o IBGE indicaram que as mulheres representavam 34,4% do universo do empreendedorismo brasileiro. Encaro com muita felicidade esse movimento em todos os setores, pois me sinto estimulada também a continuar crescendo e ajudando a dar o impulso necessário para aquelas que querem entrar no mundo corporativo e serem líderes.
Do que você mais se orgulha nesses cinco anos como diretora executiva da Stock? E para os próximos dez anos, quais são as expectativas?
Firmar presença nos mercados externos e o reconhecimento internacional decorrente de diversos prêmios que muitos de nossos produtos ganharam em concursos de vários países são grandes feitos que me dão alegria e orgulho, principalmente, considerando que o brasileiro tem por cultura acreditar que os produtos alcoólicos importados são melhores que os nossos. Provamos que isso não é verdade! Por exemplo, o nosso licor de café ganhou o prêmio de Melhor Licor de Café do Mundo e é um produto genuinamente brasileiro, com café do Brasil. Isso mostra ao mundo a qualidade dos produtos nacionais e devemos nos orgulhar disso.
Além disso, a ampliação da nossa atuação nos canais digitais nacionais e internacionais, por exemplo, Amazon EUA, TaoBao e JD na China, certamente abrirá caminhos para novas e gratas conquistas. Para os próximos dez anos, tenho as melhores expectativas possíveis. Temos a ambição de aumentar nossos números. No mercado externo, queremos dobrar a quantidade de novos negócios e ampliar nossas vendas internacionais, enquanto, no Brasil, queremos ampliar nosso portfólio e nossas vendas internas.
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