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Por que 80% das empresas fracassam ao construir culturas de bem-estar

Especialista em felicidade corporativa alerta para o custo global de US$ 8,8 trilhões do baixo engajamento e aponta caminhos para transformação estrutural

As empresas prosperarão ao integrar a tecnologia para garantir a sustentabilidade humana (Freepik/Freepik)

As empresas prosperarão ao integrar a tecnologia para garantir a sustentabilidade humana (Freepik/Freepik)

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Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 07h00.

O debate sobre a redução da jornada 6x1 expõe uma questão mais profunda no mercado de trabalho brasileiro: a incapacidade das organizações de traduzir consciência em mudança real

Enquanto 80% das empresas reconhecem a importância de uma cultura de bem-estar, apenas 19% efetivamente constroem esse ambiente – segundo pesquisa do professor Jan-Emmanuel De Neve, de Oxford.

O resultado desse descompasso aparece nos números: 

  • Apenas 21% dos trabalhadores globalmente se sentem engajados
  • O prejuízo à economia mundial é estimado em US$ 8,8 trilhões – Gallup.

"Vivemos uma pseudoprodutividade: estamos muito ocupados, mas nem sempre trabalhando muito bem", analisa Renata Rivetti, CEO da Reconnect Happiness at Work e especialista em ciência da felicidade.

Para a executiva, o problema não está na falta de diagnóstico – as empresas já sentem na pele o custo do turnover elevado, das licenças médicas e do absenteísmo. O desafio é atuar na causa raiz. 

"Não se trata de oferecer programas pontuais de bem-estar, mas de construir culturas genuínas que transformem estruturalmente o ambiente de trabalho", diz.

Duas possíveis soluções que exigem atenção imediata: IA e flexibilidade 

A primeira é a aceleração tecnológica impulsionada pela inteligência artificial generativa. Segundo a McKinsey, até 2030 apenas um terço das atividades será executado exclusivamente por pessoas – atualmente, 47% das atividades são realizadas por pessoas.

"A tecnologia pode reduzir o operacional e o repetitivo, permitindo que possamos focar no criativo e nas habilidades mais humanas", pontua Rivetti. 

O Fórum Econômico Mundial corrobora: 44% das habilidades dos trabalhadores sofrerão mudanças até 2030, sendo que as cinco competências mais demandadas já são humanas – pensamento analítico, influência social, adaptabilidade, resiliência e pensamento criativo.

A segunda transformação diz respeito à flexibilidade – não apenas de local ou horário, mas de modelos de trabalho

Tendências como a semana de quatro dias e escalas revisadas em setores tradicionalmente rígidos (hotelaria, turismo, comércio) ganham força, especialmente com a discussão recente sobre o fim da jornada 6x1.

Os quatro desafios do profissional do futuro

Rivetti identifica quatro obstáculos centrais que os profissionais enfrentarão nos próximos anos:

1. Sobrecarga cognitiva: 

O neurocientista Ian McGilchrist estima que, até 2050, o volume de conhecimento que levava 100 anos para ser assimilado será processado em apenas 5 anos.

2. Lifelong learning: 

A necessidade de aprendizado contínuo, com tendências como o microlearning ganhando espaço nas organizações.

3. Busca por sentido: 

58% dos jovens sentem que não têm propósito na vida, segundo a Harvard Graduate School of Education.

4. Epidemia da solidão: 

19% dos jovens se sentem sozinhos no mundo, conforme o World Happiness Report.

"A palavra-chave para superar tudo isso é intencionalidade. Não adianta esperar o mundo perfeito. É preciso intenção, estudo, descanso e cultivo das relações sociais", orienta a especialista.

Como as empresas devem agir agora?

As organizações não podem mais adotar uma postura reativa. Rivetti recomenda que testem modelos mais flexíveis e híbridos, mas alerta: 

"Precisam desenhar muito mais do que programas de bem-estar, e sim uma cultura que traga segurança psicológica, pertencimento, inclusão, espaço para escuta ativa e colaboração". Dois desafios são prioritários:

1. Microlearning e capacitação técnica: 

Criar uma cultura genuína de aprendizado contínuo, com formatos ágeis e aplicáveis.

2. Redução da complexidade operacional: 

Revisar processos burocráticos, excesso de reuniões, falhas de comunicação e estruturas que drenam energia dos colaboradores.

"As empresas prosperarão ao integrar a tecnologia para garantir a sustentabilidade humana, tendo como diferencial o pensamento crítico, analítico e criativo. Precisamos trazer o diferencial do ser humano", conclui Renata Rivetti.

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