Campo Mata de São João, na Bahia: plataformas onshore (“em terra”) são responsáveis por 6% da produção total de petróleo e gás natural no Brasil (ABPIP/Divulgação)
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Publicado em 13 de fevereiro de 2023 às 08h00.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2023 às 09h08.
Uma das maiores reservas de petróleo do mundo se encontra no fundo dos oceanos brasileiros. O que muita gente não sabe é que o país tem enormes oportunidades nessa área também em terra firme. Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o mercado onshore é responsável por 6% da produção total de petróleo e gás natural no Brasil. Outro dado que fala por si: entre 2016 e 2022, as operadoras independentes foram responsáveis pelo aumento de cerca de 30% da produção em terra.
“Além de impulsionar a retomada dos investimentos no onshore brasileiro, as produtoras independentes estão ajudando a transformar a realidade econômica e social das regiões nas quais elas atuam”, diz Anabal Santos, secretário executivo da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP). “Essas companhias se transformam no principal motor de desenvolvimento local, seja com empregos diretos ou indiretos”.
De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cada emprego gerado nesse setor dá origem a nove indiretos ou até 36 no total, se considerarmos os empregos efeito-renda.
Não à toa, municípios como Macaé, no Rio de Janeiro, e Mossoró, no Rio Grande do Norte –conhecidos pela exploração e produção de petróleo e gás – ocupam boas posições nos rankings de pleno emprego e de empreendedorismo.
Os contratos para E&P, via de regra, são constituídos por duas fases: exploração e produção. A fase de exploração precede a fase de produção e tem por objetivo descobrir e avaliar jazidas de petróleo e/ou gás natural.
O contrato estabelece um prazo, usualmente dividido em períodos exploratórios, durante o qual o concessionário ou contratado deve desenvolver atividades exploratórias de geologia e geofísica, visando ao maior conhecimento sobre os blocos adquiridos. Também é nessa fase que o concessionário ou contratado realiza as avaliações de descobertas e, caso conclua por sua viabilidade econômica, declara a comercialidade das áreas.
Já a fase de produção é dividida em duas etapas: de desenvolvimento e produção. A primeira significa a implantação de toda a infraestrutura necessária à efetiva produção do campo. Na segunda, já com a infraestrutura instalada, o campo passa a produzir os insumos para abastecer o mercado. Esta etapa é a mais longa de todo o ciclo de vida de um campo de petróleo, podendo se estender por décadas a depender da capacidade produtiva do campo.
Atualmente, as empresas do gênero, como PetroReconcavo, 3R, Eneva, Seacrest e Origem, operam em 179 campos. E obtiveram um crescimento considerável nos últimos anos em razão da compra de ativos da Petrobras.
Tudo começou com o plano de desinvestimento da petroleira iniciado em 2015, no governo de Dilma Rousseff. Graças a ele, a produção em bacias terrestres, que entrou em declínio a partir de 2012, voltou a crescer, e muito – agora com novos players.
Para ter uma ideia, as “junior oils”, como as companhias independentes do setor são conhecidas, geram cerca de 315 mil empregos totais, além de capacitar parte considerável desses profissionais. Em 2022, essas empresas pagaram cerca de R$ 1 bilhão em royalties para os municípios nos quais atuam, contribuindo decisivamente para o progresso econômico e social de inúmeras regiões do país, muitas delas esquecidas pelo poder público.
E pelas contas da ABPIP, o total de óleo e gás produzido atualmente pelas operadoras independentes equivale a 150 mil barris por dia. A associação enxerga, no entanto, que há potencial para ampliar a produção para 500 mil até 2029.
Até essa data, a entidade estima que as companhias associadas deverão investir R$ 40 bilhões para aumentar a produção, maximizar o fator de recuperação e ampliar a vida útil dos campos terrestres.
A consultoria Wood Mackenzie tem previsões ainda mais otimistas, com estimativas de que as operadoras independentes deverão investir US$ 10 bilhões (ou R$ 51 bilhões) em projetos já vendidos pela Petrobras. E prevê que a produção das companhias do setor onshore deverá saltar para 485 mil barris por dia em cinco anos. “As perspectivas são todas favoráveis”, afirma o secretário executivo da ABPIP. “Essas empresas estão criando um ambiente de negócios mais diversificado e competitivo, e deixando o mercado mais aberto”.
Convém lembrar que nas três primeiras rodadas da Oferta Permanente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), 109 blocos exploratórios e 13 áreas com acumulações marginais foram arrematados por companhias independentes.
Mais: essas empresas têm sido fundamentais para ampliar a oferta de gás. Os estados do Nordeste, em muitos casos, registraram aumento de competitividade industrial por meio de contratos mais atrativos com as distribuidoras locais. E o Rio Grande do Norte não deixa mentir. Desde o início de 2022, o estado dispõe do gás natural mais barato do país – é produzido, obviamente, por operadores independentes.
“Junior oils”: ESG na prática
Além de contribuir com a economia das regiões em que atuam, as pequenas e médias empresas estão engajadas em projetos que visam acelerar o desenvolvimento local. A PetroReconcavo, por exemplo, mantém o Ciranda Viva Recôncavo, na Bahia, e o Viva Sabiá, no Rio Grande do Norte.
O primeiro projeto promove ações em prol da educação ambiental, da segurança alimentar, da leitura e do esporte. O segundo projeto visa preservar recursos naturais e ampliar o acesso à água potável, o que está sendo feito com a implementação de um engenhoso sistema de purificação que se vale da radiação solar. Essa iniciativa foi ampliada por meio de uma parceria com a Fundação Banco do Brasil, em dezembro de 2022.
Já a Origem Energia, que atua na Bahia, Alagoas, Espírito Santo e Rio Grande do Norte, criou o Projeto Ser+. O programa oferece educação empreendedora nas regiões onde a empresa marca presença, além de realizar a gestão de resíduos com cooperativas locais de reciclagem.
A 3R Petroleum, por sua vez, está à frente de iniciativas que combatem a fome no Rio de Janeiro, na Bahia e no Rio Grande do Norte, além de ter firmado parcerias com o Instituto da Criança e com a ONG Júnior Achievement.
A Seacrest, atuante no Espírito Santo, apoia entidades comunitárias locais e ações em prol da educação e do esporte. E a Eneva investiu mais de R$ 4 milhões em projetos sociais e ambientais que visam estimular a agricultura familiar, a educação e a redução do analfabetismo.
Como se vê, o impacto positivo gerado por todas as empresas ligadas ao setor está apenas começando.