Quadro melhora rapidamente, mas é preciso saber que pandemia não acabou
Brasil atingiu neste domingo a menor mortalidade por covid em cinco meses, mas protocolos sanitários ainda são imprescindíveis
Bússola
Publicado em 26 de julho de 2021 às 15h51.
Última atualização em 26 de julho de 2021 às 16h11.
Por Marcelo Tokarski*
Com o avanço da vacinação, que mesmo aos trancos e barrancos já chegou a quase 63% da população brasileira (45,1% com a primeira dose e 17,7% com as duas doses), a pandemia de covid-19 no Brasil atingiu neste domingo sua menor mortalidade em cinco meses. A média móvel de mortes chegou a 1.101 ao dia, o menor patamar desde 23 de fevereiro. Nos últimos 30 dias, a mortalidade recuou 39%.
Claro que as estatísticas trazem boas notícias, mas é importante ressaltar que, nesta prolongada e dolorosa segunda onda, é a primeira vez que a taxa diária média de óbitos fica ligeiramente abaixo da pior marca obtida durante a primeira onda. No período entre o fim de maio e o fim de agosto do ano passado, a taxa média de mortes girou ao redor de mil vidas perdidas por dia.
O recorde negativo foi registrado justamente em 25 de julho de 2020, quando a média móvel atingiu 1.102 por dia. Ou seja, a melhora é significativa, mas ainda estamos em um patamar semelhante ao pior momento da primeira onda, rodando na casa das cerca de 30 mil mortes mensais.
Hoje, o Brasil vai romper a barreira das 550 mil vidas perdidas para a covid-19. Até este domingo, foram registradas em todo o país 549.924 mortes provocadas pelo coronavírus. Seguimos como o segundo país do mundo com mais mortes em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos (com 626,7 mil). No ritmo atual, em três meses o Brasil passaria os EUA e se tornaria o país com mais mortes em toda a pandemia.
Variante Delta
A chegada de novas variantes no Brasil, incluindo a Delta, tem feito com que seja difícil prever o futuro da pandemia por aqui. A mortalidade segue caindo, mas o número de novos casos registrados tem oscilado bastante. Há um mês, atingimos o recorde de toda a pandemia, com média de 77.625 novos casos por dia. Até 22 de julho, a tendência era de forte queda, com redução de 52% na média móvel de casos.
No entanto, nos últimos quatro dias essa média voltou a subir, tendo atingido neste domingo 44.584 novos casos ao dia, um aumento de 20% em apenas quatro dias. Ainda é cedo para afirmar se o repique se deve à contabilização de diagnósticos represados ou se ele pode ser efeito das novas variantes, mais contagiosas.
O fato é que, quanto mais pessoas vacinadas tivermos, menores as chances de, mesmo com as novas variantes, o número de mortes e casos graves crescerem. Em todo mundo, estudos têm mostrado que as vacinas, se nem sempre são suficientes para evitar a contaminação, conseguem reduzir a gravidade dos sintomas e, por consequência, a necessidade de internação.
Outro reflexo disso se dá na ocupação de leitos de UTI. De acordo com levantamento divulgado na sexta-feira pela Fiocruz, apenas o Estado de Goiás (85%) tem hoje uma taxa de ocupação considerada crítica, acima de 80%. Dez estados têm baixa ocupação (menor que 60%) e 16 unidades da Federação apresentam taxa média (entre 60% e 80%), entre eles a região sul, quase toda a norte e a sudeste (à exceção do Espírito Santo, que com 54% tem um dos menores índices de ocupação do país).
O quadro hoje é muito melhor, mas ainda há milhões de pessoas vulneráveis ao coronavírus. De cada 4 pessoas que já se vacinaram, 3 só tomaram a primeira dose, o que não garante proteção mais significativa. Em seu último boletim epidemiológico, a Fiocruz alertou que as medidas de contenção da pandemia só poderiam ser flexibilizadas com os números sob controle e com a meta de vacinação de cerca de 80% da população elegível com o esquema vacinal completo esteja. Ainda estamos longe disso.
“Se a reabertura/flexibilização ocorrer sem que esses dois critérios estejam atendidos, o país estará diante do risco de disseminação exponencial do vírus, aumento do número de casos e de internações hospitalares, com elevação do número de óbitos. No Brasil, apesar do nível crítico dos indicadores da pandemia estar arrefecendo, a transmissão ainda é alta, assim como o número de casos e óbitos”, afirmou a entidade.
O alerta dos epidemiologistas pode ser traduzido em uma frase: a pandemia perdeu força e o quadro melhorou significativamente nas últimas semanas, mas a pandemia ainda não acabou. Os protocolos sanitários, principalmente o uso de máscaras e o distanciamento social, ainda são imprescindíveis para que o quadro continue melhorando.
*Marcelo Tokarskié sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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